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AtualizadoQua, 27 Mar 2024 5pm

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Atividade física e câncer

Daniel_Fernandes_NET_OK.jpgCresce o número de evidências da relação entre a prática regular de atividade física e redução do risco de desenvolver diversos tipos de câncer. O assunto é tema do artigo de Daniel Fernandes (foto), cirurgião oncológico, Mestre em Oncologia do INCA, e professor de cirurgia oncológica da UNIGRANRIO.

Por Daniel Fernandes

A atividade física tem benefício comprovado na prevenção, controle e tratamento de diversas doenças, principalmente as cardiovasculares e metabólicas, assim como na redução do risco dos cânceres de cólon, mama e endométrio, que têm íntima relação com a obesidade.
 
O sedentarismo é altamente prevalente no mundo, chegando a 51% nos EUA e 31% da população mundial que não pratica o mínimo de atividade física recomendada. No Brasil, segundo dados do Ministério do Esporte (www.brasil2016.gov.br), 46% da população é sedentária. A pequisa considerou sedentário aquele indivíduo que não fez nenhuma atividade física no período de um ano. Se levarmos em conta as recomendações da Organização Mundial de Saúde(OMS), que preconiza no mínimo 150 minutos de intensidade moderada de atividade física aeróbica por semana ou pelo menos 75 minutos de intensidade vigorosa de atividade física aeróbica semanalmente em adultos (http://www.who.int/dietphysicalactivity/physical-activity-recommendations-18-64years.pdf), este percentual obtido na pesquisa do Ministério do Esporte deve aumentar.
 
A redução do risco de câncer com a prática de atividade física é conhecida para os cânceres de cólon, mama e endométrio. Entretanto, a redução do risco para os outros tipos de câncer com a atividade física, apesar de parecer óbvia, não tinha sido comprovada por estudos grandes até recentemente quando foi publicado no periódico Journal of the American Medical Association (JAMA) o artigo ‘Association of Leisure-Time Physical Activity With Risk of 26 Types of Cancer in 1.44 Million Adults (Steven C. Moore et al., JAMA Intern Med. Published online May 16, 2016. doi:10.1001/jamainternmed.2016.1548). Neste artigo, os autores realizaram uma meta-análise em que foram incluídos 12 estudos de cohorts, sendo 8 americanos e 4 europeus, os quais estão representados na Tabela 1, abaixo.
 

Table 1. Selected Participant Characteristics According to Cohort Study
  Cohorta   Participants  Men   Women Study Entry  Follow-Up, Median (Maximum), y Age, Median (Range), y  BMI Median (IQR) Ever Smokers, %
  AARP 507 826 308 073 199 753 1995-1997 11 (11) 62 (50-71) 27 (24-29) 61
  BCDDP 37 228 0 37 228 1987-1989 9 (11) 60 (39-93) 25 (22-27) 42
  COSM 40 919 40 919 0 1998 10 (10) 60 (45-80) 26 (24-28) 63
  CPSII 154 425 73 083 81 342 1992-1993 14 (17) 63 (40-91) 26 (23-28) 55
  EPIC 410 165 126 664 283 501 1991-2001 12 (18) 52 (19-98) 26 (22-28) 49
  IWHS 37 584 0 37 584 1986 20 (20) 61 (52-70) 26 (23-29) 34
  PHS 27 890 27 890 0 1982-2001 21 (28) 54 (40-87) 25 (23-27) 47
  PLCO 60 200 30 970 29 230 1993-2003 9 (13) 62 (52-77) 27 (24-30) 53
  SMC 33 006 0 33 006 1998 10 (10) 60 (47-83) 25 (22-27) 46
  USRT 57 967 12 357 45 610 1994-1998 9 (12) 45 (31-88) 26 (22-28) 44
  WHS 39 414 0 39 414 1993-1996 17 (18) 52 (39-90) 26 (22-28) 49
  WLH 30 000 0 30 000 2003-2004 7 (7) 51 (40-62) 25 (22-27) 51
  Total 1 436 624 619 956 816 668 1982-2004 11 (28) 59 (19-98) 26 (23-29) 54

Abbreviations: AARP, National Institutes of Health–AARP Diet and Health Study; BCDDP, Breast Cancer Detection and Demonstration Project; COSM, Cohort of Swedish Men; CPS II, Cancer Prevention Study II; EPIC, European Prospective Investigation Into Cancer and Nutrition;IQR, interquartile range; IWHS, Iowa Women’s Health Study; PHS, Physician’s
Health Study I and II; PLCO, Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian Cancer Screening Trial; SMC, Swedish Mammography Cohort; USRT, US Radiologic Technologists Cohort; WHS, Women’s Health Study; WLH, Women’s Lifestyle and Health Study.

Foram incluídas nas análises atividades físicas com intensidade moderada, definida como uma intensidade de 3 ou mais METs (metabolic equivalents), e intensidade vigorosa, definida como 6 ou mais METs (que são as recomendações da OMS). O estudo observou que os participantes que faziam mais atividades físicas eram jovens, com mais escolaridade, baixo IMC (índice de massa corporal), e com menores chances de serem fumantes. Durante um seguimento médio de 11 anos, dos 1,65 milhão de participantes, foram diagnosticados 186.932 casos novos de câncer.
 
Observou-se que nos pacientes que realizavam mais atividades físicas, houve um risco menor de desenvolver 13 dos 26 tipos de câncer detectados. Nestes pacientes foi observada uma forte relação inversa entre a atividade física e o desenvolvimento de 7 tipos de câncer: adenocarcinoma de esôfago, hepatocarcinoma, câncer de pulmão, de rim, do cárdia, de endométrio e leucemia mielóide, com uma redução de risco maior que 20%. Uma redução de risco moderada (10-20%) foi observada para os seguintes cânceres: mieloma múltiplo, de cólon, da cabeça e pescoço, de reto, da bexiga e de mama. Para outros tipos de câncer, como vesícula biliar, intestino delgado e linfoma de Hodgkin, notou-se que pode haver uma redução de risco com o exercício, porém menor do que os resultados demonstrados anteriormente.
 
Para afastar possíveis fatores de confusão, os autores fizeram alguns ajustes no IMC, história de tabagismo, região demográfica, terapia hormonal, sexo, raça e tempo de seguimento dos pacientes. Em relação ao IMC, o efeito modificador foi modesto, exceto para o câncer de pulmão, em que houve um pequeno aumento do risco e uma associação nula para o câncer de endométrio em pacientes com IMC < 25. Em relação a história de tabagismo, o efeito modificador também foi modesto, exceto para os pacientes que nunca fumaram, em que houve uma associação nula com o câncer de pulmão e uma associação inversa no mieloma nos pacientes que nunca fumaram, que se tornou positiva nos tabagistas. Em relação a região demográfica, terapia hormonal, sexo, raça e tempo de seguimento dos pacientes, não houve efeito modificador nos resultados.
 
Por outro lado, uma atividade física maior foi associada a um risco aumentado para desenvolver câncer de próstata e melanoma. Em relação ao câncer de próstata, a associação foi entre os casos iniciais e não avançados, e foi estabelecido que os pacientes que fazem mais atividades físicas se preocupam mais com a saúde e procuram mais os médicos, propiciando assim um diagnóstico mais precoce. Em relação ao melanoma, observou-se que a associação foi estatisticamente significativa em regiões dos Estados Unidos onde a radiação ultra-violeta (UV) é maior, e não em regiões com menor radiação UV. Este fato é fácil de entender uma vez que quanto maior for a exposição solar, maior será o risco de desenvolver um melanoma, principalmente quando a atividade física é realizada ao ar livre e sem a proteção adequada (protetor solar, bonés e roupas com proteção UV).

Os mecanismos pelos os quais a atividade física interfere no desenvolvimento do câncer ainda estão em estudo e têm sido postuladas algumas hipóteses. Uma delas seria que a propagação do câncer pode ser inibida por intermédio de funções do sistema imune, como as ações das células NK (natural killer), realçadas pela aptidão cardiorrespiratória. Outra teoria defende que o exercício regular reduz os níveis de glicose e insulina, eleva os níveis dos hormônios corticosteróides e de citocinas anti-inflamatórias, e aumenta a expressão dos receptores da insulina nas células que combatem o câncer (SPINOLA, A. V.; MANZZO, I. de S.; ROCHA, C. M. da. As relações entre exercício físico e atividade física e o câncer. ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 39-48, 2007).
 
Outro ponto importante é que a maioria dos pacientes com câncer experimenta perda de energia e limitação no desempenho físico. Estima-se que esse problema afete até 70% dos pacientes oncológicos que fazem quimioterapia e/ou radioterapia, ou após cirurgia. Para agravar ainda mais esta situação, a fadiga pode desencadear outras doenças como depressão, esclerose múltipla e artrite. Para os pacientes que sentem fadiga, frequentemente é recomendado descanso e redução de atividades diárias. Entretanto, o descanso prolongado pode, em vez de melhorar o quadro clínico, perpetuar ainda mais a fadiga, pois a inatividade física induz ao catabolismo muscular intenso (DIMEO; RUMBERGER; KEUL, 1998).
 
Sendo assim, além da redução do risco, existem outros pontos importantes que são o condicionamento para o tratamento (quimioterapia, radioterapia e cirurgia) e a prevenção da recidiva com a atividade física. Desta forma, podemos dizer que a atividade física deveria ser “prescrita” como prevenção do câncer, assim como tratamento neoadjuvante e adjuvante.
 

   
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