Comparado com regimes baseados em capecitabina, trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) apresentou taxas de resposta mais altas e maior sobrevida no cenário de terceira linha de tratamento para pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo previamente tratados com trastuzumabe entansina (T-DM1). Os resultados do estudo de fase 3 DESTINY-Breast02 foram apresentados pelo oncologista Ian Krop, médico do Yale Cancer Center, no San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS 2022).
No ensaio clínico fase II, braço único, DESTINY-Breast01, T-DXd mostrou atividade clínica após segunda linha de tratamento para pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo previamente tratados com T-DM1, outro conjugado de anticorpo-medicamento direcionado a HER2. Esses resultados levaram à aprovação acelerada do T-DXd nos EUA em 2019 para pacientes com câncer de mama metastático ou irressecável que haviam recebido dois ou mais regimes prévios baseados em anti-HER2.
“Embora o estudo DESTINY-Breast01 tenha estabelecido o T-DXd como um novo tratamento para essa população, foi um estudo de fase II de tamanho modesto e braço único. O DESTINY-Breast02 foi concebido como um estudo confirmatório para o DESTINY-Breast01, para avaliar T-DXd versus tratamento de escolha do médico (TPC) em pacientes previamente tratados com T-DM1”, afirmou Ian Krop, diretor associado do centro de câncer para pesquisa clínica e chefe clínico de pesquisa do Yale Cancer Center.
“Além de confirmar o perfil risco-benefício favorável do T-DXd nesta população, esse estudo também foi importante para avaliar a eficácia de um conjugado de anticorpo-medicamento, T-DXd, em pacientes cujo câncer já progrediu a outro conjugado de anticorpo-medicamento, T-DM1”, observou Krop. “Este é o primeiro estudo randomizado a fazer essa importante pergunta”, acrescentou.
DESTINY-Breast02 (NCT03523585) é um estudo de fase 3 de T-DXd versus o tratamento de escolha do médico (TPC) em pacientes com câncer de mama metastático HER2+ confirmado centralmente, tratados anteriormente com trastuzumabe entansina (T-DM1).
Pacientes com câncer de mama metastático HER2+ foram randomizados 2:1 para receber T-DXd ou TPC (trastuzumabe + capecitabina ou lapatinibe + capecitabina) e estratificados pelo status do receptor hormonal (HR) (HR+/HR-), tratamento anterior com pertuzumabe e história de doença visceral. O endpoint primário desta análise primária time-driven foi a sobrevida livre de progressão (SLP), conforme determinado por revisão central independente cega (BICR).
O endpoint secundário principal foi a sobrevida global (SG). Outros endpoints secundários incluíram taxa de resposta objetiva confirmada (ORR) por BICR, duração da resposta (DoR) por BICR, SLP por avaliação do investigador, segurança e outros.
Resultados
608 pacientes foram randomizados para receber T-DXd (n = 406) ou TPC (n = 202). Os pacientes que receberam T-DXd e TPC tinham mediana de 54,2 anos de idade (intervalo, 22,4-88,5 anos) e 54,7 anos (intervalo, 24,7-86,5 anos), respectivamente, com uma mediana de 2 (intervalo, 0-10 e intervalo, 1-8) linhas anteriores de terapia sistêmica (excluindo terapia hormonal) no cenário metastático.
A mediana de duração do tratamento foi de 11,3 meses no braço T-DXd e aproximadamente 4,5 meses no braço TPC.
Entre os pacientes tratados com T-DXd, 69,7% experimentaram uma resposta objetiva (resposta completa de 14%), em comparação com 29,2% (resposta completa de 5,0%) dos pacientes tratados com TPC. Aqueles tratados com T-DXd também tiveram 64% menos probabilidade de sofrer progressão da doença do que pacientes recebendo TPC, com uma sobrevida livre de progressão mediana de 17,8 meses e 6,9 meses para pacientes nos braços T-DXd e TPC, respectivamente (HR, 0,36; IC 95%, 0,28-0,45; P <0,000001).
“Em relação à sobrevida livre de progressão, endpoint primário do estudo, este foi um estudo extremamente positivo para pacientes que utilizaram trastuzumabe deruxtecana. Além disso, chama a atenção que as curvas começam a se abrir muito no início, aproximadamente com dois meses já se vê uma distinção entre os grupos”, observa a oncologista Gisah Guilgen, médica do Instituto do Câncer e Transplante de Curitiba (ICT).
A sobrevida global também foi significativamente mais longa para pacientes tratados com T-DXd (39,2 meses com T-DXd vs. 26,5 meses com TPC; HR, 0,66; IC 95%, 0,50-0,86; P = 0,0021).
“Interessante notar também que 25,7% dos pacientes do grupo controle receberam posteriormente o T-DXd, e, ainda assim, os dados com relação à taxa de resposta foram marcantes: 69,7% de taxa de resposta para pacientes do braço de T-DXd comparado com 29,2% no braço controle, sendo 14% de resposta completa com T-DXd e apenas 5% no braço controle”, acrescenta Renata Cangussu, oncologista do Hospital Aliança e da Oncologia D’Or.
Os eventos adversos em pacientes que receberam T-DXd foram consistentes com estudos anteriores. Eventos adversos emergentes do tratamento de grau ≥3 (TEAEs) ocorreram em 52,7% e 44,1% dos pacientes que receberam T-DXd e TPC, respectivamente. A doença pulmonar intersticial (DPI / ILD) relacionada à droga ocorreu em 10,4% dos pacientes com T-DXd versus 0,5% dos pacientes com TPC. Nos pacientes que receberam T-DXd, a maioria dos casos de DPI / ILD (88,1%) era de grau ½ e DPI / ILD de grau 5 foi relatada em 2 (4,8%) pacientes.
Em síntese, esses dados, juntamente com os resultados relatados anteriormente do estudo DESTINY-Breast03 de T-DXd versus T-DM1, apoiam T-DXd como uma opção de tratamento em pacientes com câncer de mama metastático HER2+ progressivo em cenários amplos.
“Os resultados do DESTINY-Breast02 confirmam os achados do DESTINY-Breast01, demonstrando altos níveis de eficácia de T-DXd em pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo previamente tratados com T-DM1”, disse Krop. “Além disso, eles estendem essas descobertas, demonstrando que o T-DXd não é apenas altamente ativo, mas também superior aos esquemas convencionais baseados em quimioterapia nessa população de pacientes”, observou.
Uma limitação do trabalho foi que o braço de controle foi limitado a terapias baseadas em capecitabina, impedindo a comparação direta de T-DXd com regimes de tratamento contendo outros agentes quimioterápicos. Além disso, pacientes com metástases progressivas no sistema nervoso central não eram elegíveis para o estudo.
“Análises de acompanhamento podem avaliar os resultados relatados pelos pacientes neste estudo, e estudos adicionais podem examinar eventos adversos, eficácia e segurança do tratamento em pacientes com metástases no sistema nervoso central”, observou Krop. Estudos em andamento também estão avaliando o T-DXd como uma terapia de primeira linha para pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo e para pacientes com doença em estágio inicial.
O ensaio DESTINY-Breast02 foi concebido e financiado pela Daiichi Sankyo em colaboração com a AstraZeneca.
Assista sobre o mesmo tema:
T-DXd mostra resultados em pacientes previamente tratados com T-DM1
As oncologistas Gisah Guilgen e Renata Cangussu discutem o estudo DESTINY-Breast02, apresentado no SABCS 2022. O trabalho demonstrou taxas de resposta mais altas e maior sobrevida do T-DXd no cenário de terceira linha em pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo previamente tratados com T-DM1. Assista.
Referências:
- Abstract GS2-01 – Trastuzumab deruxtecan vs physician’s choice in patients with HER2+ unresectable and/or metastatic breast cancer previously treated with trastuzumab emtansine: primary results of the randomized, phase 3 study DESTINY-Breast02 – Presenting Author: Ian Krop, MD, PhD – Dana-Farber Cancer Institute. San Antonio Breast Cancer Symposium, 2022.
- NIH. U.S National Library of Medicine. DS-8201a in Pre-treated HER2 Breast Cancer That Cannot be Surgically Removed or Has Spread [DESTINY-Breast02]. Disponível em: https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT03523585.
- Cortés J, Kim S-B, Chung W-P, et al. Trastuzumab deruxtecan versus trastuzumab emtansine for breast cancer. N Engl J Med 2022;386:1143-54. https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2115022