Síndrome de Lynch em pacientes com câncer de endométrio no Brasil

victor reginaldo ribeirao jpg bxEstudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), publicado no periódico Gynecologic Oncology, é o primeiro trabalho a relatar a frequência da síndrome de Lynch (SL) em uma coorte de pacientes com câncer de endométrio no país, utilizando uma abordagem universal de triagem. O trabalho faz parte do projeto de doutorado de Reginaldo Cruz Alves Rosa (na foto, à esquerda) e foi coordenado por Victor Evangelista de Faria Ferraz, ambos do Departamento de Genética da FMRP/USP.

Um total de 242 carcinomas endometriais foram rastreados por imuno-histoquímica (IHC) e instabilidade de microssatélites (MSI) para detecção de deficiência no Mismatch repair(dMMR), um dos mecanismos de reparo de DNA. Os pesquisadores também realizaram análise de metilação somática no gene MLH1 para identificar casos esporádicos de câncer de endométrio. As pacientes com tumores dMMR foram recrutadas para análise de variantes germinativas por sequenciamento de nova geração dos genes MLH1, MSH2, MSH6, PMS2 e EPCAM. 

Resultados

Entre os 242 tumores investigados, 93 (38,5%) foram classificados como dMMR com base nos resultados de MSI e IHC. Desses, 54 casos foram selecionados para análise de variantes germinativas e 37 (68,5%) destes estavam disponíveis para sequenciamento. Foram encontradas dez pacientes (10/37, 27%) portadoras de variantes germinativas patogênicas ou provavelmente ​​patogênicas nos genes associados à SL, a maioria delas no gene MSH6 (4/10, 40%). Sete variantes de significado incerto (VUS) foram encontradas, e oito das variantes encontradas ainda não haviam sido relatadas em bancos de dados.

“A prevalência de síndrome de Lynch em nossa coorte foi de pelo menos 4,1%. Os pacientes com LS apresentaram menor idade média no diagnóstico do câncer em comparação com as pacientes diagnosticadas com câncer de endométrio esporádico. Indivíduos com tumores dMMR, sem variantes patogênicas da linhagem germinativa detectadas nos genes LS (síndrome “Lynch-like”), tinham uma idade média intermediária no diagnóstico de câncer entre pacientes com síndrome de Lynch e casos esporádicos”, observaram os autores.

“Este é o primeiro relato de prevalência de síndrome de Lynch em pacientes com câncer de endométrio rastreadas por uma abordagem universal no Brasil. Nossos achados contribuem para uma melhor compreensão do espectro de mutações dessa síndrome no país, e são relevantes para melhor identificação, aconselhamento genético, prevenção e controle do câncer na SL”, concluem.

Referência: ROSA, R.C.A. et al. (2020). Lynch syndrome identification in a Brazilian cohort of endometrial cancer screened by a universal approach. Gynecologic Oncology. Received 3 June 2020, Accepted 7 July 2020, Available online 18 July 2020. https://doi.org/10.1016/j.ygyno.2020.07.013