RIOMeso: dados de mundo real da imunoterapia combinada no mesotelioma pleural

pulmao 2020Estudo publicado no Journal of Thoracic Oncology (JTO) demonstrou que pacientes australianos com mesotelioma pleural tratados com a combinação de ipilimumabe e nivolumabe apresentaram níveis mais elevados de toxicidade em comparação com os resultados dos ensaios clínicos. “As descobertas sugerem que, na prática do mundo real, a imunoterapia combinada pode ter piores resultados de sobrevida e maior toxicidade, enfatizando a importância de compreender o panorama do tratamento para além dos cenários de ensaios controlados”, afirmaram os autores.

A Austrália tem uma das taxas mais altas de doenças associadas ao amianto, e o mesotelioma continua sendo uma necessidade médica não atendida, com uma sobrevida global (SG) em 5 anos de 10%. A imunoterapia de primeira linha com ipilimumabe e nivolumabe é agora um padrão de tratamento para o mesotelioma pleural irressecável após o ensaio CheckMate743 (CM743), com dados de apoio do ensaio de braço único MAPS2 em linhas subsequentes. O RIOMeso avalia a sobrevida e a toxicidade deste regime na prática do mundo real.

Os pesquisadores coletaram retrospectivamente dados demográficos e clinicopatológicos de pacientes australianos com mesotelioma pleural tratados com ipilimumabe e nivolumabe em cenários de primeira linha e linhas subseqüentes. A sobrevida foi relatada usando o método Kaplan-Meier e comparada entre subgrupos com o teste log rank. A toxicidade foi avaliada pelo investigador usando CTCAE v5.0.

Resultados

Foram identificados 119 pacientes em 11 centros. A idade média era de 72 anos, 83% eram do sexo masculino, 92% tinham ECOG ≤1, 50% eram fumantes anteriores ou atuais e 78% tinham exposição conhecida ao amianto. 50% eram epitelioides, 19% sarcomatoides, 14% bifásicos e 17% indisponíveis. Ipilimumabe e nivolumabe foram utilizados como tratamento de primeira linha em 75% dos pacientes.

A mediana de sobrevida global (mOS) foi de 14,5 meses (95% CI 13,0-NA) para toda a coorte. Para pacientes tratados em primeira linha, o mOS foi de 14,5 meses (95% CI 12,5-NA) e em pacientes tratados em segunda linha ou linhas posteriores foi de 15,4 meses (95% CI 11,2-NA). Não houve diferença estatisticamente significativa na mediana de sobrevida global para histologia epitelioide em comparação com não epitelioide (19,1 meses [95% CI 15,4-NA] vs 13,0 meses [95% CI 9,7-NA] respectivamente, P = 0,064).

Aproximadamente 24% dos pacientes apresentaram um evento adverso de grau CTCAE ≥ 3, incluindo 3 mortes relacionadas ao tratamento. A colite foi o evento adverso mais frequente.

Em síntese, a imunoterapia combinada na prática do mundo real tem piores resultados de sobrevida e parece conferir maior toxicidade em comparação com os dados dos ensaios clínicos.

“Certamente, há benefícios de sobrevida do regime Checkmate743 em relação à quimioterapia, especialmente no grupo não epitelioide. No entanto, talvez haja mais equilíbrio em pacientes epitelioides. A seleção cuidadosa dos pacientes pode mitigar parte do risco de toxicidade”, concluíram os autores. 

Referência: McNamee N, Harvey C, Gray L, Khoo T, Lingam L, Zhang B, Nindra U, Yip P, Pal A, Clay T, Arulananda S, Itchins M, Pavlakis N, Kao S, Bowyer S, Chin V, Warburton L, Pires da Silva I, John T, Solomon B, Alexander M, Nagrial A, Brief Report: Real-world toxicity and survival of combination immunotherapy in pleural mesothelioma - RIOMeso, Journal of Thoracic Oncology (2023), doi: https://doi.org/10.1016/j.jtho.2023.11.014.