Vinícius Carrera (foto), secretário do LACOG-GU e oncologista da Clínica AMO, comenta a apresentação dos dados de dois braços randomizados do estudo STAMPEDE na ESMO 2017. O estudo apresentado em destaque neste congresso avaliou, de forma randomizada, pacientes com câncer de próstata hormônio-sensível de alto risco tratados com deprivação androgênica de longo prazo (e radioterapia em alguns pacientes, M0) com adição de abiraterona ou docetaxel.
O tratamento do câncer de próstata avançado hormônio-sensível baseou-se nas últimas décadas apenas na terapia de deprivação androgênica. Entretanto, recentes avanços ocorreram nos últimos três anos e levaram a aprovação de docetaxel e abiraterona neste cenário.
Na tentativa de responder à pergunta de qual seria melhor tratamento na primeira linha, foram apresentados dados de dois braços randomizados do estudo STAMPEDE na ESMO 2017. O desenho do estudo, que é inovador e vem recebendo críticas positivas, é baseado no formato multi-arm e multi-stage e permite respostas rápidas às novas perguntas científicas.
O estudo apresentado em destaque neste congresso avaliou, de forma randomizada, pacientes com câncer de próstata hormônio-sensível de alto risco tratados com deprivação androgênica de longo prazo (e radioterapia em alguns pacientes, M0) com adição de abiraterona ou docetaxel.
O objetivo principal do estudo foi avaliar a sobrevida global (SG) e também avaliou importantes desfechos secundários tais como (sobrevida livre de falha (FFS), sobrevida livre de progressão (PFS), sobrevida livre de progressão para metástase (MPFS), eventos relacionados ao esqueleto (SRE) e toxicidade).
As características dos dois braços foram equilibradas, com 60% de pacientes com doença metastática (M1). Foram analisados 566 pacientes, sendo 189 no grupo docetaxel e 377 no grupo abiraterona. O desfecho principal (SG) do estudo foi negativo, com H.R de 1,16 (IC 95% 0,82 – 1,65) com p=0,41.
Avaliando de forma exploratória os desfechos secundários do estudo, observa-se uma forte evidência de benefício para abiraterona em relação a FFS (H.R 0,51) e PFS (HR 0,65) 1; evidência moderada (sem diferença estatística) de benefício para MPFS e semelhança em relação aos desfechos SRE e mortalidade câncer específica.
Em relação aos tratamentos subsequentes, igual proporção de pacientes no braço quimioterapia recebeu terapia antiandrogênica de nova geração e os pacientes no grupo abiraterona receberam semelhante proporção de quimioterapia subsequentemente1.
Em perspectiva, a privação androgênica tem sido o padrão de cuidados para pacientes com câncer de próstata localmente avançado ou metastático de alto risco desde a década de 1940.
Em análises anteriores, STAMPEDE revelou que docetaxel melhorou a sobrevida em comparação com o padrão de cuidados (HR= 0,78)2 e que abiraterona com prednisona também aumentou a sobrevida em comparação com o mesmo padrão de cuidados (HR, 0,63)3.
"Atualmente, oncologistas e urologistas querem saber qual combinação é preferível", disse o primeiro autor, Matthew Sydes, estatístico da unidade de estudos clínicos MRC, da University College de Londres, Reino Unido. "A comparação ainda é insuficiente, mas são os únicos dados que temos para comparar diretamente docetaxel e abiraterona nesta configuração".
Para Nicholas D. James, pesquisador principal do estudo STAMPEDE e oncologista da Universidade de Birmingham e do Queen Elizabeth Hospital, os resultados atuais sugerem que começar com qualquer droga é aceitável e a escolha pode depender da disponibilidade.
Para Cora N.Sternberg, chefe do Departamento de Oncologia Médica do Hospital San Camillo Forlanini, em Roma, esta comparação oferece fortes evidências para a combinação do padrão de cuidados mais abiraterona em termos de sobrevida livre de falhas e sobrevida livre de progressão e evidências menos robustas em termos de sobrevida livre de metástases e eventos relacionados ao esqueleto. A especialista lembrou, ainda, que os perfis de toxicidade são bastante diferentes4. “Os médicos vão basear a escolha da terapia na disponibilidade e nas características e preferências do paciente ", acrescentou.
Referências:
1 - Abstract LBA31_PR 'Adding abiraterone acetate plus prednisolone (AAP) or docetaxel for patients (pts) with high-risk prostate cancer (PCa) starting long-term androgen deprivation therapy (ADT): directly randomised data from STAMPEDE (NCT00268476)' - M.R. Sydes et al
2 James ND, et al. Addition of docetaxel, zoledronic acid, or both to first-line long-term hormone therapy in prostate cancer (STAMPEDE): survival results from an adaptive, multiarm, multistage, platform randomised controlled trial. Lancet. 2016;387:1163–1177. doi: 10.1016/S0140-6736(15)01037-5. Epub 2015 Dec 21.
3 James ND, et al. Abiraterone for Prostate Cancer Not Previously Treated with Hormone Therapy. N Engl J Med. 2017;377:338–351. doi: 10.1056/NEJMoa1702900. Epub 2017 Jun 3.
4 Fizazi K, et al. Abiraterone plus Prednisone in Metastatic, Castration-Sensitive Prostate Cancer. N Engl J Med. 2017;377(4):352–360. doi: 10.1056/NEJMoa1704174.
5 Abstract 783O 'Benefits of Abiraterone Acetate Plus Prednisone (AA+P) When Added to Androgen Deprivation Therapy (ADT) in LATITUDE on Patient (Pt) Reported Outcomes (PRO)' will be presented by Dr Kim Chi during Proffered Paper Session 'Genitourinary tumours, prostate' on Friday, 8 September 2017, 14:00 to 15:30 (CEST) in the Sevilla Auditorium.
6 Abstract LBA33 'What are the optimal systemic treatments for men with metastatic, hormone-sensitive prostate cancer? A STOPCaP systematic review and network meta-analysis' will be presented by Dr CL Vale during Poster Discussion Session 'Genitourinary tumours, prostate' on Sunday, 10 September 2017, 09:15 to 10:30 (CEST) in the Bilbao Auditorium.