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AtualizadoSex, 19 Abr 2024 4pm

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Daichii Sankyo

 

Telemedicina no cuidado oncológico

telemedicina 2020 2 bxO Ministério da Saúde autorizou a telemedicina em todo território nacional através de Portaria publicada 23 de março, poucos dias depois de ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhecer a telemedicina no País. Em princípio, a decisão veio para fazer frente à pandemia, mas muita gente acredita que é um caminho sem volta. Para além dos desafios da COVID-19, prática pode ganhar importância em um país continental que vive os complexos desafios de um sistema universal de saúde.

A pandemia da COVID-19  exigiu abordagens inovadoras e criativas para a gestão de pacientes com câncer, levando a assistência a dimensões até então desconhecidas ou pouco exploradas. Plataformas e soluções cada vez mais convergentes permitiram a interlocução de médicos e pacientes,  com caminhos que mostram que é possível fortalecer a telemedicina na assistência oncológica – e não apenas em momentos de crise.

No Brasil, o Ministério da Saúde autorizou a telemedicina em todo território nacional através de Portaria publicada 23 de março, poucos dias depois de ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhecer a telemedicina no País. Em princípio, a decisão veio para fazer frente à pandemia, mas muita gente acredita que é um caminho sem volta.

“Estamos no momento final da implantação do prontuário eletrônico no nosso sistema”, diz Sergio Serrano, Vice-Diretor Clínico do Hospital de Câncer de Barretos, ao descrever  um modelo que vai integrar os hospitais de Barretos, Jales e Porto Velho, além das unidades de prevenção mantidas pela instituição em vários pontos do país.  “Tudo integrado a um sistema unificado. A ideia é adotar algumas práticas de medicina digital, incorporando inclusive a telemedicina, explica Serrano.

A proposta da nova estratégia é inverter o caminho da assistência, levando o atendimento a casa do paciente, sem que ele tenha que se deslocar até o hospital. “É possível cuidar dos sintomas de doentes em cuidados paliativos, de pacientes no pós-operatório e daqueles em tratamento ativo com quimioterapia, radioterapia, enfim, é possível utilizar essas técnicas para acompanhar o paciente mais de perto, sem que ele precise ir até o centro oncológico.  Aqui, mais de 50% dos nossos pacientes moram a pelo menos 400 quilômetros de distância de Barretos”, prossegue o especialista, dimensionando uma realidade que se repete em outros tantos contextos Brasil afora.

Na prática, não faltam exemplos para mostrar que a telemedicina pode mesmo fazer a diferença. A dificuldade ainda recai sobre um vazio normativo. O CFM chegou a detalhar  vários aspectos na Resolução nº  2227/2018,  com critérios para a guarda, manuseio, confidencialidade e privacidade das informações, além de prever a garantia do sigilo profissional e da integridade e veracidade das informações.

A expectativa era modernizar a regulamentação existente, confiante de que a telemedicina poderia levar saúde de qualidade a cidades do interior do Brasil, que nem sempre conseguem atrair médicos. De quebra,  beneficiaria grandes centros, ao reduzir o estrangulamento causado pela migração de pacientes em busca de tratamento.

Mas nem mesmo argumentos tão consistentes mantiveram a posição do CFM e o documento foi revogado pouco tempo depois, em fevereiro de 2019. O saldo é uma moldura regulatória antiga, ainda pautada pela Resolução CFM nº 1.643/2002.

Com a pandemia,  essas fragilidades vieram à tona. “Sem critérios, cada um começou a interpretar a telemedicina como bem entendeu. Tem gente usando até WhatsApp, que é um mero bilhetinho, não constitui um ato médico”, analisa Chao Lung Wen, professor da Faculdade de Medicina da USP e Chefe da Disciplina de Telemedicina. “A nossa questão principal agora é reforçar que  as coisas devem ser feitas de forma responsável, a começar da plataforma utilizada. Tem que ser uma plataforma segura e não a mais conveniente, simplesmente porque é de graça”, ensina.

Apontado como uma das grandes autoridades no assunto, Chao lembra que a telemedicina foi liberada para que os médicos pudessem trabalhar em favor da população. “Nunca foi dito que seria liberado o uso de qualquer coisa. Desde que foi revogada a resolução de 2018, o assunto ficou em suspenso, a discussão foi procrastinada”, critica. “Telemedicina é um método de cuidar de pessoas, não é uma ferramenta que eu compro na prateleira ou uso porque é de graça. Tem que ser vista como um método que o médico escolheu para cuidar bem do seu paciente e é 100% responsável pelas consequências”, defende.

Afinal, o maior desafio da telemedicina recai sobre a oferta de infraestrutura tecnológica ou esbarra no desafio cultural, diante de um novo paradigma na assistência?

A experiência de Barretos mostra que de tudo um pouco. “Na parte tecnológica, temos dificuldades. Muitas ferramentas são caras e não estão disponíveis de forma tão acessível”, explica Serrano.  “Talvez essa crise vá mudar esse cenário, sensibilizando as autoridades a implementar a telemedicina de forma mais difusa, ajudando a tornar isso mais acessível como política pública”, defende.

Mas é inegável que ao lado da ampliação da oferta de tecnologias, mudanças começam a moldar também uma nova cultura no ambiente de assistência. “É importante entender a implantação dessas novas ferramentas como parte de informações mais centralizadas, prontuários eletrônicos, dados que se interligam. Não dá para cada serviço ter o seu prontuário e nenhum ‘conversar’ com o outro”, prossegue Serrano.

A palavra de ordem é integração. Imagine a convergência de um vasto leque de tecnologias, big data e analytics, cibersegurança, robôs, internet das coisas, simulação, cloud, impressão 3D. Em uma era onde tudo está conectado e todas as tecnologias exploram o conceito de convergência, não é demais falar em saúde 5.0. Aliás, o conceito existe e já deixou para  trás o tom futurista. Além das ferramentas de integração de dados e teleatendimento,  soluções weareables são cada vez mais disponíveis e prometem tecnologias que podem literalmente ser vestidas pelo paciente, seja para monitorar a temperatura ou medir a frequência cardíaca.

Para pacientes já tratados e em seguimento da doença, a telemedicina também pode fazer a diferença. “O contato físico é essencial na medicina, não vai se perder nunca, mas algumas consultas com certeza você consegue fazer à distância. Imagine aquele paciente de baixa renda que precisa se deslocar 2 mil quilômetros, quatro vezes ao ano para chegar ao hospital. São casos como esses que através da telemedicina podem ter um encaminhamento adequado e muito mais humanizado para o paciente”, diz o oncologista Eduardo Zucca. 

Expansão

A imprensa americana já mostra em números a expansão da telemedicina no esteio da crise da COVID-19. Ações de um dos principais players do setor, a Teladoc Health Inc. com sede em Nova York, subiram 47% no primeiro trimestre de 2020.

Soluções de assistência virtual nunca estiveram tão em alta. Artigo publicado na New England Journal of Medicine mostra que os sistemas de saúde dos EUA aproveitaram as inovações telemédicas em resposta a Covid-19, em diferentes aplicações. A chamada “triagem direta”, através de smartphones ou computadores com webcam, permitiu identificar casos graves que realmente necessitavam dos serviços de emergência, protegendo outros tantos pacientes que puderam ficar em casa e evitar os riscos da exposição.  “Usando algoritmos automatizados foi possível padronizar processos de triagem, obtendo, por exemplo, o histórico de viagens”, explica o artigo da NEJM, acrescentando que mais de 50 sistemas de saúde dos EUA apostaram em programas como esses (Virtually Perfect? Telemedicine for Covid-19).

Por aqui, quem não tinha processos sistematizados apelou para soluções criativas. “Tentamos absorver uma demanda muito grande de problemas que os pacientes enfrentaram por causa do coronavírus. Muitos tinham dúvidas sobre a necessidade de ir ou não ao hospital, outros queriam reprogramar seus agendamentos, outros ainda estavam com dificuldade de transporte. Uma instalação usada pela área de captação passou a servir de base para atender os pacientes e mapear as dúvidas. Os alunos do internato da Faculdade de Medicina se voluntariaram para prestar esse atendimento e foi assim que demos as primeiras orientações, nessa espécie de call center”, conta o oncologista Eduardo Zucca, descrevendo mais de 600 chamadas atendidas nas primeiras 72 horas – todas documentadas na base do REDCap - , “com a intenção   de replicar e ajudar outros centros com necessidades semelhantes”, diz Zucca.

Artigo de revisão de Jonathan Benger no British Medical Journal apresentou aplicações importantes da telemedicina em cenários de urgência e emergência (A review of telemedicine in accident and emergency: the story so far) e apontou os rumos da telemedicina ainda no início dos anos 2000. “A nova técnica encontrará seu nicho; não como meio para curar tudo, mas como complemento útil no repertório dos médicos, quando usada no momento certo, no lugar certo e nos pacientes certos”. Agora, 20 anos depois, a previsão se confirma. Sinal dos tempos.

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