O risco de exposição à radiação da por tomografia computadorizada (TC) padrão é uma grande preocupação na vigilância de pacientes com seminoma testicular em estágio I. O estudo randomizado TRISST demonstrou que a vigilância eficaz pode ser alcançada com um cronograma de exames de imagem reduzido e uso da ressonância magnética (MRI) em vez de TC. Agora, análise apresentada no ASCO GU`23 avaliou a custo-efetividade dos diferentes esquemas de vigilância em pacientes com seminoma no Reino Unido, indicando que 3 varreduras por MRI podem substituir a vigilância atual mais longa por TC. O oncologista Flavio Mavignier Cárcano (foto) comenta os resultados.

“O seminoma estágio I é uma doença que possui taxas de cura próximas ao 100%. Mesmo a doença com fatores de risco para recidiva têm sido manejadas com seguimento após a orquiectomia, devido às altas taxas de resgate, seja com radio ou quimioterapia, em caso de recidiva. Embora os riscos da radiação sejam baixos com uso da tomografia para o seguimento, seria desejável que a frequência dos exames fosse menor, diminuindo consequentemente também a exposição ao contraste, à radiação e os custos em uma doença tão curável”, esclarece Cárcano, médico do Grupo Oncoclínicas – Oncobio (Belo Horizonte).

Neste estudo, foram randomizados 669 homens com seminoma estagio I, para 4 grupos de vigilância, submetidos a 7 TCs em 5 anos, 3 TCs em 3 anos, 7 MRI ou 3 MRI do retroperitônio. Uso de recursos (incluindo investigações, exames, hospitalizações e tratamento para recaída) e dados de resultados de saúde (EQ-5D 3L) de cada paciente foram coletados no início e durante um período de 6 anos após a randomização. Os recursos de saúde foram calculados usando custos unitários nacionais publicamente disponíveis. Os custos totais médios dentro do ensaio e os anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs) foram estimados para cada esquema alternativo. Na perspectiva do sistema de saúde do Reino Unido, a relação custo-efetividade foi avaliada usando uma estrutura de custo por ganho de QALY. A análise de sensibilidade probabilística foi usada para refletir a incerteza dos parâmetros e avaliar a robustez dos resultados.

Os dados apresentados no ASCO GU`23 mostram que a maior parte do consumo de recursos de saúde (76%) ocorreu durante o período livre da doença, quando apenas 82 homens (12%) tiveram recaídas. Os pacientes submetidos a 7 MRIs produziram, em média, benefícios de saúde ligeiramente maiores (5,20 QALYs), mas com custos mais altos. Em comparação com 7 TCs, 7 MRIs tiveram 63% de probabilidade de ser custo-efetivas. 3 MRIs tiveram custos e benefícios semelhantes a 7 TCs, enquanto 3 TCs foram mais caras do que 7 TCs e 3 MRIs, proporcionando benefícios marginais.

Em conclusão, os resultados mostram pequenas variações nos custos totais e QALYs totais entre diferentes estratégias. Um cronograma de ressonância magnética de 7 varreduras rendeu mais benefícios à saúde do que outras estratégias, mas a custos mais elevados. Os autores destacam que um cronograma de MRI de 3 varreduras pode ser a melhor opção para substituir a prática atual de vigilância mais longa baseada em TC.

“O estudo TRISST traz esta opção para se discutir com o paciente qual seria o melhor modelo para seguimento da doença, tendo como opção o uso da MRI em uma frequência menor. Uma frequência de exames em 6, 18 e 36 meses parece razoável e não parece interferir nas taxas de cura. Porém, pacientes mais ansiosos podem não tolerar um intervalo mais longo para informações de imagem no seguimento”, avalia Cárcano.

“Além disso, os custos dos exames de imagem possivelmente não são equivalentes entre o Reino Unido e outros países como o Brasil, não sendo possível reproduzir com exatidão os resultados de custo-efetividade do estudo TRISST fora do Reino Unido. Reduzir custos mantendo a efetividade dos resultados clínicos deve ser sempre uma meta em cuidados com a saúde, principalmente quando o financiamento é público, como no Brasil e Reino Unido”, conclui.

Informações sobre ensaios clínicos: NCT00589537.

Referência: Comparative cost-effectiveness of alternative imaging and surveillance schedules for testicular seminoma in the TRISST trial.
First Author: Dacheng Huo
Meeting: 2023 ASCO GU Cancers Symposium
Session Type: Oral Abstract Session
Session Title: Oral Abstract Session C: Renal and Rare Tumors
Track: Renal Cell Cancer,Adrenal Cancer,Penile Cancer,Testicular Cancer,Urethral Cancer
Sub Track: Diagnostics and Imaging
Clinical Trial Registration Number: NCT00589537
Citation: J Clin Oncol 41, 2023 (suppl 6; abstr 408)
DOI 10.1200/JCO.2023.41.6_suppl.408
Abstract #: 408