Anticorpo conjugado em câncer de pulmão

RIM_CAPA_NET_OK.jpgOs resultados iniciais de um estudo de fase I apresentado domingo, 5 de junho, na ASCO 2016, sugerem que o anticorpo droga-conjugado (ADC) rovalpituzumab tesirine (Rova-T) tem eficácia promissora contra o câncer de pulmão pequenas células (CPPC) recorrente. O tratamento, que combina um novo anticorpo anti-DLL3 com um potente agente anticâncer, interrompeu o crescimento do tumor em 89% dos pacientes com elevados níveis de DLL3 e diminuiu os tumores em 39%.

"O tratamento do câncer de pulmão de pequenas células praticamente não avançou nas últimas duas décadas. O conjugado anticorpo-droga Rova-T mostrou eficácia suficiente para continuar o desenvolvimento clínico, principalmente pela disponibilidade do biomarcador DLL3 para seleção dos pacientes com maior chance de resposta e benefício clínico, afirma Jacques Tabacof, Coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Centro Paulista de Oncologia (CPO).

DLL3 é conhecida por regular a biologia das células estaminais do câncer em CPPC. Aproximadamente dois terços dos pacientes com CPPC tem altos níveis de DLL3 na superfície das células cancerosas, e a proteína é essencialmente ausente em tecidos adultos saudáveis. Rovalpituzumab tesirine é o primeiro agente que tem o DLL3 como alvo.

Segundo o oncologista Marcelo Cruz, do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM), da Beneficência Portuguesa de São Paulo, trata-se de uma forma de otimizar a potência da quimioterapia. "O desenvolvimento de ADCs deverá ocorrer em muitos tipos de tumores sólidos, e esses dados mostram que o conhecimento nesta área está avançando rapidamente”, afirma. “A identificação da DLL3 como o primeiro biomarcador preditivo no câncer de pulmão pequenas células é importante, além de abrir caminho para o desenvolvimento de ADCs não só para CPPC, mas também para outros tumores”, acrescenta.

Sobre o Estudo

O ADC rovalpituzumab tesirine compreende um anticorpo anti-DLL3 e um agente anticâncer, dímero pyrrolobenzodiazepine (PBD). O componente anticorpo do ADC serve para distribuir o agente ao tumor e em células cancerosas.
 
O estudo inscreveu 74 pacientes com CPPC progressivo apesar de pelo menos uma terapia sistêmica anterior. Cerca de dois terços dos pacientes tinham doença extensa no momento do diagnóstico, e o outro terço tinha doença em estágio limitado. A eficácia foi avaliada por RECIST v1.1 e o grau de toxicidade foi classificado por CTCAE v4.03. Quando disponível, o tecido tumoral foi avaliado retrospectivamente para a expressão DLL3 por imunohistoquímica.
 
Dos 60 pacientes avaliáveis, 11 (18%) experimentaram diminuição do tumor, e 41 (68%) obtiveram benefício clínico (pelo menos, doença estável). Quase todos os pacientes que responderam ao tratamento tinham níveis elevados de DLL3 em seu tumor.
 
Entre os 26 pacientes com os mais altos níveis de DLL3 no tumor, 10 (39%) responderam ao ADC e tiveram uma mediana de sobrevida global de 5,8 meses e uma sobrevida em um ano de 32%. Dentro deste grupo de pacientes, os 12 pacientes que estavam recebendo o ADC como terapia de terceira linha responderam particularmente bem, com 50% tendo redução do tumor (resposta objetiva confirmada).
 
As toxicidades severas mais comuns relacionadas ao tratamento  incluíram efusão serosa (acúmulo de líquido em volta do coração ou dos pulmões), baixa contagem de plaquetas e reações cutâneas. Estes efeitos adversos foram controláveis com medicamentos ou resolvidos sem intervenções específicas. 

"Embora estes resultados sejam preliminares, rovalpituzumab tesirine parece ser a primeira terapia alvo a mostrar eficácia no câncer de pulmão pequenas células", afirma o autor do estudo, Charles M. Rudin, oncologista chefe do Serviço de Oncologia Torácica no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York.

Os resultados deste ensaio de fase inicial terão que ser confirmados em ensaios clínicos maiores. Um estudo pivotal de fase II de braço único em pacientes com CPPC DLL3-positivo que pioraram apesar de pelo menos duas terapias anteriores foi lançado no início deste ano. Outros ensaios futuros irão avaliar Rova-T na primeira linha de CPPC e em outros cânceres neuroendócrinos que expressam o DLL3. 

O estudo recebeu financiamento da Stemcentrx, Inc.
 
Informações do ensaio clínico: NCT01901653
 
Referência: Safety and efficacy of single-agent rovalpituzumab tesirine (SC16LD6.5), a delta-like protein 3 (DLL3) - targeted antibody-drug conjugate (ADC) in recurrent or refractory small cell lung cancer (SCLC) - Abstract No: LBA8505 - Citation: J Clin Oncol 34, 2016 (suppl; abstr LBA8505)