Onconews - ADAURA: Osimertinibe adjuvante aumenta sobrevida global no CPCNP

O tratamento adjuvante com osimertinibe (Tagrisso®, Astrazeneca) reduz significativamente o risco de morte em adultos com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) completamente ressecado, com mutação no EGFR (EGFRm) e doença estágio IB, II ou IIIA. É o que mostra a análise final de sobrevida global do estudo de fase 3 ADAURA apresentada pelo oncologista Roy Herbst, do Yale Cancer Center, em Sessão Plenária (LBA3) no ASCO 2023, com resultados que reforçam osimertinibe adjuvante como o padrão atual de tratamento para esses pacientes.1 Os resultados foram publicados simultaneamente no New England Journal of Medicine (NEJM).2

Neste ensaio foram inscritos pacientes adultos (com idade ≥18 anos [≥20 no Japão e Taiwan] e com bom status de desempenho (PS 0/1 da OMS), com CPCNP com mutação EGFR (EGFRm) totalmente ressecado (ex19del/L858R), doença estágio IB, II ou IIIA (AJCC/UICC 7ª edição). Os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para receber osimertinibe 80 mg uma vez ao dia, ou placebo, até a recorrência da doença, conclusão do tratamento em três anos ou critério de descontinuação. O endpoint primário foi sobrevida livre de doença (SLD) no estágio IIꟷIIIA. Endpoints secundários incluíram SLD no estágio IBꟷIIIA, sobrevida global (SG) e segurança.

Osimertinibe é um EGFR-TKI de terceira geração com atividade no sistema nervoso central (SNC), que inibe seletivamente a sensibilização do EGFR-TKI e as mutações de resistência EGFR T790M. Na análise primária do estudo ADAURA de fase III (NCT02511106), osimertinibe adjuvante demonstrou benefício estatístico e clinicamente significativo que mudou a prática em pacientes com CPCNP EGFRm completamente ressecado (ex19del/L858R), com ou sem quimioterapia adjuvante.

“O endpoint primário de sobrevida livre de doença já tinha sido apresentado, foi um dado positivo, com um hazard ratio que chamou bastante a atenção. Agora, no ASCO 2023, foi apresentado a análise de sobrevida global, um dado muito importante em estudos de adjuvância”, afirma a oncologista Clarissa Baldotto, diretora do Núcleo de Integração Oncológica no Oncologia D'Or e presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT).

Resultados

682 pacientes foram randomizados 1:1 para receber osimertinibe (n = 339) ou placebo (n = 343). Foram inscritos pacientes entre 30 e 86 anos, com idade média de 64 anos no braço osimertinibe e de 62 anos no braço placebo. Aproximadamente dois terços dos pacientes inscritos não tinham histórico de tabagismo, eram asiáticos e mulheres.

Em pacientes com doença em estágio IIꟷIIIA, osimertinibe adjuvante reduziu em 51% o risco de morte (HR= 0,49 (95% CI 0,33, 0,73); p = 0,0004; 100/470 eventos, 21% maturidade). A taxa de SG em 5 anos foi de 85% com osimertinibe versus 73% com placebo. O seguimento mediano para SG no estágio IIꟷIIIA foi de 59,9 meses (osimertinibe) e 56,2 meses (placebo).

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Na população geral (estágio IBꟷIIIA), pacientes que receberam osimertinibe também tiveram redução significativa no risco de morte (HR= 0,49 (95% CI 0,34, 0,70); p < 0,0001; 124/682 eventos, 18% de maturidade). A taxa de SG em 5 anos foi de 88% com osimertinibe versus 78% com placebo, com seguimento mediano para SG de 60,4 meses (osimertinibe) e 59,4 meses (placebo). A SG mediana não foi alcançada nem na população geral, nem no grupo de tratamento.

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Análise de subgrupos

Os resultados mostram que o benefício de SG com osimertinibe adjuvante foi observado de forma consistente em todos os subgrupos predefinidos. “Esse dado é importante porque quando falamos de um estudo longo, de adjuvância, nós gostaríamos de encontrar nichos ou subgrupos e tentar entender quem deriva maior benefício. Nesse estudo observamos que a tendência foi de benefício em todos os subgrupos, fumantes e não fumantes, estágios IB, II e IIIA e nos diferentes tipos de mutação. O benefício foi maior na deleção do exon 19, semelhante com o que acontece na doença metastática, mas a tendencia é de benefício em todos os tipos de mutação, inclusive para os pacientes que receberam quimioterapia neoadjuvante versus os pacientes que não receberam”, observa Clarissa.

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Em síntese, o tratamento adjuvante com osimertinibe para CPCNP EGFRm estágio IB–IIIA melhora significativamente a sobrevida quando adicionado ao tratamento padrão de cirurgia com ou sem quimioterapia, reforçando osimertinibe adjuvante como o padrão atual de tratamento para esses pacientes.

Segundo a oncologista Carla Rameri de Azevedo, médica na Oncologia D´Or, em Recife, o dado de sobrevida global consolida uma mudança de prática que já vinha acontecendo. “É uma mudança de paradigma no entendimento dos inibidores de tirosina quinase (TKI) na adjuvância. Fica a dúvida sobre o que fazer com outras mutações, inclusive mais raras, o quanto vamos absorver desse conceito para outras mutações como ALK, ROS1, MET, e mesmo dentro dos EGFR-mutados, o que fazer nas mutações incomuns, nas quais a magnitude de benefício é menor. Existem alguns estudos em andamento, mas não sei se teremos a robustez que o ADAURA traz em termos de números de pacientes”, avalia.

Baldotto acrescenta que um aspecto importante reforçado pelo estudo é a necessidade de testagem na doença inicial. “Com esses resultados, fica muito claro a importância de fazer testes moleculares para os pacientes com doença inicial, assim como já é feito na doença metastática”, conclui.

O estudo ADAURA foi realizado em 26 países na Europa, Ásia-Pacífico, América do Norte e América do Sul (NCT02511106). Dados já publicados mostram que 66% (n = 222) dos participantes do grupo osimertinibe e 41% (n = 139) dos participantes do grupo placebo completaram a duração planejada do tratamento de 3 anos. Os eventos adversos levaram à descontinuação do tratamento em 13% (n = 43) dos participantes do grupo osimertinibe e em 3% (n = 9) dos participantes do grupo placebo. 

O câncer de pulmão é a principal causa de morte global por câncer, sendo responsável por quase 1,8 milhão de mortes a cada ano. O câncer de pulmão EGFRm representa aproximadamente 30-40% dos casos de câncer de pulmão na Ásia e cerca de 10-25% dos casos de câncer de pulmão nos Estados Unidos (EUA) e Europa. No Brasil, estimativas do INCA para o triênio 2023-2025 apontam 32 mil novos casos de câncer pulmão3.

Assista vídeo sobre o mesmo tema:

ASCO 2023: Sobrevida global de osimertinibe adjuvante no CPCNP
As oncologistas Clarissa Baldotto e Carla Rameri de Azevedo discutem em vídeo a análise final de sobrevida global do estudo de fase 3 ADAURA, apresentada em Sessão Plenária (LBA3) no ASCO 2023. Publicados simultaneamente no New England Journal of Medicine (NEJM), os resultados reforçam osimertinibe adjuvante como o padrão atual de tratamento para esses pacientes. Assista na TV Onconews. 

 

Referências:

  1. Osimertinib After Surgery Significantly Improves Survival in Patients with Resected EGFR-Mutated Non-Small Cell Lung Cancer
    First Author:Roy S. Herbst, MD, PhD
    Meeting: 2023 ASCO Annual Meeting
    Session Type: Plenary Session
    Session Title: Plenary Session
    Track: Lung Cancer—Non-Small Cell Local-Regional/Small Cell/Other Thoracic Cancers
    Subtrack: Adjuvant Therapy
    Abstract #: LBA3
  2. Overall Survival with Osimertinib in Resected EGFR-Mutated NSCLC - Masahiro Tsuboi, M.D., Roy S. Herbst, M.D., Ph.D., Thomas John, M.B., B.S., Ph.D., Terufumi Kato, M.D., Margarita Majem, M.D., Ph.D., Christian Grohé, M.D., Jie Wang, M.D., Ph.D., Jonathan W. Goldman, M.D., Shun Lu, M.D., Wu-Chou Su, M.D., Filippo de Marinis, M.D., Frances A. Shepherd, M.D., et al., for the ADAURA Investigators - June 4, 2023. DOI: 10.1056/NEJMoa2304594 https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2304594
  3. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2022