Estudo retrospectivo realizado por pesquisadores da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo – buscou avaliar a eficácia de supressão da função ovariana com gosserrelina trimestral em comparação com gosserrelina mensal, associada com um inibidor de aromatase, em pacientes na pré-menopausa com câncer de mama receptor de estrogênio (ER) positivo. Os resultados foram selecionados para apresentação em pôster no ASCO 2023. Daniella Audi Blotta é a primeira autora do trabalho, que tem como autor sênior o oncologista Antonio Carlos Buzaid.

“A análise combinada dos ensaios Suppression of Ovarian Function Trial (SOFT) e Tamoxifen and Exemestane Trial (TEXT) mostraram benefício de sobrevida significativo ao adicionar supressão da função ovariana (do inglês, OFS - ovarian function suppression) com agonistas de GnRH (GnRHa) a inibidores de aromatase versus tamoxifeno em pacientes na pré-menopausa com câncer de mama receptor de estrogênio positivo (ER+) de alto risco. Em ambos os estudos, o GnRHa foi administrado a cada 4 semanas. No entanto, a eficácia de GnRHa mais inibidor de aromatase a cada 3 meses não foi bem estudada”, contextualizam os autores.

No estudo, os pesquisadores revisaram os prontuários de pacientes na pré-menopausa com câncer de mama ER-positivo que receberam supressão da função ovariana com 10,8mg de gosserrelina mais inibidor de aromatase a cada 3 meses ou 3,6mg de gosserrelina mais inibidor de aromatase mensal entre junho de 2013 e janeiro de 2023.

Foram analisadas características dos pacientes como idade, índice de massa corporal (IMC) e quimioterapia anterior. Os níveis de estradiol (E2) foram medidos por espectrometria de massa. Pacientes com pelo menos um nível de estradiol acima de 2,72 pg/ml foram consideradas com supressão da função ovariana ineficaz. A análise das medidas de estradiol foi dividida em períodos: < 3, 3 a 6, 6 a 9, 9 a 12, 12 a 18, 18 a 24 e > 24 meses. Níveis de estradiol superiores a 2,72 pg/ml foram avaliados em cada ponto de tempo.

Resultados

O estudo incluiu de 88 pacientes; 27 (30,7%) receberam gosserrelina mensal e 61 (69,3%) foram tratadas com gosserrelina trimestral. As características das pacientes foram bem equilibradas entre os grupos. Dados demográficos relevantes são mostrados na tabela 1.

Para análise de estradiol, 20 (22,7%) pacientes tiveram pelo menos uma medição maior que 2,72 pg/ml, 11 (40,7%) no grupo mensal e 9 (14,8%) no grupo trimestral (p = 0,007). As porcentagens de medições de E2 ≥ 2,72 pg/ml, em cada período de tempo, foram 0%, 40%, 12,5%, 16,7%, 33,3%, 50% e 50% no grupo mensal versus 8%, 4,2%, 10%, 14,3%, 4,8%, 8,3% e 5,6%, no grupo trimestral, respectivamente.

“Nosso estudo demonstrou que o grupo que recebeu gosserrelina trimestral apresentou menor porcentagem de pacientes com niveis de estradiol acima do limite desejável para uma supressão ovariana eficaz. Os dados são relevantes, uma vez que o regime trimestral de gosserrelina proporciona maior conveniência para as pacientes”, observa Daniella.

Buzaid ressalta que ainda é comum no mundo todo a administração de LHRHa mensalmente julgando que administração mais frequente do análogo resulta em melhor eficácia. “O que observamos é exatamente o contrário. Este estudo irá mudar a prática de muitos oncologistas. O dado é preliminar, e julgamos importante um estudo confirmatório”, conclui Buzaid, Diretor Médico Geral do Centro de Oncologia da BP. 

Referência: Efficacy of ovarian function suppression of 3-monthly versus monthly GnRH agonist as endocrine therapy for premenopausal breast cancer patients.
First Author: Daniella Audi Blotta, MD
Meeting: 2023 ASCO Annual Meeting
Session Type: Poster Session
Session Title: Breast Cancer—Local/Regional/Adjuvant
Track: Breast Cancer—Local/Regional/Adjuvant
Subtrack: Adjuvant Therapy
Abstract #: 527