ESMO 2022

Internações e mortalidade intra-hospitalar em pacientes em tratamento quimioterápico

murilo tovoO residente de Oncologia Cassio Murilo Hidalgo Filho (foto), do ICESP, é primeiro autor de estudo apresentado em sessão de pôster no ESMO 2022 que buscou investigar as principais causas de internações e fatores associados à mortalidade intra-hospitalar em pacientes em tratamento quimioterápico.

Este estudo retrospectivo incluiu pacientes com tumores sólidos que receberam quimioterapia ambulatorial no período de 30 dias antes da admissão não planejada no Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP) entre fevereiro e dezembro de 2021. Pacientes com diagnóstico de COVID-19 foram excluídos.

Os pesquisadores analisaram dados clínicos e laboratoriais dos prontuários de saúde. Modelos de regressão logística univariada e multivariada foram realizados para analisar a associação das variáveis ​​e mortalidade hospitalar como desfecho dependente.

Resultados

Foram incluídos 784 pacientes com mediana de idade na internação de 60 anos (IQR 49-68); 57% eram do sexo feminino. A maioria dos pacientes tinha ECOG 0-1 (61%) e quase 70% tinham doença metastática na admissão. Os tumores primários mais comuns foram colorretal (21,6%), mama (20,1%), pulmão (8,6%) e gástrico (8,6%). Mais da metade (56%) recebeu esquemas à base de platina, geralmente em associação com fluoropirimidinas ou taxanos.

Dor (33%), náusea (23%) e febre (16%) foram os sintomas mais referidos na admissão. Os principais diagnósticos foram infecção (32%), seguida de progressão da doença (DP) (29%) e toxicidade associada à quimioterapia (26%). Um total de 174 (22%) pacientes necessitou de suporte de unidade de terapia intensiva durante a internação.

A taxa de mortalidade global intra-hospitalar foi de 18%. A análise univariável revelou ECOG-PS baixo, anemia grau 3, trombocitopenia grau 3 e progressão da doença associada à mortalidade hospitalar. No modelo multivariável final, ECOG ≥ 2 (OR 1,99, 95% CI 1,33 - 2,99, p <0,001), DP (OR 4,62, 95% CI 3,07 - 7,00, p <0,001) e anemia grau 3 (OR 2,38, 95% CI 1,45 - 3,87, p<0,001) permaneceram estatisticamente associados à mortalidade intra-hospitalar. 

“Uma porcentagem substancial de internações não planejadas após o tratamento quimioterápico deve-se à toxicidade. Baixo performance status, progressão da doença na admissão e anemia grave estão associados a pior prognóstico hospitalar. A anemia de grau 3 na admissão foi a única toxicidade associada à mortalidade hospitalar”, destacaram os autores.

Murilo acrescenta que essas internações estão relacionadas a um pior desfecho em geral e piora da qualidade de vida dos pacientes oncológicos, além de um grande impacto de custos para o sistema de saúde. “Conhecer o perfil dos pacientes que internam e quais os fatores mais associados à mortalidade é o primeiro passo para evitar internações não planejadas no curso do tratamento”, conclui.  

Referência: C.M.T. Hidalgo Filho, F. Lazar Neto, J.W.D. Rocha, V.P. Sobottka, L.T.B. Stangler, G. Benfatti, H. Guedes, M.Z. Claro, R.C. Bonadio, M.D.P.E. Diz, P.M. Hoff. Causes of unplanned hospitalizations and factors associated with in-hospital mortality among patients receiving chemotherapy treatment. ESMO Congress 2022, abstract 1602P