Ureteroscopia no carcinoma urotelial

wroclawski alta 2020 bxO tratamento endo-urológico de pacientes com carcinoma urotelial do trato superior, através de ureteroscopia e ablação da lesão à laser pode ser, em casos selecionados, uma alternativa à nefroureterectomia radical (RNU), que é a terapia de escolha nestes casos, como indicam os resultados de longo prazo publicados por Scotland KB et al., na Urologic Oncology. Marcelo Wroclawski (foto), urologista do Hospital Israelita Albert Einstein e da BP – a Beneficência Portuguesa de São Paulo, analisa os achados.

Os tumores uroteliais do trato urinário superior (TUTUS) são raros, correspondendo a cerca de 5% de todos os tumores uroteliais e 8% dos tumores renais. Embora RNU continue a ser o padrão de tratamento do carcinoma urotelial do trato superior, entre 35% e 38% dos pacientes submetidos à RNU minimamente invasiva ou aberta podem experimentar complicações pós-operatórias, incluindo obstrução intestinal, deiscência fascial, hematoma, insuficiência renal aguda e morte. Além disso, RNU é um fator de risco significativo para a redução da taxa de filtração glomerular e o aparecimento de doença renal crônica. "As diretrizes da Associação Americana de Urologia (AUA) e da Associação Européia de Urologia (EAU) continuam a apontar a nefroureterectomia radical (RNU) como o tratamento padrão-ouro para os TUTUS, principalmente se de alto grau. Entretanto, a população tipicamente idosa e com comorbidades (incluindo algum grau de insuficiência renal) que apresenta esta neoplasia se beneficiaria muito de alternativas terapêuticas em que se preserve a unidade renal acometida pelo tumor, como a ablação à laser da lesão, através de ureteroscopia", avalia Wroclawski, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Regional São Paulo (SBU-SP).

Neste estudo retrospectivo foram analisados dados de pacientes acompanhados de 1994 a 2017, considerando características pessoais, do tumor, tipo de manejo cirúrgico e resultados (risco de recorrência, progressão e tempo de sobrevida).  "Apesar de retrospectivo e realizado em uma única instituição ao longo de 23 anos, o trabalho representa a maior série sobre tratamento endoscópico de TUTUS. Entretanto, o tempo de seguimento médio dos pacientes, de aproximadamente 5,5 anos, é relativamente curto", observa o especialista.

Resultados

Seguindo os critérios de elegibilidade, 168 pacientes foram avaliados. O tamanho médio do tumor na excisão inicial foi de 16,8 mm e a idade média da coorte foi de 70 anos, com seguimento médio de 5,53 anos. A sobrevida global em 5 anos foi de 80,9%, mas a sobrevida câncer específica foi de 92,6%. A sobrevida livre de recorrência foi de 30% e o tamanho médio do tumor na recorrência de 6,39 mm. A sobrevida livre de progressão foi de 75%, com taxa de preservação renal de 71,4%.

A conclusão dos autores indica que o manejo do carcinoma urotelial do trato superior com preservação da unidade renal é uma alternativa bem-sucedida à nefroureterectomia em pacientes selecionados. “Esses dados sugerem que a ureteroscopia pode ser utilizada como uma modalidade de primeira linha em populações de pacientes cuidadosamente selecionadas, sem comprometer os resultados de sobrevida”, afirmam. 

"Considerando-se suas limitações, os resultados obtidos fornecem ainda mais embasamento para que, em casos selecionados, como tumores pequenos, únicos e de baixo grau, indiquemos com segurança a ureteroscopia e ablação à laser dos TUTUS, possibilitando assim a preservação de néfrons e manutenção da função renal", conclui Wroclawski.

Referência: Scotland, K. B., Hubbard, L., Cason, D., Banks, J., Leong, J. Y., Healy, K., … Bagley, D. H. (2020). Long term outcomes of ureteroscopic management of upper tract urothelial carcinoma. Urologic Oncology: Seminars and Original Investigations. doi:10.1016/j.urolonc.2020.06.027