Uma análise retrospectiva sugere que a imunoterapia pode ser menos eficaz em pacientes que recebem antibióticos menos de um mês antes de iniciar o tratamento. Os resultados que serão apresentados no 2017 Genitourinary Cancers Symposium, em Orlando, mostram que o câncer se agravou mais rapidamente nos pacientes que fizeram uso de antibióticos em comparação com aqueles que não receberam a medicação (mediana de sobrevida livre de progressão 8,1 meses vs 2,3 meses).
Segundo os autores, este é o primeiro estudo a analisar o impacto dos antibióticos na eficácia dos inibidores de checkpoint imunológico e fornece evidências de uma relação entre o microbioma intestinal e a resposta dos pacientes à imunoterapia.
"Conforme aumentam as opções de imunoterapia para o tratamento do câncer crescem, estamos começando a entender melhor sobre a relação entre as bactérias intestinais e a resposta imune ao câncer", disse Sumanta Pal, especialista da ASCO. "É notável que o uso de antibióticos possa ter um impacto negativo sobre a eficácia da imunoterapia. Este estudo sugere que o uso de antibióticos pelo paciente deve ser considerado cuidadosamente para que os possíveis benefícios da imunoterapia não sejam comprometidos”, afirmou.
Pesquisas anteriores realizadas em camundongos sugeriram que certos microorganismos que habitam no intestino interagem com o sistema imunológico de uma forma que parece ajudar os inibidores de checkpoint imunológico a trabalharem melhor. "Essas descobertas preliminares mostram que os médicos que prescrevem a imunoterapia contra o câncer devem estar atentos ao uso de antibióticos", disse a autora do estudo, Lisa Derosa, do Gustave Roussy Cancer Institute, em Villejuif, na França. "Esta pesquisa pode ser relevante para além do câncer de rim, uma vez que os antibióticos são comumente prescritos a pacientes com câncer para prevenir ou tratar infecções relacionadas ao tratamento oncológico ou ao enfraquecimento do sistema imunológico".
O estudo
A análise incluiu 80 pacientes com carcinoma de células renais metastático que foram inscritos em ensaios clínicos prospectivos de inibidores de checkpoint imunológico. Os pacientes foram tratados com inibidores de PD-1 ou PD-L1 como agente único (n = 67), combinações de inibidores de PD-1 e inibidor de CTLA-4 (n = 10) ou combinações de inibidor de PD-L1 e bevacizumabe (n = 3). A maioria dos pacientes era do sexo masculino (65%), histologia de células claras (88%) e nefrectomia anterior (80%).
No geral, 16 pacientes foram tratados com antibióticos de amplo espectro (antibióticos que funcionam contra uma ampla gama de bactérias) até um mês antes de receber a primeira dose de imunoterapia.A sobrevida livre de progressão (SLP), a taxa de resposta objetiva (TRO) e a sobrevida global (SG) foram comparadas entre os grupos que utilizaram ou não antibióticos.
O grupo que recebeu antibióticos de amplo espectro apresentou SLP de 2,3 meses versus 8,1 meses para o grupo que não recebeu a medicação (p <0,001). Esta associação estatística foi mantida após análise multivariada ajustada para idade, sexo, grupos de risco de IMDC, carga tumoral e inibidores de bomba de prótons. proton pomp inhibitors
Além disso, a TRG foi menor nos pacientes que receberam antibióticos comparado com aqueles que não receberam (p <0,002). Ainda que seja cedo para tirar conclusões sobre a sobrevida global (mediana de seguimento <6 meses), a análise já demonstra uma tendência negativa para a administração de antibióticos.
Os pesquisadores planejam inscrever mais pacientes no estudo e, simultaneamente, continuar os estudos em camundongos para identificar os tipos de bactérias intestinais que afetam a resposta aos inibidores de checkpoint imunológico e os tipos de antibióticos que têm o maior impacto nos resultados.
O estudo foi apoiado pela Philanthropia Foundation.
Referência: Abstract 462: Impact of antibiotics on outcome in patients with metastatic renal cell carcinoma treated with immune checkpoint inhibitors - Derosa, Lisa et al. - J Clin Oncol 35, 2017 (suppl 6S; abstract 462)
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