Onconews - ASCO 2017: Estilo de vida e sobrevida em pacientes com câncer de cólon

tree_nuts_NET_OK.jpgDois trabalhos que serão apresentados na 53ª ASCO, em Chicago, mostram a importância da nutrição e da atividade física na qualidade de vida do sobrevivente de câncer de cólon. Um estudo avaliou os benefícios de um estilo de vida saudável para diminuir a chance de recorrência e morte pela doença (abstract 10006). O outro ensaio (abstr 3517) investigou a relação entre o consumo de nozes e melhores taxas de sobrevida livre de doença e sobrevida global em pacientes com câncer de cólon estadio III.

O abstract 100061 incluiu 992 pacientes com câncer de cólon estágio III e demonstrou que os doentes com estilo de vida saudável durante e após o tratamento adjuvante tiveram uma probabilidade de morte 42% menor e uma tendência de menor chance de recorrência do câncer em comparação com aqueles que tinham estilos de vida menos saudáveis.

Nos Estados Unidos existem mais de 1,3 milhão de sobreviventes de câncer colorretal que necessitam de cuidados de sobrevida e orientações sobre o que podem fazer para reduzir o risco de recorrência. “Em resposta ao interesse e à necessidade do paciente, em 2012 a American Cancer Society (ACS) publicou o guideline 'Nutrição e Diretrizes de Atividade Física para Sobreviventes de Câncer', mas não se sabe ao certo se seguir as diretrizes após o diagnóstico de câncer está associado a melhores resultados. Este estudo demonstrou que pacientes com câncer de cólon cujo estilo de vida coincide com as diretrizes da ACS tiveram sobrevida livre de doença e sobrevida global mais longas”, observou Erin Van Blarigan, professora assistente de epidemiologia e bioestatística da Universidade da Califórnia, em São Francisco.

Sobre o estudo

O ensaio clínico prospectivo incluiu 992 pacientes com câncer de cólon em estádio III inscritos num ensaio de quimioterapia adjuvante entre 1999-2001. O estilo de vida foi avaliado duas vezes. Foi atribuída aos pacientes uma pontuação de 0-6 para medir o grau do seu estilo de vida em relação às diretrizes da ACS para sobreviventes de câncer. Uma pontuação de zero não indica comportamentos saudáveis, enquanto uma pontuação de seis foi atribuída aos pacientes com comportamentos saudáveis. Os pesquisadores avaliaram os participantes com base nas recomendações para manter um peso corporal saudável, praticar atividades físicas regulares e estabelecer uma dieta rica em grãos integrais, vegetais e frutas, com baixo consumo de carne vermelha e processada.

O uso de álcool também foi incluído na avaliação, uma vez que está presente no guideline da ACS para prevenção do câncer, mas não nas diretrizes para sobreviventes de câncer.

Cada um dos comportamentos saudáveis ​​foi igualmente ponderado, mas a avaliação dos componentes dietéticos foi um pouco mais complexa, pois os pesquisadores tiveram que marcar a carne vermelha e processada, grãos inteiros e legumes e frutas individualmente e, em seguida, construir uma pontuação dietética global.

Resultados

Durante um seguimento médio de 7 anos, foram observadas 335 recorrências e 299 óbitos (43 sem recorrência). Os 91 sobreviventes (9%) que tiveram os maiores índices de estilo de vida saudável (5-6 pontos) tiveram um risco de morte 42% menor (HR: 0,58; 95% CI: 0,34, 0,99; p-trend: 0,01) e uma tendência para reduzir a chance de recorrência (HR: 0,69; 95% CI: 0,45, 1,06; p-trend: 0,03) em comparação com os 262 sobreviventes (26%) com a menor pontuação em relação ao estilo de vida (0-1 pontos).

Quando o consumo de álcool foi incluído na pontuação, os 162 sobreviventes (16%) com maior pontuação de estilo de vida (6-8 pontos) tiveram chance de morte 51% menor (95% CI: 0,32, 0,76; p-trend: 0,002) e 36% menos chance de recorrência do câncer (95% CI: 0,44, 0,94; p-trend: 0,05) do que os 187 sobreviventes (91%) que tinham a menor pontuação em relação ao estilo de vida saudável (0-2 pontos). As associações não foram impulsionadas por qualquer fator de estilo de vida em particular; peso corporal, atividade física regular e dieta saudável foram todos importantes.

O estudo recebeu financiamento do National Cancer Institute, National Institutes of Health, e está registrado em ClinicalTrials.gov: NCT00003835.

Ingestão de nozes diminui possibilidade de recorrência do câncer de cólon
 
Outro estudo que evidencia a relação entre alimentação e menor chance de recorrência do câncer, o abstract 35172 incluiu 826 pacientes com câncer de cólon em estágio III e mostrou que aqueles que consumiram cerca de 57 gramas (duas onças) ou mais de nozes por semana tiveram uma chance 42% menor de recorrência da doença e 57% menos chance de morte em comparação com aqueles que não ingeriram o alimento.
 
Pacientes com câncer de cólon em estágio III têm até 70% de chance de sobreviver três anos após o tratamento, que geralmente inclui cirurgia e/ou quimioterapia. Segundo os autores, embora numerosos estudos anteriores tenham considerado a dieta como uma potencial ferramenta de prevenção do câncer, este é um dos primeiros trabalhos a olhar para o papel do consumo de nozes e sua influência sobre a recorrência e a mortalidade no câncer de cólon.
 
"Este estudo mostra que algo tão simples como comer nozes pode fazer a diferença na sobrevida do paciente a longo prazo", disse o presidente da ASCO, Daniel F. Hayes. "O consumo de nozes e uma dieta saudável são geralmente fatores que os médicos e pacientes devem talvez prestar atenção ao projetar a abordagem do tratamento do câncer colorretal", acrescentou.
 
Uma análise secundária revelou que o benefício é limitado às tree nuts (nozes, amêndoas, avelãs, castanhas de caju e nozes pecã). Não houve redução associada à recorrência de câncer e morte entre os pacientes que consumiram amendoim ou manteiga de amendoim. Segundo os autores, a razão pode ser que, sendo leguminosas, o amendoim tem uma composição metabólica diferente das nozes.
 
"Numerosos estudos em doenças cardíacas e diabetes têm demonstrado os benefícios do consumo de nozes, e sentimos que era importante determinar se esses benefícios também seriam aplicáveis a pacientes com câncer colorretal", disse Temidayo Fadelu, primeiro autor do estudo e fellow clínico no Dana Farber Cancer Institute. "Pacientes com doença avançada que se beneficiam de quimioterapia frequentemente perguntam o que podem fazer para reduzir suas chances de recorrência ou morte, e nosso estudo é uma contribuição importante para a ideia de que modificar a dieta e a atividade física pode ser benéfico", afirmou.
 
O estudo
 
Os pesquisadores realizaram um estudo prospectivo, observacional, de 826 inscritos em um ensaio clínico da CALGB que começou em 1999 e investigou a quimioterapia adjuvante em pacientes com câncer de cólon estágio III. Um questionário aplicado após a conclusão da quimioterapia avaliou a ingestão dietética, incluindo se os doentes comiam nozes e quais tipos de nozes eles consumiam.
 
O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença (SLD), definida como o tempo decorrido desde a conclusão do questionário dietético após a terapia adjuvante até a recorrência do câncer, morte ou último seguimento.
 
Os pesquisadores estavam particularmente interessados no consumo de nozes por sua associação com menor incidência de obesidade, diabetes tipo 2 e redução da resistência à insulina, condições de saúde associadas a um maior risco de recorrência e morte por câncer de cólon.
 
Os autores analisaram as associações para o risco de recorrência do câncer e morte entre o consumo total de nozes e apenas o consumo de frutos secos de árvores, como nozes e amêndoas. Pacientes que consumiram mais de 57 gramas (duas onças) de todos os tipos de nozes por semana (19% de todos os pacientes no estudo) tiveram uma probabilidade 42% menor de recorrência do câncer (95% CI, 0,37 a 0,92; p-trend=0,03) e 57% menos chance de morte (95% CI, 0,25 a 0,74, p-trend=0,01) do que aqueles pacientes que não comeram nozes após a conclusão de seu tratamento contra o câncer.
 
Ao analisar apenas o consumo de tree nuts, a chance de recorrência foi 46% menor (95% CI, 0,34 a 0,85; p-trend=0,04) e a chance de morte foi 53% menor (95% CI, 0,27 a 0,82; p-trend=0,04) para aqueles que comiam pelo menos 57 gramas (duas onças) por semana em comparação com os pacientes que não ingeriam o alimento. Como não houve redução significativa na recorrência do câncer ou morte para aqueles que se alimentaram com amendoim ou manteiga de amendoim, os autores do estudo concluem que o benefício é provavelmente limitado às tree nuts. Mais pesquisas são necessárias para entender a falta de associação com o amendoim.
 
A associação da ingestão total de nozes com resultados melhorados foi mantida através de outros preditores conhecidos ou suspeitos de recorrência e mortalidade, incluindo entre as alterações genômicas comuns (instabilidade de microssatélites, mutação KRAS, mutação BRAF e mutação PIK3CA).
 
"Precisamos olhar para o potencial impacto positivo do consumo de nozes sobre a sobrevida em outras fases do câncer de cólon, especialmente na fase IV. Em última análise, precisamos entender como as nozes conferem este efeito protetor, bem como possivelmente realizar um ensaio clínico randomizado e controlado, onde as recomendações de dieta são dadas no início do estudo para provar que as nozes podem reduzir a recorrência e morte após o tratamento para o câncer de cólon," concluiu Fadelu.
 
O estudo foi financiado pelo National Cancer Institute, do National Institutes of Health, e Pfizer.
 
Referências:

1 - Abstract 10006: American Cancer Society (ACS) Nutrition and Physical Activity Guidelines after colon cancer diagnosis and diseasefree (DFS), recurrence-free (RFS), and overall survival (OS) in CALGB 89803 (Alliance) - Erin Van Blarigan et al - Presentation Information Patient and Survivor Care - Oral Abstract Session, Friday, June 2, 2017: 5:00 p.m. – 5:12 p.m. CT, S102 - Erin Van Blarigan, ScD University of California, San Francisco San Francisco, California

2 - Abstract 3517: Nut consumption and survival in stage III colon cancer patients: Results from CALGB 89803 (Alliance) - Temidayo Fadelu et. al - Gastrointestinal (Colorectal) Cancer Poster Discussion Session - June 3, 2017: 1:15 p.m. – 2:30 p.m. CT, Arie Crown Theater - Temidayo Fadelu, MD Dana-Farber Cancer Institute Boston, Massachussetts

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