De acordo com um grande estudo de base populacional que observou homens com recaída do PSA após cirurgia de próstata ou radioterapia, é possível atrasar a terapia de privação androgênica, também conhecida como terapia hormonal, até o início dos sintomas ou aparecimento de câncer, sem comprometer substancialmente a sobrevida de longo prazo.
Os resultados - relevantes para cerca de 60 mil homens dos EUA - sugerem que é seguro adiar a hormonioterapia para reduzir ou retardar os efeitos colaterais e os custos relacionados ao tratamento.
"O aumento dos níveis de PSA pode provocar muita ansiedade e os homens querem iniciar o tratamento o mais rápido possível", disse o principal autor do estudo, Xabier García- Albeniz, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, em Boston, MA. "Estes resultados sugerem que não há nenhuma necessidade de apressar a terapia de privação androgênica. Se os nossos resultados forem confirmados em estudos randomizados, os pacientes podem ter uma espera mais confortável até que desenvolvam sinais ou sintomas antes de iniciar o bloqueio hormonal”, declarou.
O estudo fornece novos dados sobre os pacientes com a chamada “recaída do PSA", onde os níveis de PSA são aumentados, mas os pacientes não têm sintomas e não há nenhuma evidência radiológica de tumor em exames como a tomografia computadorizada ou a cintilografia óssea. Não há uma linha de conduta padrão que determine quando iniciar a ADT nesse perfil de pacientes.
O estudo apresentado nesta 50ª ASCO mostra os resultados da análise feita a partir dos dados nacionais de registro prospectivo (CaPSURE). Foram estudados 2.022 pacientes que apresentaram recaída de PSA após a prostatectomia radical ou radioterapia. O tempo médio de recaída foi de 27 meses (intervalo de 14 a 51 meses). A partir da recaída, os pacientes foram acompanhados por um período médio de 53,2meses, em dois grupos. O primeiro grupo compreendeu os pacientes alocados para a estratégia de privação androgênica imediata, iniciada dentro do período de 3 meses após a recaída do PSA. O segundo grupo foi alocado para receber a hormonioterapia tardia, que se iniciou 2 anos ou mais após a recaída do PSA ou quando os pacientes apresentaram metástase , sintomas ou duplicação do PSA em um curto espaço de tempo.
A sobrevida global estimada em cinco anos foi semelhante entre as duas estratégias: 87,2% para a privação androgênica tardia contra 85,1% para a privação androgênica imediata. Como é um estudo observacional, os autores não excluem a possibilidade de que outras variáveis não controladas possam afetar as taxas de sobrevida, como por exemplo, a dieta e a pressão arterial dos pacientes.
Segundo os autores, o bloqueio hormonal tardio é uma estratégia para reduzir ou retardar os efeitos colaterais, como disfunção sexual, osteoporose e risco de fratura óssea, fadiga, perda de massa muscular, aumento do colesterol, ganho de peso e depressão. Alguns desses efeitos colaterais podem se tornar mais grave quanto mais prolongada for a privação androgênica. (Abstract 503)
Referência: Immediate versus deferred initiation of androgen deprivation therapy in prostate cancer patients with PSA-only relapse - http://abstracts.asco.org/144/AbstView_144_131550.html