Onconews - Avaliação do grau histológico pré-operatório no câncer de endométrio

Thales_Cirurgia_NET_OK.jpgEm artigo exclusivo, o cirurgião oncológico Thales Paulo Batista (foto), do Hospital de Câncer de Pernambuco e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), comenta estudo que avalia a utilização de abordagens mais seletivas dos linfonodos em pacientes com câncer de endométrio em estágio inicial.

*Thales P. Batista
 
A tendência de redução da radicalidade cirúrgica para o tratamento de cânceres ginecológicos de baixo risco tem ampliado o debate sobre a utilização de abordagens mais seletivas dos linfonodos em pacientes com câncer de endométrio em estágio inicial. Em estudo recentemente publicado, Batista e colaboradores, do Hospital de Câncer de Pernambuco e do IMIP, apresentam dados brasileiros confirmando evidências prévias de que a biópsia endometrial pré-operatória, por curetagem ou histeroscopia, é um preditor apenas modesto do grau histológico em carcinomas endometrióides, o que pode subestimar a necessidade de linfadenectomia em pacientes com doença clinicamente inicial, se considerado isoladamente. O assunto esteve na agenda do II Congresso Norte/Nordeste da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) realizado de 30 de junho a 2 de julho, em Porto de Galinhas, com o tema ‘O cirurgião como elo do tratamento multidisciplinar’. 
 
O estudo apresenta resultados de análise retrospectiva envolvendo dados de79 pacientes do Hospital de Câncer de Pernambuco e do IMIP/FPS, com o objetivo de explorar a acurácia da biópsia pré-operatória para a identificação do grau histológico em carcinomas uterinos. Os dados finais, a despeito das limitações metodológicas, sugerem que a biópsia endometrial pré-operatória seja um preditor apenas modesto do grau histológico em carcinomas endometrióides, o que pode subestimar a necessidade de linfadenectomia em pacientes com doença clinicamente inicial, se considerado isoladamente.
 
Segundo os autores, o diagnóstico pré-operatório de grau 1 modificou-se para grau 2 ou 3 em 15,2% dos pacientes ao exame dos espécimes cirúrgicos de histerectomia. Isto se correlacionou com sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo (NPV), valor preditivo positivo (PPV) e acurácia do diagnóstico pré-operatório de grau 1 de 67,2%, 66,7%, 42,4%, 84,8% e 67.1%, respectivamente.
 
Avaliando-se estes dados por meio de estatística Kappa (k), pôde-se observar que a concordância pré e pós-operatória do grau histológico foi apenas “fraca” (κ= 0.221; 95%CI = 0.389 – 0.053; p = 0.01).
 
Apesar destes resultados, baseando-se no VPP encontrado, os autores sugerem que o do grau histológico pré-operatório ainda possa servir para a estratificação do risco de envolvimento linfonodal, se utilizado em combinação com marcador CA-125 e ultrassonografia transvaginal e achados transoperatórios, o que possivelmente seria uma abordagem mais custo-efetiva do que a realização sistemática de ressonância magnética da pelve em pacientes da rede pública de saúde (i.e.: SUS).
 
A proposta também se apoia em evidências de que a disseminação linfonodal para-aórtica seja um evento raro quando da ausência de envolvimento linfonodal pélvico e doença extra-uterina clinicamente evidente. Neste sentido, os autores propõem como abordagem seletiva evitar a dissecção linfonodal em tumores IAG1, reservando linfadenectomia apenas pélvica para pacientes com risco intermediário de metástases linfonodais, isto com o intuito de se reduzir a morbidade de um procedimento mais radical. Por outro lado, em tumores IBG3, ou para aqueles pacientes com alto nível sérico de CA-125 no pré-operatório, a recomendação ainda prevê a necessidade de linfadenectomia sistemática, incluindo as regiões pélvica e para-aórtica.
 
*Autor: Thales P. Batista
Hospital de Câncer de Pernambuco
Faculdade Pernambucana de Saúde - Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira
 
Referência: Batista TP, Cavalcanti CL, Tejo AA, Bezerra AL. Accuracy of preoperative endometrial sampling diagnosis for predicting the final pathology grading in uterine endometrioid carcinoma. Eur J Surg Oncol. 2016 Mar 26. pii: S0748-7983(16)00391-7. doi: 10.1016/j.ejso.2016.03.009. [Epub ahead of print] PMID: 27052799