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AtualizadoQui, 28 Mar 2024 7pm

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Daichii Sankyo

 

Prioridades para o idoso com câncer

theodora karnakis bxA oncologista Martine Extermann, do Moffitt Cancer Center, é primeira autora de artigo publicado na edição de janeiro do Lancet Oncology, com recomendações da Sociedade Internacional de Oncologia Geriátrica (SIOG) para a melhoria do cuidado do idoso com câncer. Quem comenta o artigo é a geriatra Theodora Karnakis (foto), membro da SIOG e coautora do trabalho.

Em 2011, o lançamento da SIOG 10 Priorities Initiative definiu prioridades globais para avançar na assistência ao idoso com câncer. Agora, Extermann et al. revisam as políticas, com recomendações práticas para diferentes cenários econômicos (países de alta renda/países de baixa e média renda).

Quatro domínios passam a concentrar atenção prioritária: educação, prática clínica, pesquisa e fortalecimento de colaborações/parcerias.

Na esfera educacional, a proposta é integrar a oncologia geriátrica com áreas-chave, promovendo treinamento multidisciplinar e o envolvimento de escolas médicas e programas de residência, profissionais de enfermagem e demais áreas da saúde com foco em oncogeriatria. A produção de material educativo, assim como a organização de atividades dirigidas, também integram as prioridades da SIOG.

Em relação à prática clínica, a aposta é em modelos para referenciar o melhor cuidado do idoso com câncer. A elaboração de guidelines com diretrizes de conduta e a organização de centros de excelência em oncologia geriátrica estão na agenda.

No ambiente de pesquisa, a tônica recai sobre a importância de valorizar ensaios clínicos para o idoso com câncer e fomentar a pesquisa translacional voltada a essa população de pacientes. Em outra frente, a ideia é ampliar o acesso desses pacientes aos tratamentos baseados na oncologia personalizada.

O quarto pilar tem como objetivo a construção de parcerias estratégicas. A expectativa é desenvolver e fortalecer vínculos com uma ampla cadeia de cuidados, incluindo a aproximação da SIOG com a comunidade de oncogeriatria e organizações globais. Entre as prioridades está a criação de um fundo internacional para fomentar o desenvolvimento da força de trabalho e promover pesquisas sobre câncer e envelhecimento. 

Prioridades na atenção do câncer no idoso - Recomendações da Sociedade Internacional de Oncogeriatria (SIOG)

Por Theodora Karnakis, coordenadora de oncogeriatria do ICESP e do núcleo de oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e membro da Sociedade Internacional de Oncologia Geriátrica (SIOG)

Com o grande aumento da incidência do câncer na população idosa nas últimas décadas, a SIOG desde 2011 publicou recomendações que priorizam uma atenção a esta polução de maior fragilidade e riscos. Em 2021, Martine Exterman e um comitê de especialistas no atendimento do idoso com câncer em vários países, atualizam e discutem a importância do tema em uma nova publicação na Lancet.

Desde 2011, o número de programas em oncologia geriátrica tem crescido em todo mundo e orientações de diversas sociedades internacionais (NCCN, WHO, AGS, ESMO), recomendam uma atenção especializada para esta população. O presente documento aborda quatro domínios prioritários: educação, prática clínica, pesquisa e fortalecimento de colaborações e parcerias. Nesta revisão de política, refletiu-se sobre como essas prioridades se aplicariam em diferentes cenários econômicos, nomeadamente em países de alta renda versus países de baixa e média renda.

Recomendações prioritárias

A - Educação:

Prioridade 1: Integrar módulos de oncogeriatria no currículo básico de formação dos oncologistas, enfermeiros, hematologistas. Os componentes chave da educação deve incluir biologia câncer e envelhecimento, o valor de uma avaliação geriátrica como uma ferramenta eficaz para gerenciamento desses pacientes, personalização baseada em evidências de opções de tratamento (incluindo tumor e paciente características), e integração de geradas pelo paciente objetivos de cuidado. A educação deve abranger a prevenção, diagnóstico precoce, gestão, reabilitação e fim da vida.

Prioridade 2: Prover material educacional e atividades em oncogeriatria para profissionais de saúde através de educação continuada. Os componentes para este material devem abranger os itens da prioridade1.

Prioridade 3: educar o público em geral sobre a relevância de fornecer cuidados adequados à idosos com câncer através de campanhas de educação comunitária sobre a importância da compreensão das necessidades dos idosos com câncer, conscientizando sobre o risco de preconceito com envelhecimento, o “etarismo” nestes cuidados. A educação contra o etarismo na saúde do idoso é uma questão fundamental para uma abordagem multifacetada e uma visão global desta população.

B- Prática Clínica

Prioridade 4: Implementação de modelos que forneçam o melhor plano de cuidado ao idoso com câncer. O cuidado multidisciplinar centrado no paciente para todos os idosos com câncer é necessário para alcançar o melhor atendimento. Embora existam diferentes modelos não exclusivos, a equipe para atendimento de idosos com câncer deve ser composta por especialistas em geriatria.

Prioridade 5: Desenvolver diretrizes para o tratamento adequado do idoso oncológico. O desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências cientifica específica para os idosos com câncer é importante na melhor prática no cuidado desta população.

Prioridade 6: Criar centros de excelência em oncogeriatria para oferecer atendimento clínico, fazendo pesquisa clínica e translacional com oportunidades educacionais. O progresso feito nas últimas duas décadas levou à criação e implementação de alto sucesso serviços de oncogeriatria em todo o mundo, a maioria dos quais são localizados na Europa Ocidental e na América do Norte.

C- Pesquisa

Prioridade 7: Melhorar a relevância dos estudos clínicos de idosos oncológicos. Os idosos são sub representados nos estudos clínicos, por várias causas, dentre elas os critérios de elegibilidade e incentivos para inserção dessa população na pesquisa clínica. A sub-representação desses pacientes em ensaios pode resultar em mais toxicidade e complicações relacionadas ao tratamento com redução do benefício do tratamento em comparação com uma população de estudo mais jovem e saudável. Para a melhor adaptação do tratamento oncológico do idosos, é crucial que a evidência cientifica (que orienta as decisões de tratamento) seja reformulada ampliando os critérios de elegibilidade de ensaios clínicos com idosos. Além disso, os desfechos para os desenhos de estudos clínicos devem se pautar muito mais em critérios de qualidade de vida, funcionalidade e cognição do que sobrevida.

Prioridade 8: Avaliar os benefícios de tratar e intervir nas comorbidades e fragilidades para melhora dos desfechos dos idosos com câncer. Muitos estudos identificam que os idosos apresentam múltiplas comorbidades e fragilidades que potencialmente interferem no sucesso do tratamento oncológico. Definir fragilidade nesta população baseado nas particularidades da doença oncológica é um desafio a ser padronizado para melhorar a pesquisa e melhor analise de desfechos.

Prioridade 9: Aplicar tecnologias da medicina personalizada para melhorar a compreensão e gestão do câncer no idoso. A pesquisa em câncer e envelhecimento é uma importante prioridade atual. Esta pesquisa deve ter como objetivo melhorar compreensão da interação entre câncer, tratamento, e envelhecimento - ou seja, como a idade afeta a carcinogênese e como o tratamento do câncer afeta o envelhecimento. Além disso, os biomarcadores do envelhecimento podem ser usados para determinar a reserva fisiológica, que é um dado extremamente relevante para o prognóstico e tolerância ao tratamento.

Análises de big data usando inteligência artificial e técnicas de aprendizado de máquina são necessárias para identificar padrões de envelhecimento, comorbidades e câncer que requerem tratamentos personalizados. As ferramentas Omics oferecem oportunidades para entender o câncer e o envelhecimento a nível celular e orgânico; no entanto, dados mais expressivos e dados do mundo real poderiam ser usados para aumentar a compreensão destes processos em nível populacional. Continua a ser essencial combinar esses tipos de dados com informações clínicas derivados de avaliações geriátricas para que todos os domínios sejam considerados. D-

Colaborações e Parcerias

Prioridade 10: Fortalecer os vínculos entre o SIOG e as forças de trabalho em oncogeriatria; agências especializadas internacionais, organizações profissionais globais e regionais, grupos de políticas de defesa do paciente.

Prioridade 11: Promover a inclusão de metas com estratégias específica para fornecer planos de cuidados baseados em evidência de alta qualidade nos programas nacionais de controle do câncer no idoso. Cuidar de idosos com câncer é uma necessidade universal que representa um desafio epidemiológico, que requer compromisso político em escala global.

Prioridade 12: Criar mecanismos globais de financiamento voltados ao desenvolvimento de profissionais que atuem na área da oncologia geriátrica e promoção de pesquisas sobre a interface de câncer e envelhecimento.

Nesta revisão de política pública, através de um amplo consenso de especialistas foram estabelecidas 12 prioridades para promover o cuidado dos idosos adultos com câncer em escala global.

Em 23 de setembro de 2019 assembleia geral da ONU discutiu o assunto e ressaltou que tanto países desenvolvidos como em desenvolvimento devem estar atentos a importância e o impacto do envelhecimento e do câncer em suas sociedades.

O envelhecimento populacional é um dos principais desafios da Medicina do século 21. A melhoria no tratamento do câncer só será alcançada por estreita colaboração entre sociedades e instituições médicas, agências governamentais, indústria privada, mídia e organizações de saúde global, incluindo grupos de defesa de pacientes.

A SIOG escolheu objetivos ambiciosos e visionários para estabelecer através de estratégia multidimensional, interdisciplinar a melhoria da saúde e o bem-estar dos pacientes idosos oncológicos com ou sem comorbidades. Esses objetivos podem ser alcançados através da construção de grandes e sustentáveis redes que considerem a saúde mundial com cobertura para todos.

Referência: Extermann M, Brain E, Canin B, Cherian MN, Cheung KL, de Glas N, Devi B, Hamaker M, Kanesvaran R, Karnakis T, Kenis C, Musolino N, O'Donovan A, Soto-Perez-de-Celis E, Steer C, Wildiers H; International Society of Geriatric Oncology. Priorities for the global advancement of care for older adults with cancer: an update of the International Society of Geriatric Oncology Priorities Initiative. Lancet Oncol. 2021 Jan;22(1):e29-e36. doi: 10.1016/S1470-2045(20)30473-3. PMID: 33387502.

 


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