Estudos de Fase III apresentados na conferência anual da ESMO 2014 relataram os principais avanços nos cuidados de suporte para pacientes com câncer. As terapias têm contribuído para reduzir náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, sangramento em pacientes com tromboembolismo venoso (TEV) e síndrome de anorexia-caquexia do câncer (CACS).
Em um estudo de fase III, um antagonista do receptor NK-1 altamente seletivo e de ação prolongada, demonstrou reduzir náuseas e vômitos em pacientes que receberam quimioterapia baseada em cisplatina. Os sintomas acometem muitos pacientes tratados com cisplatina e podem causar redução da dose e interrupção do tratamento.
532 pacientes foram randomizados 1: 1 para receber o agente rolapitant bucal + granisetrona/dexametasona ou placebo + granisetrona/dexametasona antes da quimioterapia. O desfecho primário foi a resposta completa (sem vômitos/sem medicamentos de resgate) na fase tardia (> 24-120 horas) pós-quimioterapia. Os desfechos secundários incluíram resposta completa durante as fases aguda (0-24 horas) e geral (0-120 horas).
O estudo atingiu seu endpoint primário, com 72,7% dos pacientes com resposta completa ao uso de rolapitant (definida como o paciente não ter vômitos e não necessitar de qualquer medicação de resgate), na fase tardia (> 24-120 horas pós-quimioterapia) em comparação com 58,4% dos que receberam placebo (p <0,001).
Resultados estaticamente significativos também foram observados nos objetivos secundários da taxa de resposta de fase aguda (83,7% vs 73,7%, p = 0,005), e taxa de resposta completa em geral (70,1% vs 56,5%, p = 0,001).
O porta-voz da ESMO, Roberto LaBianca, diretor do Centro de Câncer Ospedale Giovanni XXIII, em Bergamo, Itália, afirmou que neste ensaio clínico houve uma clara vantagem para os pacientes que receberam rolapitant quando tratados com quimioterapia altamente emetogênica. “É notável que este efeito tenha sido consistente, observado em todo o mundo, em diferentes regiões geográficas. Como o novo medicamento é muito seletivo, de longa ação, e também bem tolerado, pode ser facilmente introduzido na prática clínica para evitar vômitos e náusea aguda induzida por quimioterapia", disse o especialista
Rivaroxabana no Programa EINSTEIN
Rivaroxabana reduziu o risco de sangramento em pacientes com câncer e tromboembolismo venoso (TEV) agudo que participaram dos estudos de fase III EINSTEIN DVT e EINSTEIN PE. Os dois estudos compararam a rivaroxabana ao tratamento padrão com enoxaparina/antagonista de vitamina K (AVK) para o tratamento de TEV sintomática em 8282 pacientes com TEV inscritos no programa EINSTEIN. A terapia anticoagulante é indicada para prevenir TEV recorrente, mas está associada a um alto risco de hemorragia grave.
Os pacientes foram tratados por três, seis ou 12 meses com rivaroxabana (15 mg duas vezes por dia durante 21 dias, seguido de 20 mg uma vez ao dia) ou enoxaparina/AVK (razão normatizada internacional 2,0-3,0) e acompanhados por suspeita de TEV recorrente, sangramento e mortalidade. Os pacientes com câncer foram classificados como: câncer ativo no início do estudo (diagnóstico ou tratamento dentro de 6 meses antes da inscrição ou câncer recorrente/metastático) ou diagnosticados durante o estudo (n= 655); ou histórico de câncer (n= 469).
O estudo descobriu que a incidência de TEV recorrente e de mortalidade foi semelhante entre os grupos rivaroxabana e enoxaparina/AVK para pacientes com câncer ativo ([HR] 0,67; 95% intervalo de confiança [CI] 0,35-1,30)e histórico de câncer(HR 0,98, 95% CI 0,28-3,43). Em pacientes com câncer ativo, o risco de hemorragia grave foi significativamente reduzido no grupo rivaroxabana (HR 0,42, 95% CI 0,18-0,99), mas foi semelhante entre os tratamentos em pacientes com história de câncer (HR 0,23, 95% CI 0,03-2,06). A mortalidade ocorreu com uma incidência semelhante entre os tratamentos em pacientes com câncer ativo (HR 0,93, 95% CI 0,64-1,35) e pacientes com histórico de câncer (HR 1,12, 95% CI 0,30-4,22).
“Rivaroxabano é um medicamento oral, com o mesmo efeito anti-trombótico em comparação com as drogas tradicionais, mas com uma redução no risco de sangramento. Esta característica pode ser muito importante na prática clínica, permitindo um tratamento mais fácil e mais conveniente de uma complicação tão grave do câncer”, afirmou LaBianca.
Estudo ROMANA - Síndrome de anorexia-caquexia em CPNPC
O estudo de fase III ROMANA 1 investigou a eficácia e segurança do cloridrato de anamorelina (ANAM), um novo agonista dos receptores seletivos de grelina para o tratamento da síndrome anorexia-caquexia (SAC) em pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células avançado irressecável. A síndrome anorexia-caquexia é uma doença debilitante comum em câncer, caracterizada por diminuição do peso corporal, principalmente da massa corporal magra, e impacta negativamente a qualidade de vida e prognóstico.
Os pacientes foram randomizados 2: 1 para receber 100 mg de ANAM ou placebo, uma vez ao dia por via oral, durante 12 semanas, e foram autorizados a receber quimioterapia durante o estudo. Os endpoints primários foram a mudança da massa corporal magra a partir do início do estudo ao longo de 12 semanas (medido pelo DXA) e o teste da força de pressão manual (FPM).Os endpoints secundários incluíram a alteração no peso corporal e no subdomínio anorexia-caquexia avaliado pelo questionário Functional Assessment of Anorexia/Cachexia Therapy (FAACT). As avaliações de segurança incluíram valores de laboratório e eventos adversos.
Não houve no estudo de diferenças populacionais para ROMANA 1 (N=484) e ROMANA 2 (N=495). Durante 12 semanas, a ANAM aumentou significativamente a massa corporal magra na comparação com placebo (p <0,0001) em todas as análises realizadas. No ROMANA 1, a variação média da massa corporal magra foi de 1,10 kg [95% CI 0,76; 1,42] para ANAM versus -0,44 kg [95% CI -0,88; 0.20] para o placebo. O ROMANA 2 também confirmou os benefícios do uso de ANAM, com ganhos de 0,75 kg (IC 95% 0,51; 1,00) na comparação com placebo (-0,96 kg; IC95% -1,27; -0,46).
ANAM aumentou o peso corporal (2,20 ± 0,3 vs 0,14 ± 0,4 kg, p <0,0001, e 0,95 ± 0,4 vs -0,57 ± 0,4 kg, p <0,0001) e melhorou as pontuações FAACT (4,12 ± 0,8 vs 1,92 ± 0,8, p = 0,0004 e 3,48 ± 0,9 vs 1,34 ± 1,0, p = 0,0016). No braço ANAM, o eventos adversos mais frequentes relacionados com a droga foram hiperglicemia (5,3%) e náuseas (3,8%) para ROMANA 1, e hiperglicemia (4,2%) e diabetes (2,1%) para ROMANA 2. Ambos os estudos tiveram poucos eventos adversos de grau ≥3 relacionada com a droga (0,9%, 2,7%).
“Este é realmente um avanço importante, já que o estudo enfatiza a necessidade absoluta de se estabelecer uma abordagem de cuidados paliativos simultânea em pacientes com doença avançada (como CPNPC) tratados com medicamentos anti-tumorais e afetados com sintomas graves, como a síndrome anorexia-caquexia”, afirmou LaBianca.
Ele concluiu que esses estudos demonstram os esforços de pesquisa voltados para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes com câncer e os avanços significativos que foram feitos para controlar algumas das repercussões mais graves de tratamento.
Referências: Abstract: LBA47_PR
Phase 3 (P04832) trial results for rolapitant, a novel NK-1 receptor antagonist, in the prevention of chemotherapy-induced nausea and vomiting (CINV) in patients receiving cisplatin-based chemotherapy
M.R. Chasen1, A. Poma2, M.L. Hedley3, R. Martell2, C. Gridelli4
1Dept Palliative Rehabilitation, Elizabeth Bruyere HospitalDivision of Palliative Care, Ottawa, AB, CANADA, 2Medical, TESARO, Waltham, MA, USA, 3TESARO Inc., Waltham, MA, USA, 4Medical Oncology, UO Oncologia Medica"S.G. Moscati Hospital", Avellino, ITALY
Abstract LBA48
Oral rivaroxaban versus standard therapy for the treatment of symptomatic venous thromboembolism in patients with cancer
M.H. Prins1, T. Lensing2, P. Prandoni3, A.T. Cohen4, B. Davidson5, F. Misselwitz2, Á. Pap2, M. Trajanovic6, S. Berkowitz6, P. Wells7
1Medical Center, Maastricht University Medical Center, Maastricht, NETHERLANDS, 2Bayer HealthCare AG, Wuppertal, GERMANY, 3Department of Cardiothoracic and Vascular Sciences, University Hospital of Padua, Padua, ITALY, 4Department of Haematological Medicine, King’s College Hospital, London, UK, 5University of Washington School of Medicine, Seattle, WA, USA, 6Bayer Healthcare Pharmaceuticals, Whippany, NJ, USA, 7Department of Medicine, University of Ottawa and the Ottawa Hospital Research Institute, Ottawa, ON, CANADA
Abstract 1483O
Anamorelin for the treatment of cancer anorexia-cachexia in NSCLC: results from the Phase 3 studies ROMANA 1 and 2
J. Temel1, D. Currow2, K. Fearon3, L. Gleich4, Y. Yan5, J. Friend5, A. Abernethy6
1Department of Medicine, Massachusetts General Hospital, Boston, MA, USA, 2Palliative and Supportive Services, Flinders University, Adelaide, SA, AUSTRALIA, 3Surgical Oncology, Western General Hospital, Edinburgh, UK, 4Medical Affairs, Medpace, Cincinnati, OH, USA, 5R&D, Helsinn Therapeutics, Inc., Bridgewater, NJ, USA, 6School of Medicine, Duke University, Durham, NC, USA