Dois estudos recentemente publicados desenvolveram uma nova forma de classificar os meningiomas, tumores para os quais não existem terapias medicamentosas eficazes. O oncologista André Murad (foto) discute os resultados dos trabalhos, em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’. Confira.
Por André Marcio Murad*
Os meningiomas são os tumores intracranianos primários mais comuns. Não existem terapias medicamentosas eficazes para pacientes portadores de meningioma, e novos tratamentos tÊm sido limitado pela má compreensão da biologia tumoral. Recentemente, foram publicados dois estudos distintos, mas complementares, que desenvolveram uma nova forma de classificar os meningiomas.
O novo sistema de agrupamento pode antever a probabilidade de recorrência após ressecção, os mecanismos moleculares envolvidos no crescimento tumoral e identificar diretrizes de tratamento baseadas nesta classificação.
Em um dos estudos, quatro grupos moleculares de consenso foram identificados, combinando-se as informações de aberrações somáticas de número de cópias de DNA, mutações pontuais somáticas de DNA, metilação de DNA e abundância de RNA mensageiro em uma análise unificada. Esses grupos moleculares previram com mais precisão os resultados clínicos e desfechos terapêuticos em comparação com os esquemas de classificação tradicionais. Cada grupo molecular apresentou biologia distinta e prototípica, quais sejam: imunogênica, NF2 benigna do tipo selvagem, hipermetabólica e proliferativa.
Em um segundo estudo, os autores utilizaram perfis de metilação de DNA em 565 meningiomas integrados com abordagens genéticas, transcriptômicas, bioquímicas, proteômicas e unicelulares para mostrar que os meningiomas são compostos por três grupos de metilação de DNA com resultados clínicos distintos, fatores biológicos e vulnerabilidades terapêuticas. Meningiomas intactos com Merlin (34%) têm os melhores resultados e são distinguidos pela regulação NF2/Merlin da suscetibilidade à terapia citotóxica. Meningiomas imuno-enriquecidos (38%) apresentam desfechos intermediários e se distinguem por infiltração imune, expressão de HLA e vasos linfáticos. Meningiomas hipermitóticos (28%) têm os piores resultados e se distinguem por mecanismos genéticos e epigenéticos convergentes que conduzem o ciclo celular e resistência à terapia citotóxica.
Para traduzir esses achados na prática clínica, os pesquisadores demonstraram que drogas inibidoras do ciclo celular como os inibidores de CDK4/6 atenuam o crescimento do meningioma em cultura de células, organoides, xenoenxertos e mesmo em pacientes.
Um dos estudos relata o emprego do abemaciclibe em três pacientes com meningiomas hipermitóticos recorrentes já politratados, inclusive com radioterapia. Houve reposta mensurável em todos eles, o que indica a necessidade de estudos subsequentes para se confirmar o real benefício desta e das demais terapias sugeridas pela nova classificação molecular.
*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da CETTRO Oncologia (DF)