Qual o risco de insuficiência cardíaca em pacientes tratados com o inibidor de TKI-EGFR de terceira geração osimertinibe? Análise publicada no Journal of Clinical Oncology (JCO) demonstrou que uma baixa proporção de pacientes que receberam osimertinibe no programa de estudos clínicos relatou um evento adverso cardíaco, a maioria deles assintomáticos. A cardio-oncologista Ariane Vieira Scarlatelli Macedo (foto), vice-presidente do Grupo de Estudos de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia e coordenadora nacional da cardio-oncologia da Rede D’Or, comenta os resultados.
Os pesquisadores realizaram análises post hoc de dados cardíacos de estudos em pacientes com câncer avançado de pulmão de células não pequenas, FLAURA (osimertinibe, n=5.279; comparador EGFR-TKI, n=5.277) e AURA3 (osimertinibe, n=5.279; quimioterapia, n=5.140), além do conjunto de dados agrupados de pacientes tratados com osimertinibe 80 mg de todo o programa de ensaio clínico (n=5.142), incluindo eventos adversos relacionados à insuficiência cardíaca e redução da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), com uma análise farmacocinética ou farmacodinâmica da FEVE desse conjunto de dados. O banco de dados de segurança global do patrocinador foi analisado para eventos adversos relacionados à insuficiência cardíaca, e uma pesquisa bibliográfica foi realizada.
Resultados
Reduções na FEVE do baseline ≥ 10% para um valor absoluto de 50% após o tratamento com osimertinibe foram observadas em 8 (3,1%) e 14 (5,5%) pacientes nos estudos FLAURA e AURA3, respectivamente, e em 35 (3,9 %) pacientes na população agrupada.
A maioria dos eventos foi assintomática e resolvida sem tratamento do evento ou descontinuação do osimertinibe. A análise farmacocinética ou farmacodinâmica não indicou uma relação entre a exposição ao osimertinibe e diminuições na FEVE a partir do baseline. A pesquisa de banco de dados e da literatura também não indicou nenhuma tendência ou padrão específico que sugerisse um problema de segurança em pacientes em tratamento com osimertinibe.
“Esta revisão dos dados do programa de ensaios clínicos do osimertinibe não identificou uma relação causal entre o uso deste agente e cardiotoxicidade entre pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células avançado. Observou-se que a maioria dos eventos adversos relacionados à insuficiência cardíaca foram reduções assintomáticas da fração de ejeção que se resolveram sem modificação da dose de osimertinibe. Os eventos sintomáticos ocorreram principalmente em pacientes com doença cardiovascular pré-existente”, esclarece Ariane.
A cardio-oncologista ressalta que os achados indicam que o fator-chave no desenvolvimento de insuficiência cardíaca é um fator de risco cardíaco pré-existente, e não somente o uso de osimertinibe. “Assim, de acordo com a prática padrão, o monitoramento cardíaco, incluindo avaliação da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, deve ser realizado no início e durante o tratamento, principalmente em pacientes com fatores de risco cardíacos e naqueles que desenvolverem sinais ou sintomas de insuficiência cardíaca durante o tratamento”, orienta.
“Estes dados reforçam a importância de haver uma avaliação cardiovascular antes do início do tratamento de forma a selecionar os pacientes que necessitam de monitoramento mais rigoroso. A integração sistemática da cardio-oncologia mais uma vez se mostra essencial para gerenciar adequadamente os efeitos cardíacos da imunoterapia e das terapias-alvo”, conclui.
Referência: Cardiac Safety of Osimertinib: A Review of Data - Michael S. Ewer, MD, JD, PhD1; Sri Harsha Tekumalla, MSc2; Andrew Walding, MSc3; and Kwame N. Atuah, PhD2 - DOI: 10.1200/JCO.20.01171 Journal of Clinical Oncology - Published online December 23, 2020.