Onconews - Aspirina e quimioprevenção no câncer de próstata

Aspirina_NET_OK_1.jpgUm grande estudo observacional sugere que homens que tomam aspirina regularmente podem ter um risco menor de morrer por câncer de próstata. O oncologista Fernando Maluf, do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM), e o urologista Lucas Nogueira, diretor da área de uro-uncologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), comentam com exclusividade para o Onconews.

A associação do consumo de vários nutrientes ou medicamentos (licopeno, vitamina E e selênio, etc) com o desenvolvimento, progressão e óbito por câncer de próstata (CaP) vem sendo objeto de estudo nas últimas décadas. Neste contexto, o papel do ácido acetilsalicílico (AAS) tem resultados conflitantes na literatura, havendo evidências demonstrando1ou não benefício2.

No estudo, após seguimento de 27 anos, o câncer de próstata foi diagnosticado em 3193 (14,5%) dos 22.071 homens seguidos pelo Physician’s Health Study nos EUA. Destes, 403 (13%) evoluíram com doença letal, definida como doença metastática ou óbito. Em análise multivariada, o uso regular de AAS (frequência maior que 3 vezes por semana) foi associado a redução de 24% na evolução para doença letal naqueles sem o diagnóstico prévio e de 39% nos óbitos específicos nos pacientes já diagnosticados com CaP. "Não houve, entretanto, benefício em relação a redução de diagnóstico de novos casos, independente do estágio. Embora não haja evidências do mecanismo biológico envolvido nesta relação, a prevenção de eventos trombo-embólicos na disseminação sistêmica da doença parece ser o mais aceito3", explica o urologista.

Resultados promissores

Segundo Lucas, embora provocativos, estes resultados ainda são muito precoces para definir o verdadeiro papel da ingestão frequente de aspirina em pacientes com CaP. "Representam dados populacionais extraídos de entrevistas e revisão de prontuários em uma população muito heterogênea. Entretanto, podem servir de base para estudos clínicos prospectivos demonstrarem não somente esta relação, mas também aspectos importantes como fatores preditivos, dosagem e os sub-grupos de pacientes que terão maior benefício", afirma.

Para o oncologista Fernando Maluf, esse é um estudo importante, com resultados potencialmente interessantes, mas precisa ser validado antes de ser recomendado de forma rotineira. “A aspirina inibe uma série de substâncias relacionadas com a progressão do tumor. Seu uso também é relacionado com outros eventos inibitórios, como por exemplo o pólipo intestinal, que é um precursor do câncer de intestino”, acrescenta. 

Referências:
 
1.         Choe KS, Cowan JE, Chan JM, Carroll PR, D'Amico AV, Liauw SL. Aspirin use and the risk of prostate cancer mortality in men treated with prostatectomy or radiotherapy. J Clin Oncol. 2012;30(28):3540-4.
 
2.         Assayag J, Pollak MN, Azoulay L. The use of aspirin and the risk of mortality in patients with prostate cancer. J Urol. 2015;193(4):1220-5.
 
3.         Christopher Brian Allard MKD, Mark A Preston, J. Michael Gaziano, Meir J. Stampfer, Lorelei A. Mucci, Julie Batista. Regular aspirin use and the risk of lethal prostate cancer in the Physicians' Health Study 2016 [cited 2016]