Estudo destacado em General Session no SABCS 2023 comparou resultados oncológicos em pacientes tratados com e sem dissecção axilar (ALND) após a identificação de células tumorais isoladas residuais no linfonodo sentinela pós-quimioterapia (QT) neoadjuvante. O trabalho tem participação brasileira, dos mastologistas Cícero Urban, Daniel Barbalho, Flavia Vidal Cabero, Leonardo Soares e Natália Polidorio, com resultados que não apoiam a ALND de rotina nesses pacientes.
Em pacientes com micro e macrometástases no linfonodo sentinela (SLN) após quimioterapia neoadjuvante, linfonodos positivos adicionais são encontrados em >60% dos casos e a dissecção de linfonodos axilares (ALND) é atualmente considerada padrão de tratamento. A probabilidade de encontrar linfonodos positivos adicionais em pacientes com células tumorais isoladas residuais (ITCs) é desconhecida e o benefício da ALND não é claro. Como consequência, a cirurgia para o manejo da axila nesses pacientes não é padronizada.
Neste estudo, foram coletados dados em 42 centros: 20 nas redes Oncoplastic Breast Consortium (OPBC) e EUBREAST, e 22 em centros da América do Sul e Norte. A análise incluiu pacientes com câncer de mama não metastático submetidos à quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia, nas quais foram identificadas ITCs no estadiamento cirúrgico axilar. Pacientes foram divididas em dois grupos: pacientes submetidas a ALND e pacientes com omissão da ALND. Os pesquisadores realizaram análise de risco concorrente para avaliar as taxas de incidência cumulativas de recorrência axilar (RA), recorrência locorregional (LRR) e recorrência a distância. Taxas de incidência cumulativa em cinco anos foram comparadas entre os grupos com significância estabelecida em p≤ 0.05.
Os resultados foram baseados em 412 pacientes inscritos tratados com quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia, no período de janeiro de 2009 a maio de 2022. Desse total, 146 (35,4%) tinham realizado ALND. A idade média dos pacientes foi de 48 anos. Os pesquisadores descrevem que a maioria (57%) dos pacientes tinha tumores clínicos T2 e 68% tinham doença N1 comprovada por biópsia. A maioria era HR+/HER2- (41%) ou HER2+ (39%). Os pacientes foram tratados majoritariamente (80%) com regimes de quimioterapia com antraciclina e taxano. A RT nodal foi administrada a 83% dos pacientes. A mediana de SLNs com ITCs foi 1. Os pacientes tratados com ALND tiveram maior probabilidade de ter ITCs detectadas em corte congelado (61% v 6,7%, p<0,001), ter doença N2/3 na apresentação (15,1% v 5,6%, p=0,001) e ter LVI (40% v 26%, p=0,004) (veja tabela abaixo).
A análise mostra que não houve tendência significativa ao longo do tempo na proporção de pacientes submetidos à conclusão do ALND durante o período de estudo (p=0,5). No grupo ALND, foram encontrados linfonodos positivos adicionais em 43/146 (29,5%) dos casos, com macrometástases em 11/146 (7,5%), micrometástases em 9/146 (6,2%) e TIC em 23/146 (15,8%). As taxas de 5 anos de qualquer recorrência axilar, recorrência locorregional e qualquer recorrência invasiva em toda a coorte foram de 2,7% (IC 95% 1,2-5,4), 2,8% (IC 95% 1,2-5,4) e 16% (IC 95% 11-21), respectivamente. Não houve diferença estatística entre os pacientes que foram submetidos a ALND e aqueles que não fizeram ALND em nenhum dos 3 desfechos (2,2% v 3,1%, p = 0,6), (2,6% v 3,0%, p=0,4) e (14% v 18%, p=0,12), respectivamente.
“A probabilidade de encontrar linfonodos positivos adicionais em pacientes com ITCs após NAC são menores do que em pacientes com micro e macrometástases residuais e, na maioria dos casos, contêm ITCs. A recorrência nodal após a omissão da ALND é rara nesta população. No geral, estes resultados não apoiam ALND de rotina em pacientes com ITCs residuais.
Cícero Urban é mastologista do Centro de Doenças da Mama do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, Flavia Vidal Cabero é mastologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo; Leonardo Soares é mastologista da Universidade Federal de Goiás e Natália Polidorio está atualmente no Memorial Sloan Kettering Cancer Center.
Full cohort n = 412 |
SLNB/TAD only n = 266 |
SLNB/TAD + ALND n = 146 |
p-value |
|
Age, median, years (IQR) |
48 (41,57) |
48 (40, 57) |
49 (43, 58) |
0.2 |
Race/ethnicity |
> 0.9 |
|||
Asian |
31 (7.5) |
19 (7.1) |
12 (8.2) |
|
Black |
17 (4.1) |
12 (4.5) |
5 (3.4) |
|
Hispanic |
19 (4.6) |
12 (4.5) |
7 (4.8) |
|
White |
338 (82) |
219 (82) |
119 (82) |
|
Other/unknown |
7 (1.7) |
4 (1.5) |
3 (2.1) |
|
Clinicai T category |
0.086 |
|||
1 |
75 (18) |
51 (19) |
24 (16) |
|
2 |
234 (57) |
143 (54) |
91 (62) |
|
3 |
90 (22) |
66 (25) |
24 (16) |
|
4 |
12 (2.9) |
6 (2.3) |
6 (4.1) |
|
X |
1(0.2) |
0 (0) |
1(0.7) |
|
Clinical N category |
0.001 |
|||
0 |
96 (23) |
73 (27) |
23 (16) |
|
1 |
279 (68) |
178 (67) |
101 (69) |
|
2 |
31 (7.5) |
12 (4.5) |
19 (13) |
|
3 |
6 (1.5) |
3 (1.1) |
3 (2.1) |
|
Staging technique |
0.3 |
|||
SLNB |
286 (69) |
180 (68) |
106 (73) |
|
TAD |
126 (31) |
86 (32) |
40 (27) |
|
Number of SLNs removed, median (IQR) |
3 (2, 4) |
3 (2, 4.75) |
3 (1, 4) |
<0.001 |
ITCs detected on frozen section |
<0.001 |
|||
Yes |
100 (26) |
17 (6.7) |
83 (61) |
|
No |
292 (74) |
238 (93.3) |
54 (39) |
|
Not performed/unknown |
20 |
11 |
9 |
|
Number of SLNs with ITCs, median (IQR) |
1(1, 1) |
1(1, 1) |
1(1, 1) |
0.5 |
Total number of LNs removed, median (IQR) |
6 (4,12) |
4 (3, 5) |
14 (11, 19) |
<0.001 |
Total number of positive LNs, median (IQR) |
1(1, 2) |
1(1, 1) |
1(1, 2) |
<0.001 |
Breast pCR (ypTO/is) |
0.9 |
|||
Yes |
119 (29) |
76 (29) |
43 (29) |
|
No |
293 (71) |
190 (71) |
103 (71) |
|
NAC regimens HER2- tumors' |
0.4 |
|||
ACT |
208 (83) |
137 (84) |
71 (81) |
|
ACT + Platinum |
17 (6.7) |
8 (4.9) |
9 (10) |
|
AC-T + Platinum with Pembrolizumab |
7 (2.8) |
4 (2.4) |
3 (3.4) |
|
AC free regimen |
7 (2.8) |
6 (3.7) |
1(1.1) |
|
Other |
13 (5.2) |
9 (5.5) |
4 (4.5) |
|
NAC regimens HER2+ tumors |
0.2 |
|||
ACT-H |
43 (27) |
25 (25) |
18 (31) |
|
ACT-HP |
54 (34) |
36 (35) |
18 (31) |
|
TC-HP |
31 (19) |
24 (24) |
7 (12) |
|
Other |
32 (20) |
17 (17) |
15 (26) |
|
Histology |
0.066 |
|||
Ductal |
365 (89) |
232 (88) |
133 (92) |
|
Lobular or mixed |
38 (9.3) |
30 (11) |
8 (5.5) |
|
Other |
7 (1.7) |
3 (1.1) |
4 (2.8) |
|
Unknown |
2 |
1 |
1 |
|
Tumor differentiation |
0.2 |
|||
Well |
25 (6.6) |
20 (8) |
5 (4) |
|
Moderately |
137 (36) |
95 (38) |
42 (33) |
|
Poorly |
215 (57) |
136 (54) |
79 (63) |
|
Unknown |
35 |
15 |
20 |
|
Subtype |
06 |
|||
HR+/ HER2- |
169 (41) |
107 (40) |
62 (42) |
|
HR+/ HER2+ |
116 (28) |
71 (27) |
45 (31) |
|
HR-/HER2+ |
44 (11) |
31 (12) |
13 (8.9) |
|
HR-/HER2- |
83 (20) |
57 (21) |
26 (18) |
|
LVI# |
127 (31) |
69 (26) |
58 (40) |
0.004 |
Type of breast surgery |
0.5 |
|||
BCS |
175 (42) |
116 (44) |
59 (40) |
|
Mastectomy |
237 (58) |
150 (56) |
87 (60) |
|
Whole breast radiotherapy |
0.3 |
|||
Yes |
171 (98) |
112 (97) |
59 (100) |
|
Postmastectomy radiotherapy |
0.056 |
|||
Yes |
203 (86) |
123 (83) |
80 (92) |
|
No |
32 (14) |
25 (17) |
7 (8) |
|
Unknown |
2 |
2 |
0 |
|
Nodal radiotherapy |
0.3 |
|||
Yes |
338 (83) |
214 (81) |
124 (86) |
|
No |
70 (17) |
49 (19) |
21 (14) |
|
Unknown |
4 |
3 |
1 |
Referência: GS02-02 Are nodal ITCs after neoadjuvant chemotherapy an indication for axillary dissection? The OPBC05/EUBREAST-14R/ICARO study. Giacomo Montagna et al.