Mastectomia redutora de risco, tendências temporais e fatores de adesão

bagnoli index bxAnálise prospectiva que envolveu 7.195 mulheres com alto risco de câncer de mama mostrou tendências temporais e fatores que influenciam a adoção da mastectomia bilateral redutora de risco. Os dados foram reportados por Evans e colaboradores na The Breast. Fábio Bagnoli (foto), mastologista da Santa Casa de São Paulo, do Hospital Paulistano (Américas Serviços Médicos) e do Hospital Israelita Albert Einstein, analisa os resultados.

A mastectomia bilateral redutora de risco (Bilateral Risk Reducing Mastectomy - BRRM) está bem descrita em portadores da variante patogênica BRCA1 / 2. No entanto, pouco se sabe sobre a utilização da BRRM, tendências temporais ou fatores que influenciam sua adoção em pacientes com risco aumentado de câncer de mama que não são portadores da mutação BRCA 1/ 2.

Nesta análise, pesquisadores britânicos avaliaram a utilização da BRRM em pacientes atendidas na Clínica de História da Família da Universidade de Manchester ou a partir do resultado de um teste pessoal de BRCA1 / 2. O acompanhamento foi interrompido em 1º de janeiro de 2020 ou em caso de BRRM, diagnóstico de câncer de mama ou óbito.

Resultados

De 7.195 mulheres com risco vida de desenvolver câncer de mama ≥25 %, aompanhadas por até 32 anos, 451 (6,2%) foram submetidas a BRRM sem qualquer sinal ou sintoma. Daquelas elegíveis em diferentes grupos de risco, a adoção da BRRM em 20 anos foi de 47,7% (IC 95% = 42,4–53,2%) em 479 portadores de mutação dos genes BRCA1 / 2; 9,0% (IC 95% = 7,26–11,24%) em 1.261 mulheres com risco vida de desenvolver o câncer ≥40% (não BRCA), 4,8% (IC 95% = 3,98–5,73%) em 3.561 mulheres com risco 30–39% e 2,9% (IC 95% = 2,09–4,09%) em 1.783 mulheres com risco de vida de 25–29%.

Quando se considera uma causa específica para ser submetida à BRRM, a morte de uma irmã por câncer de mama com idade inferior a 50 anos (OR = 2,4; IC de 95% = 1,7–3,4), a morte da mãe por câncer de mama com menos de 60 anos (OR = 1,9; IC de 95% = 1,5–2,3), ter filhos (OR = 1,4; IC de 95% = 1,1–1,8) e ser submetida à biópsia com resultado benigno (OR = 1,4; IC de 95% = 1,0–1,8)  todos são fatores independentemente associados à adoção da BRRM, enquanto ser mais velho na avaliação (idade superior à 50 anos) teve menor probabilidade de estar associado a BRRM ( OR = 0,26,95% CI = 0,17–0,41). A aceitação continuou a aumentar para 20 anos a partir da avaliação inicial de risco.

“Identificamos vários fatores adicionais que se correlacionam com a adoção de BRRM e demonstram aumentos contínuos ao longo do tempo. Esses fatores ajudarão a definir o aconselhamento e o apoio às mulheres”, destacam os autores.

Bagnoli observa que cada vez mais mastologista e oncologistas clínicos são questionados sobre a realização de mastectomia bilateral, seja pela paciente com diagnóstico de câncer ou por aquela considerada de alto risco. “É fundamental esclarecermos quais as reais candidatas a essa modalidade terapêutica/redutora de risco que realmente irão se beneficiar. Sabemos que as portadoras de mutações de determinados genes de alta penetrância, como BRCA 1, elevam de forma importante o risco de desenvolver a doença, assim como recorrência ao longo da vida pós tratamento, diferentemente das portadoras de genes de moderada e baixa penetrância em que o risco é muito menor”, esclarece.

O mastologista afirma que o estudo mostra como outros fatores que não a mutação genética BRCA 1/2 podem influenciar a tomada de decisão por parte das mulheres e dos médicos. “Para decidir sobre a mastectomia redutora de risco é fundamental uma criteriosa avaliação multidisciplinar com a paciente para além dos fatores genéticos (já bem estabelecidos), avaliando outros fatores que podem beneficiar as pacientes para medidas redutoras de risco. É fundamental ter muita atenção a fatores que envolvem questões psicológicas como a perda de um familiar próximo ou o nascimento de um filho para não realizar cirurgias sem real benefício bem estabelecido”, conclui.

Este estudo está disponível em acesso aberto.

Referência: Uptake of bilateral-risk-reducing-mastectomy: Prospective analysis of 7195 women at high-risk of breast cancer - D.Gareth Evans; Ashu Gandhi; Julie Wisely; Tara Clancy; Emma R. Woodward; James Harvey; Lyndsey Highton; John Murphy; Lester Barr; Sacha J. Howell; Fiona Lalloo; Elaine F. Harkness; Anthony Howell - Open Access Published: August 26, 2021 DOI: https://doi.org/10.1016/j.breast.2021.08.015