Oncologia torácica: o que foi destaque em 2018

IGOR MORBECK LACOG GU NET OKO ano de 2018 foi particularmente produtivo na oncologia torácica, com estudos impactantes em diversos cenários: no rastreamento do câncer de pulmão para pacientes com alto risco, passando pela doença localmente avançada e finalmente por avanços no âmbito da imunoterapia e terapias-alvo. O oncologista Igor Morbeck (foto), do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, comenta os principais trabalhos.  

Para ilustrar o volume de publicações relevantes, basta dizer que a New England Journal of Medicine publicou nada menos que 11 artigos originais tendo câncer de pulmão como tema central.

A seguir, os estudos mais relevantes publicados ao longo do ano de 2018:

FLAURA

Osimertinibe como opção de primeira linha no tratamento do câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) avançado com mutação do EGFR
Foram inscritos 556 pacientes com CPNPC avançado e com mutação do Éxon 19 ou L858R, sem tratamento prévio. Os pacientes foram randomizados 1:1 para osimertinibe (80 mg) versus gefitinibe (250 mg) ou erlotinibe (150 mg).
Os resultados mostram maior eficácia em sobrevida livre de progressão (18,9 meses vs 10,2 meses; HR 0.46) com osimertinibe em comparação com inibidores de tirosina-quinase de 1a geração (erlotinibe ou gefitinibe).

Referência: N Engl J Med 2018; 378:113-125

CheckMate 227

Nivolumabe em associação com ipilimumabe em 1a linha do câncer de pulmão com carga mutacional elevada.
O estudo avaliou a sobrevida livre de progressão em pacientes com CPNPC EC IV sem tratamento prévio e com alta carga mutacional (> 10 mutações por megabase). Os resultados mostram melhora na sobrevida livre de progressão (SLP) com a combinação de imunoterapia (42,6% versus 13,2%). A taxa de resposta foi de 45% para a associação de nivolumabe e ipilimumabe e de 26,9% para a quimioterapia. O benefício da imunoterapia se estendeu independentemente do nível de expressão de PD-L1 e a taxa de efeitos adversos graus 3 e 4 foi de 31,2% para nivo + ipi e de 36% para a quimioterapia.

Referência: N Engl J Med 2018; 378:2093-2104

KEYNOTE-189

Pembrolizumabe em associação com quimioterapia no câncer de pulmão avançado. 
Este estudo de fase III randomizou, na taxa de 2:1, 616 pacientes com adenocarcinoma de pulmão sem mutação para EGFR ou ALK, para receber pembrolizumabe, pemetrexede e platina versus pemetrexede e platina. O objetivo primário deste estudo foi analisar a sobrevida global.

Aos 12 meses, os dados mostram melhora significativa na sobrevida global em pacientes que receberam imunoterapia, com 69,2% versus 49,4% para o grupo de placebo e quimioterapia (HR 0.49), independente da expressão de PD-L1. A sobrevida livre de progressão também favoreceu a combinação com pembrolizumabe (8,8 meses vs 4,9 meses, p< 0.001). Os efeitos adversos grau 3 ou superior foram semelhantes em ambos os braços de tratamento.

Referência: N Engl J Med 2018; 378:2078-2092

Estudo PACIFIC

Sobrevida global com durvalumabe após quimio/radioterapia no CPNPC estágio clínico III

Neste estudo, 709 pacientes EC III, que não progrediram após químio e radioterapia foram randomizados na proporção 2:1 para consolidação com imunoterapia vs placebo. Os resultados mostram que durvalumabe prolongou significativamente a sobrevida global na comparação com placebo após tratamento com químio e radioterapia combinados. 66% dos pacientes no braço da imunoterapia estavam vivos em 2 anos em comparação com 55% no braço placebo (p=0,005). A sobrevida livre de progressão também favoreceu durvalumabe (17,2 meses vs 5,6 meses). Um número maior de efeitos colaterais graus 3 ou 4 foi observado no braço da imunoterapia (30,5% vs 26,1%).

Referência: N Engl J Med 2018, september 25

IMpower133

Atezolizumabe em associação com quimioterapia no câncer de pulmão pequenas células, doença extensa

Este é o primeiro estudo em 20 anos a demonstrar benefício de uma nova terapia no tratamento do CPPC avançado. Com um seguimento mediano de 13,9 meses, a combinação de atezolizumabe, etoposide e carboplatina levou a um ganho de sobrevida média de 12,3 meses vs 10,3 meses (HR 0,7 e p=0,007).

Referência: N Engl J Med 2018, september 25

KEYNOTE 407

Pembrolizumabe associado à quimioterapia com paclitaxel ou nab/paclitaxel e carboplatina no carcinoma escamoso de pulmão

Estudo de fase III com 559 pacientes com carcinoma escamoso de pulmão, randomizados para pembrolizumabe, paclitaxel (ou nab-paclitaxel) e carboplatina vs paclitaxel (ou nab-paclitaxel) e carboplatina. Os resultados mostram melhora da sobrevida global mediana (15,9 meses) para o grupo de quimioterapia mais pembrolizumabe, contra 11,3 meses para o grupo de quimioterapia mais placebo (HR 0,64 e p< 0,001). O ganho de sobrevida ocorreu independentemente da expressão do PD-L1. A adição da imunoterapia não levou a maiores índices de efeitos colaterais em comparação ao braço da quimioterapia isolada.

Referência: N Engl J Med 2018; 379:2040-2051

NELSON

Rastreamento com Tomografia de Tórax (TC) em populações de alto risco de Câncer de Pulmão

O NELSON é um estudo de base populacional, conduzido na Holanda e na Bélgica, que incluiu 15.792 indivíduos de alto risco de desenvolver câncer de pulmão (tabagistas e ex-tabagistas) randomizados 1:1 para o grupo controle ou para realização de TCs no baseline, 1, 3 e 5,5 anos. O tempo de seguimento do estudo NELSON foi de 10 anos. Os resultados mostram que 261 casos de câncer de pulmão foram detectados durante este período, com uma taxa de detecção de nódulos suspeitos de 2,3%. 69% das neoplasias detectadas foram nos estágios IA e IB. Estes achados levaram a uma redução de 26% na mortalidade por câncer de pulmão em um período de seguimento de 10 anos.

Referência:  IASLC Conference: 23-26 semptember 2018, Plenary Session. Abstract PL02.05