Diabetes, alteração de peso e risco de câncer de pâncreas

rivadavio 2020Existe uma associação entre a duração do diabetes e a perda de peso recente com o risco de câncer de pâncreas? Análise1 com mais de 150 mil indivíduos inscritos em 2 estudos de coorte nos Estados Unidos indica que diabetes de início recente acompanhada por perda de peso de 0,5kg a 3,6kg ou mais representa um risco substancialmente aumentado da doença. Os resultados foram pulicados no JAMA Oncology. O oncologista Rivadávio Antunes de Oliveira (foto), coordenador da residência médica do Hospital do Câncer de Londrina, analisa os resultados.

O câncer de pâncreas é a terceira causa de morte por câncer nos Estados Unidos; no entanto, poucos grupos de alto risco foram identificados para facilitar as estratégias de diagnóstico precoce.

Nessa análise, os pesquisadores buscaram avaliar a associação da duração do diabetes e a mudança de peso recente com o risco subsequente de câncer de pâncreas na população em geral.

O estudo de coorte considerou dados de mulheres participantes do Nurses ’Health Study e homens participantes do Health Professionals Follow-Up Study, com avaliações repetidas de exposição ao longo de 30 anos. Casos incidentes de câncer de pâncreas foram identificados por autorrelato ou durante o acompanhamento das mortes dos participantes, apuradas por meio de relatórios de parentes próximos, do Serviço Postal dos EUA ou do Índice Nacional de Mortes. A coleta de dados foi realizada entre 1º de outubro de 2018 e 31 de dezembro de 2018, e a análise dos dados foi realizada entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2019.

Resultados

Foram incluídos na análise 112.818 mulheres (mediana de idade de 59,4 [11,7] anos) e 46.207 homens (mediana de idade de 64,7 [10,8] anos), com 1.116 casos incidentes de câncer de pâncreas identificados. Em comparação com participantes sem diabetes, aqueles com diabetes de início recente tiveram um HR ajustado por idade para câncer de pâncreas de 2,97 (95% CI, 2,31-3,82) e aqueles com diabetes de longa data tiveram um HR ajustado por idade de 2,16 (95% CI, 1,78-2,60).

Em comparação com indivíduos sem perda de peso, os participantes que relataram uma perda de peso de 0,5kg a 1,8kg tiveram um HR ajustado para idade para câncer de pâncreas de 1,25 (95% CI, 1,03-1,52), aqueles com 2,2kg a 3,6kg de perda de peso tiveram um HR ajustado para a idade de 1,33 (95% CI, 1,06-1,66), e aqueles com perda de peso superior a 3,6kg tiveram um HR ajustado para a idade de 1,92 (95% CI, 1,58-2,32).

Os participantes com diabetes de início recente acompanhada de perda de peso de 0,5kg a 3,6kg (91 casos incidentes por 100 mil pessoas-ano [95% CI, 55-151]; HR, 3,61 [95% CI, 2,14-6,10]) ou mais de 3,6kg (164 casos incidentes por 100 mil pessoas-ano [95% CI, 114-238]; HR, 6,75 [95% CI, 4,55-10,00]) apresentaram um risco substancialmente aumentado de câncer de pâncreas em comparação com participantes sem diabetes recente e perda de peso (16 casos incidentes por 100 mil pessoas-ano; 95% CI, 14-17).

“As taxas de incidência foram ainda maiores entre os participantes com diabetes de início recente e perda de peso com um índice de massa corporal de menos de 25 antes da perda de peso (400 casos incidentes por 100 mil pessoas-ano) ou cuja perda de peso não foi intencional, fruto do aumento da atividade física ou escolhas alimentares mais saudáveis ​​(334 casos incidentes por 100 mil pessoas-ano)”, destacam os autores. “Os resultados sugerem que indivíduos com diabetes de início recente acompanhada de perda de peso têm um alto risco de desenvolver câncer de pâncreas e podem ser um grupo para o qual as estratégias de detecção precoce seriam vantajosas”, afirmam.

Oliveira explica que aproximadamente 75% dos pacientes diagnosticados com neoplasia pancreática tem a doença já avançada em seu quadro clínico inicial. Entretanto pacientes que são diagnosticados mais precocemente, podem ter maiores chances com tratamentos mais agressivos. “O screnning para a população geral não é recomendado nos guidelines atuais2, por não ter um potencial benéfico e efetivo. Assim, identificar grupos de alto risco cuja razão de risco poderia ser favorável, é muito importante”, diz.

Segundo o especialista, a coexistência desses sinais e sintomas, como relatado no estudo), deveriam ser reconhecidos por médicos clínicos, dado que o risco relativo e absoluto para câncer pancreático é alto, particularmente em pacientes com peso saudável antes da perda de peso rápida ou naqueles que não estão tentando perder peso através de atividade física ou dieta. “O estudo foi consistente com outros estudos prévios semelhantes, mostrando que o diabetes, principalmente naqueles pacientes de início recente e uma perda de peso não intencional, são sinais importantes de um diagnóstico iminente de câncer de pâncreas”, conclui.

Referências:

1 - Yuan C, Babic A, Khalaf N, et al. Diabetes, Weight Change, and Pancreatic Cancer Risk. JAMA Oncol. Published online August 13, 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.2948

2 - US Preventive Services Task Force. Screening for Pancreatic Cancer: US Preventive Services Task Force Reaffirmation Recommendation Statement. JAMA. 2019;322(5):438–444. doi:10.1001/jama.2019.10232