Um dos maiores estudos já realizados em câncer de pâncreas, o European Study Group for Pancreatic Cancer (ESPAC-4), fase III, aberto, multicêntrico, randomizado, concluiu que adicionar a quimioterapia oral capecitabina à gencitabina na adjuvância prolonga a sobrevida dos pacientes sem aumento da toxicidade.
Os dados apresentados na segunda-feira, 6 de junho, durante a 52ª ASCO, mostram uma mediana de sobrevida global de 28 meses com o regime combinado em comparação com 25,5 meses com gemcitabina isolada.
"O estudo ESPAC-4 estabeleceu um novo padrão de tratamento adjuvante para paciente com câncer de pâncreas. O estudo tem metodologia clara e os resultados são robustos. A combinação de gencitabina com capecitabina trouxe um aumento absoluto de 12% na sobrevida global em 5 anos, um ganho muito relevante para um cenário de uma doença agressiva. É um marco histórico no combate ao câncer de pâncreas e que tem aplicabilidade imediata na prática clínica", afirmam os oncologistas Anelisa Coutinho e Rui Weschenfelder, do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).
A quimioterapia adjuvante gemcitabina é atualmente o padrão de atendimento após a remoção cirúrgica do câncer de pâncreas. Segundo o principal autor do estudo, John P. Neoptolemos, chefe da cirurgia no Department Molecular and Clinical Cancer Medicine na Universidade de Liverpool, Reino Unido, a diferença na mediana de sobrevida pode parecer modesta, mas a melhoria na sobrevida em longo prazo é substancial para esse tipo de câncer.
“Infelizmente, a maioria dos pacientes não são candidatos à cirurgia quando são diagnosticados com câncer de pâncreas. Estes resultados são importantes porque mostram que os pacientes que não podem ser submetidos à cirurgia têm uma chance de sobreviver a esse tipo de câncer com a combinação de duas quimioterapias comumente utilizadas", disse Neoptolemos.
O estudo
Entre 10 de novembro de 2008 e 11 de setembro de 2014, os pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático (n=730) foram randomizados no prazo de 12 semanas após a cirurgia (estratificados por status de margem de ressecção R0/R1 e país) para receber seis ciclos de gencitabina intravenosa isolada (GEM, n=366) ou seis ciclos de gemcitabina IV com capecitabina oral, ambos em ciclos de 4 semanas (GEM/CAP, n=364).
Segundo os autores, as características dos pacientes eram representativas de uma população de câncer de pâncreas do mundo real. Uma grande parte dos pacientes tinha fatores prognósticos desfavoráveis, como doença localmente avançada ou agressiva, doença de grande volume ou remoção incompleta do tumor. A vantagem de sobrevida do regime combinado foi semelhante, independentemente de tais fatores.
A idade média foi de 65 anos e 57% dos participantes eram homens. Perfomance status WHO foi 0, 1 ou 2, em 42%, 55% e 3%, respectivamente. A mediana de CA19-9 no pós-operatório foi de 19 kU/L. A média de tamanho máximo do tumor foi de 30 mm, 60% eram ressecções R1, 80% eram nódulo positivo e 40% eram pouco diferenciados.
O endpoint primário foi sobrevida global. Endpoints secundários incluíram toxicidade, sobrevida livre de recidiva, sobrevida em dois e cinco anos e qualidade de vida.
Resultados
A mediana de sobrevida global para os pacientes tratados com GEM/CAP foi de 28 meses (95% CI, 23,5 - 31,5) e 25,5 meses (22,7-27,9) para GEM isolado. As taxas estimadas de sobrevida em 5 anos foram de 28,8% vs. 16,3% nos dois grupos. "Nós fomos de uma taxa de sobrevida em cinco anos de 8% com a cirurgia isolada para aproximadamente 30% com a terapia adjuvante", esclareceu o autor.
No geral, não houve grande diferença no tipo e gravidade dos efeitos colaterais entre os dois grupos. Diarreia severa foi ligeiramente mais comum com o regime de combinação (14 vs. 5 pacientes), assim como fadiga (16 vs. 14 pacientes). A qualidade de vida também foi comparável entre os dois grupos. "É uma grande vitória descobrir que a adição de uma quimioterapia genérica não apenas melhora a sobrevida destes pacientes, mas o faz com pouco efeito sobre a qualidade de vida dos pacientes ", disse Smitha Krishnamurthi, especialista da ASCO em câncer de pâncreas.
Os autores acrescentam que a segurança deste novo regime de quimioterapia gencitabina-capecitabina abre a oportunidade de adicionar outros tratamentos à combinação, o que pode melhorar ainda mais os resultados para os pacientes. Estudos futuros devem trabalhar no desenvolvimento de testes para prever quais pacientes se beneficiariam mais de uma terapia adjuvante particular.
O estudo recebeu financiamento do Cancer Research UK.
Informações do ensaio clínico: ISRCTN 96.397.434.
Referência: ESPAC-4: A multicenter, international, open-label randomized controlled phase III trial of adjuvante combination chemotherapy of gemcitabine (GEM) and capecitabine (CAP) versus monotherapy gemcitabine in patients with resected pancreatic ductal adenocarcinoma - Abstract No: LBA4006 - Citation: J ClinOncol 34, 2016 (suppl; abstr LBA4006)