Jean Schoueri (na foto, à esquerda), é primeiro autor de estudo selecionado no WCLC 2023, que analisa o impacto da COVID-19 nas curvas epidemiológicas de câncer de pulmão no Brasil e nas despesas orçamentárias dos sistemas de saúde brasileiro. O oncologista Auro del Giglio é o autor sênior do trabalho.

O câncer de pulmão (CP) é a principal causa de mortalidade por câncer e ocupa o quarto tipo de câncer mais comum no Brasil. Apesar das melhorias no acesso a tratamentos inovadores, disparidades significativas no acesso aos cuidados de saúde persistem no país.  Além disso, a pandemia de COVID-19 pode ter exacerbado os desafios enfrentados pelos sistemas de saúde brasileiro no combate ao câncer de pulmão.

Neste estudo ecológico, os pesquisadores se basearam em dados do sistema público de saúde referentes ao câncer de pulmão, no período de 2000 a 2020. Tanto a mortalidade, ajustada pela população padrão da Organização Mundial da Saúde, quanto as taxas de internação hospitalar foram calculadas por 100 mil habitantes e estratificadas por sexo. A regressão linear foi realizada para definir tendências temporais. A correlação de Spearman foi utilizada para avaliar a associação entre mortalidade e taxas de tabagismo. Para estimar o impacto orçamentário causado pela mudança no estadiamento do diagnóstico por COVID-19, foi realizada uma análise de microcusteio.

Os resultados apresentados no WCLC 2023 mostram que de 2000 a 2020 foi observada redução na mortalidade por câncer de pulmão ajustada à idade entre a população masculina. No entanto, o oposto foi observado entre as mulheres. Os autores descrevem que houve associação positiva entre mortalidade e tabagismo entre os homens, mas a relação foi inversamente proporcional para as mulheres. A mortalidade diminuiu nas regiões mais desenvolvidas do Brasil (Sudeste e Sul) e aumentou nas regiões menos desenvolvidas (Norte e Nordeste).

As internações por câncer de pulmão apresentaram aumento progressivo ao longo dos anos. Entre 2020-2021 houve uma tendência decrescente nas hospitalizações por câncer de pulmão, provavelmente em consequência da COVID-19. Além disso, a mortalidade ajustada pelo câncer de pulmão diminuiu no período mais urgente da pandemia. No mesmo período, parece não ter havido maior atraso no início do tratamento, mas a proporção de pacientes com diagnóstico precoce diminuiu entre pacientes com plano de saúde privado (-19%) e mulheres (-33%). Para os autores, essa mudança tem o potencial de aumentar o custo dos cuidados em aproximadamente 4% na saúde privada e em 0,5% no ambiente de saúde pública.

“A mortalidade por câncer de pulmão vinha diminuindo nas regiões mais desenvolvidas do país e também entre os homens, mas a COVID-19 provocou uma alteração tanto nas curvas epidemiológicas, como nas despesas orçamentárias”, concluem os autores.

TABELA: Tendência temporal e variabilidade das internações hospitalares, mortalidade por câncer de pulmão e taxas de tabagismo no Brasil

Referência: P2.28-01 - Lung Cancer Mortality in Brazil: Temporal Trends, Regional Disparities and the Impact of the COVID-19 Pandemic - J.H. Maselli-Schoueri¹, M.A. Fonseca Magalhães Filho², P. Aguiar Jr³, A. del Giglio¹ - ¹ABC Medical School, Santo André/BR ,²Beneficência Portuguesa - São Paulo, São Paulo/BR ,³Grupo Oncoclínicas, São Paulo/BR