Onconews - Destaques da ASCO 2014

ASCO_News_OK.jpgMais de cinco mil abstracts foram submetidos ao encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), que acontece de 30 de maio a 3 de junho, em Chicago, Estados Unidos. O congresso traz os últimos dados de estudos e tendências de tratamento que podem alterar a prática clínica. 

A consultoria de saúde Kantar Health, uma das líderes globais da área, fez suas apostas e selecionou três estudos que devem atrair a atenção dos participantes nessa 50ª edição.

CALGB 80405 e a sequência apropriada de terapias-alvo em câncer colorretal metastático

Tanto Avastin® (bevacizumab, Genentech/Roche/Chugai) quanto o Erbitux® (cetuximab, Bristol-Myers Squibb/Eli Lilly/Merck KGaA) estão aprovados para o tratamento de primeira linha do câncer colorretal metastático (CCRm) e têm demonstrado benefícios na sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG) quando adicionados à quimioterapia padrão para estes pacientes. Avastin foi aprovado para uso em primeira linha, enquanto Erbitux é aprovado para uso somente no subgrupo de pacientes com KRAS tipo selvagem. Por serem terapias novas com a mesma indicação, os especialistas se questionam qual a melhor forma de incorporar esses agentes em sua prática clínica. Como múltiplos estudos de fase III mostraram que a combinação dos agentes não é eficaz, dois ensaios começaram a compreender a sequência em que esses agentes devem ser oferecidos a pacientes.

Os resultados de um desses ensaios, o FIRE-3, foram apresentados ano passado no congresso da ASCO. FIRE-3 foi um estudo alemão desenhado para avaliar a associação de FOLFIRI mais Erbitux ou Avastin (5 mg/kg a cada duas semanas) como terapia de primeira linha. O estudo foi alterado em 2008 para incluir apenas os pacientes KRAS tipo selvagem. Os resultados sugerem um benefício não-significativo em comparação com Avastin na taxa de resposta global, que era o objetivo primário (62% versus 58%, p = 0,183). Além disso, uma vantagem na sobrevida livre de progressão não foi observada (HR 1,06, p=1,06).

Erbitux foi associado com uma significativa vantagem de SG de 3,7 meses em comparação com Avastin (HR 0,77, p = 0,017). As curvas Kaplan-Meier de SG foram especialmente intrigantes, pois as curvas para cada braço começaram a se separar somente após 18 meses, bem depois da mediana da sobrevida livre de progressão de 10 meses, e continuaram após a mediana de sobrevida global, onde a superioridade do Erbitux se torna mais pronunciada e durável.

Na plenária da ASCO este ano serão apresentados os dados do CALGB 80405, estudo norte-americano com três braços de comparação - Avastin (5 mg/kg a cada duas semanas ) mais a quimioterapia de escolha de primeira linha (FOLFOX ou FOLFIRI) – braço 1; Erbitux mais quimioterapia de escolha (braço 2); e Avastin mais Erbitux mais quimioterapia (braço 3). O estudo teve a participação de aproximadamente 2.900 pacientes com câncer colorretal metastático em primeiro primeira linha. Iniciado em Novembro de 2005, o CALGB 80403 foi posteriormente alterado para incluir apenas pacientes KRAS tipo selvagem. O endpoint primário é a sobrevida global. 

Dados apresentados anteriormente mostraram que o braço de combinação não é eficaz. Assim, o mais importante será a comparação direta de quimioterapia à base de Avastin contra quimioterapia à base de Erbitux.Se os resultados do CALGB 80405 favorecerem Avastin ou não mostrarem diferença significativa entre os dois regimes, haverá pouco impacto na prática clínica atual.

Abstract LBA3, Domingo, 1 de junho, 14:45

Imbruvica contra Arzerra em LLC recidivado e/ou refratário

Imbruvica™ (ibrutinib, Pharmacyclics/Johnson & Johnson) e idelalisib (Gilead) têm gerado expectativa como potenciais opções no tratamento para linfoma não-Hodgkin e leucemia linfocítica crônica (LLC). Arzerra® (ofatumumab, Genmab / Novartis) está atualmente aprovado para uso em pacientes com LLC refratária, tanto nos Estados Unidos como na Europa. Dados da consultoria Kantar Health mostram que embora o Arzerra seja o segundo agente mais utilizado nos Estados Unidos em pacientes com LLC após a sua segunda recidiva, ele é utilizado em apenas 14% dos pacientes americanos com LLC. Esta taxa de utilização destaca a necessidade de mais terapias e ajuda a explicar, em parte, a empolgação com novas terapias como Imbruvica e idelalisib.

Com base em dados de estudo de Fase II, o imbruvica recebeu aprovação acelerada como monoterapia para linfoma de células de manto e LLC. Embora os trabalhos destas duas aplicações estejam em curso com o FDA, a Pharmacyclics iniciou um ensaio de Fase III (RESONATE) que compara Imbruvica versus Arzerra em 391 pacientes com leucemia linfocítica crônica recidivada/refratária ou linfoma linfocítico de pequenas células. As empresas anunciaram em janeiro que o estudo atingiu os endpoints primário (sobrevida livre de progressão) e secundário (sobrevida global).

Os dados deste estudo, apresentados na ASCO 2014, serão acompanhados de perto. Quanta diferença haverá nestes dois endpoints de eficácia para Imbruvica e Arzerra? No estudo de Fase Ib/II que balizou o pedido de aprovação acelerada para Imbruvica, a taxa de resposta global (TRG) foi de 71%, e a taxa de sobrevida livre de progressão foi de 86% em 12 meses. 

Estes dados são favoráveis se comparados com as atuais opções de tratamento, incluindo Arzerra, que mostrou uma taxa de resposta global de 58% em pacientes com LLC tratados anteriormente com fludarabina e Campath® (alemtuzumab, Genzyme). 

No entanto, estes dados vêm após a divulgação dos resultados do estudo de fase III que comparar a combinação de idelalisib com Rituxamabe® (MabThera® na Europa, rituximab, Biogen Idec/Roche) verusus rituximabe com placebo em 220 pacientes com LLC recidivados ou refratários. Idelalisib melhorou significativamente a SLP (HR 0,15, p <0,0001) e SG (HR 0,28 , p- 0,018). 
Na mesma sessão, antes dos resultados do RESONATE, serão apresentados os dados do acompanhamento de longo prazo do ensaio de Fase Ib/II para Imbruvica (Resumo 7014). No ensaio de Fase Ib/II, Imbruvica foi relativamente bem tolerado, com menos de 10% de incidência de neutropenia de grau 4, anemia e trombocitopenia.

Abstract LBA7008, Terça-feira, 3 de junho, 11:57 

Pembrolizumab no melanoma avançado recidivado/refratário

Nos últimos anos temos visto uma explosão de novos agentes para o tratamento de melanoma avançado: Yervoy® (ipilimumab, da Bristol-Myers Squibb), Zelboraf® (vemurafenib, Genentech/Roche/DaiichiSankyo), Tafinlar® (dabrafenib, Novartis) e Mekinist® (trametinib, Novartis). 

Se em congressos anteriores da ASCO a promessa de anticorpo monoclonal anti-PD-1 nivolumab, da Bristol-Myers Squibb, teve destaque, este ano o foco estará em outro anticorpo monoclonal anti-PD-1: o pembrolizumab (lambrolizumab, MK3475, Merck).

A Bristol-Myers Squibb iniciou estudos de Fase III para nivolumab em dezembro de 2012 (para melanoma recorrente) e em janeiro de 2013 (para a primeira linha de melanoma). No entanto, a Merck entrou com pedido de aprovação acelerada dopembrolizumab e anunciou dia 6 de maio a revisão do pembrolizumab para o tratamento do melanoma irressecável ou metastático em doentes previamente tratados com Yervoy. 

Dado o elevado nível de competição entre os agentes, é importante comparar a eficácia e o perfil de toxicidade desses inibidores de PD-1. Segundo os analistas da Kantar Health, pembrolizumab deve mostrar um benefício em comparação ao grupo de controle e, portanto, justificar os esforços da Merck.

Será que as evidências serão fortes o suficiente para oferecer esperança contra o Yervoy e, no futuro, o nivolumab?

Abstract LBA9000, Segunda-feira, 2 de junho, 15h