Um estudo caso-controle com cerca de 180 mil homens sugere que a incidência de câncer de próstata é maior entre os homens com histórico de câncer de testículo (12,3%) do que entre aqueles sem histórico da doença (2,7%). O trabalho é apontado como um dos destaques do 2015 Genitourinary Cancers Symposium.
Para Gustavo Franco Carvalhal, uro-oncologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, o fato de pacientes com câncer de testículo apresentarem um risco aumentado para o desenvolvimento de câncer de próstata ao longo da vida (HR de 4,7 e de 5,5 para doença de risco intermediário/alto) levanta hipóteses de que haja fatores genéticos comuns às duas doenças, ou mesmo alterações do ambiente hormonal que possam levar ao aumento da incidência do câncer de próstata neste grupo de pacientes. “A implicação prática deste estudo seria orientar os homens que apresentam neoplasia de testículo a iniciarem a prevenção secundária do câncer de próstata com toque retal e PSA mais cedo e mais intensamente, como por exemplo, com revisões periódicas anuais a partir dos 40 anos de idade”, afirma o especialista.
"Os homens com histórico de câncer de testículo devem conversar com seu médico, uma vez que pode haver um aumento do risco para o câncer de próstata e uma predisposição maior para os tumores de risco intermediário ou elevado", disse o autor senior do estudo, Mohammad Minhaj Siddiqui, diretor de cirurgia robótica urológica no Marlene and Stewart Greenebaum Cancer Center, em Baltimore. O especialista ressalta que ainda é cedo para fazer qualquer recomendação prática com base neste único estudo, mas os resultados fornecem dados para uma investigação maior sobre o elo biológico entre as duas doenças.
Métodos e Resultados
Os pesquisadores analisaram a base de dados da SEER ("Surveillance, EpidemiologyandEndResults") para avaliar 32.435 homens com um histórico de câncer de testículo e 147.044 homens com histórico de melanoma. O melanoma foi utilizado como grupo controle, pois não há associação conhecida com o câncer de próstata, e a expectativa é de que esses pacientes tenham um risco para o desenvolvimento de câncer de próstata similar aos homens na população geral. Em média, indivíduos em ambos os grupos desenvolveram câncer de próstata cerca de 30 anos após o diagnóstico do seu primeiro câncer.
A incidência de câncer de próstata só foi contabilizada se ocorreu, pelo menos, cinco anos após o primeiro diagnóstico do câncer para permitir o possível efeito temporal do tumor primário. A incidência total da doença de risco intermediário e alto (Gleason ≥ 7) foi comparada usando curvas de Kaplan-Meier (KM).
119.781 homens com melanoma e 10.365 homens com câncer de testículo foram identificados. A incidência de câncer de próstata aos 80 anos foi de 2,7% na coorte de melanoma e 12,3% em homens com histórico de câncer de testículo (p <0,0001 para as curvas de sobrevida KM). Para a doença de risco intermediário/alto, a incidência foi de 1,1% versus 5,7% para cada grupo, respectivamente (p <0,0001). Câncer de testículo (versus o grupo-controle de melanoma) foi associado a um risco aumentado de câncer de próstata (HR 4,7, p<0,0001) e doença de risco intermediário/alto (HR 5,5, p <0,0001).
Referências: Abstract 177 - Development of intermediate and high-risk prostate cancer after testicular cancer.