Uma análise de dados de mais de 28 mil prontuários no período de 2007 a 2014 identificou que uma grande proporção de pacientes com tumores sólidos avançados recebeu pelo menos uma forma agressiva de cuidados nos últimos 30 dias de vida. O estudo é um dos destaques do congresso anual da ASCO e mostra que a gestão de cuidados na terminalidade da vida ainda é um desafio para médicos e pacientes (LBA10033).
De acordo com o estudo, a forma mais comum de cuidados agressivos foi admissão hospitalar ou visitas à emergência, ocorrendo em 65% dos pacientes. Menos de 1 em cada 5 pacientes recebeu cuidados paliativos. Métricas adicionais de cuidados agressivos, como a quimioterapia, radioterapia e admissões na unidade de terapia intensiva (UTI) também foram avaliadas.
Segundo os autores, este é um dos primeiros e maiores estudos sobre avaliação dos cuidados de fim de vida em pacientes de câncer nos Estados unidos sem cobertura de seguro- saúde (sem Medicare), com menos de 65 anos de idade.
Em 2012, uma das 5 maiores recomendações da ASCO alertou a comunidade de oncologia sobre a importância dos cuidados paliativos em pacientes com tumores sólidos avançados, desaconselhando tratamentos que não vão trazer benefícios e têm implicações que vão dos custos aos efeitos colaterais.
O estudo apresentado na ASCO mostra que mesmo após a recomendação (Wisely®), abordagens de quimioterapia e radioterapia foram semelhantes aos dados obtidos antes de 2012, assim como a prática de cuidados paliativos. "Embora possa ser difícil prever quando um paciente está se aproximando do seu último mês de vida, precisamos dimensionar melhor o tratamento orientado para a doença e incorporar cuidados paliativos", disse o principal autor do estudo, Ronald C. Chen, da Universidade da Carolina do Norte. "Precisamos de mais educação tanto entre médicos quanto entre os pacientes, e de mais diálogo sobre metas e expectativas", destacou.
Sobre o Estudo
Os pesquisadores analisaram dados relativos aos últimos 30 dias de vida de mais de 28 mil pacientes em 14 estados em diferentes regiões dos EUA. O estudo incluiu pacientes com menos de 65 anos que tiveram um diagnóstico de câncer de pulmão metastático, câncer colorretal, de mama, pâncreas ou próstata e morreram entre janeiro de 2007 e dezembro de 2014.
Para esta análise, foram considerados como cuidados agressivos os procedimentos médicos invasivos (por exemplo, biópsias) e terapias direcionadas ao câncer (radiação e quimioterapia); admissão hospitalar / visita à sala de emergência; cuidados intensivos ou admissão em UTI; mortes intra-hospitalar. Tais medidas, quando usadas no fim de vida, são amplamente reconhecidas pelos especialistas como exemplos de assistência médica agressiva, que podem ser prejudiciais para os pacientes sem agregar benefício.
Principais conclusões
Apenas 14-18% dos pacientes receberam cuidados paliativos; o uso de quimioterapia variou de 24-33% e o de radioterapia variou de 6-21%. Procedimentos invasivos ocorreram em 25-31% dos pacientes e cuidados intensivos ou admissões na UTI foram observados em quase 1 em cada 5 pacientes (16-21%).
Em todos os cinco tipos de câncer, o tipo mais comum de cuidados agressivos nos últimos 30 dias de vida foi a admissão hospitalar ou visita ao departamento de emergência (62-65% dos pacientes); além disso, 30-35% dos doentes morreram no hospital e não no ambiente doméstico. Segundo os autores, isso sugere que os pacientes, mesmo no fim da vida, continuam a procurar assistência médica agressiva, em vez de cuidados dirigidos aos sintomas que muitas vezes podem ser oferecidos em casa.
As conclusões do estudo reforçam as recomendações da ASCO para cuidados de fim de vida, descritas na campanha Choosing Wisely®: Top Five Cancer-Related Tests, Procedures, and Treatments That Many Patients Do Not Need.
As recomendações foram dirigidas a doentes com as seguintes características: baixo Performance Status, nenhum benefício de intervenções anteriores baseadas em evidências, nenhuma evidência do valor clínico de tratamento adicional anti-câncer, pacientes não elegíveis para ensaios clínicos.
Os autores sustentam que para estes pacientes a ênfase deve ser colocada sobre cuidados paliativos e de suporte, o que pode aumentar a qualidade de vida e, em alguns casos até prolongar a sobrevida.
Nos 32 meses após o lançamento das recomendações da ASCO, os pesquisadores observaram que as taxas de cuidados médicos agressivos permaneceram essencialmente inalteradas (cerca de 70-75%) entre os 5 tipos de câncer estudados. A prática de cuidados paliativos permaneceu baixa durante esse período e também foi semelhante em todos os cinco tipos de câncer (14-18%).
"Embora as recomendações da ASCO tenham sido um primeiro passo importante para a redução dos cuidados agressivos no final da vida, os nossos resultados sugerem que as diretrizes por si só não são suficientes para estimular mudanças na prática. Precisamos de melhores formas de educar médicos e pacientes sobre cuidados paliativos e cuidados na terminalidade, e tornar esses tratamentos mais acessíveis ", disse Chen.
Este estudo recebeu financiamento do North Carolina Translational e Ciências Clínicas (NC TRACS) Instituto.
Cuidados agressivos nos últimos 30 dias de vida
Pulmão N = 12,764 (%) |
Colorretal N = 5,207 (%) |
Mama N = 5,855 (%) |
Pâncreas N = 3,397 (%) |
Próstata N = 1,508 (%) | |
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Cuidados agressivos gerais | 76 | 71 | 74 | 74 | 72 |
Quimioterapia | 28 | 26 | 32 | 29 | 24 |
Radioterapia | 21 | 9 | 16 | 6 | 13 |
Procedimentos invasivos | 29 | 26 | 27 | 31 | 26 |
Admissão hospitalar/Emergência | 65 | 61 | 63 | 65 | 62 |
Admissão em UTIs | 20 | 16 | 17 | 16 | 18 |
Morte no hospital | 35 | 30 | 33 | 30 | 31 |
Referência: Aggressive care at the end-of-life for younger patients with cancer: Impact of ASCO's Choosing Wisely campaign - J Clin Oncol 34, 2016 (suppl; abstr LBA10033)