Apresentado em Sessão Plenária na ASCO 2018, o estudo Carmena inaugura um novo paradigma no tratamento do câncer renal metastático (mRCC), mostrando que muitos pacientes podem receber exclusivamente terapia-alvo em lugar da nefrectomia, sem comprometer a sobrevida. A mediana de sobrevida global para pacientes que receberam a terapia-alvo sunitinibe foi de 18,4 meses, em comparação com 13,9 meses para aqueles tratados com cirurgia seguida de sunitinibe, hoje o padrão de tratamento.
Carmena é um estudo randomizado de fase III, que selecionou pacientes com mRCC síncrono passível de NC, inscritos após confirmação da histologia de células claras, PS 0-1 (ECOG), ausência de metástase cerebral sintomática, elegíveis para a terapia com sunitinibe. Os pacientes foram randomizados 1: 1 para nefrectomia citorredutora seguida de sunitinibe (braço A) ou sunitinibe isoladamente (braço B) e estratificados por grupos de risco MSKCC. Sunitinib foi administrado a 50 mg/dia, por 4/6 semanas, com adaptação da dose à prática de rotina. No braço A, a terapia-alvo foi iniciada 4 a 6 semanas após a cirurgia. O endpoint primário foi sobrevida global (SG).
Foram incluídos 450 pacientes, randomizados para os braços A (N= 226) e B (N=224), com idade mediana de 62 anos, PS- ECOG de 0 em 56% e de 1 em 44%. Após acompanhamento pela média de 50,9 meses, a sobrevida do grupo tratado exclusivamente com sunitinibe não foi inferior a dos pacientes que receberam o padrão de tratamento (nefrectomia seguida de sunitinibe), respectivamente com 18,4 meses versus 13,9 meses. A não inferioridade também foi observada na análise dos grupos de risco intermediário (23,4 vs 19 meses) e baixo (13,3 vs 10,2 meses). Nenhuma diferença foi observada na taxa de resposta e na SLP, com mediana de 7,2 meses no braço A e de 8,3 meses no braço padrão (veja tabela abaixo).
Em relação ao perfil de segurança, os dados se mantiveram dentro do esperado para sunitinibe, em ambos os braços.
Os resultados mostram que sunitinibe sozinho não é inferior à NC seguida por sunitinibe no CCRm síncrono. “Até agora, a nefrectomia foi considerada o padrão de tratamento para pacientes com câncer renal metastático ao diagnóstico, que representam cerca de 20% de todos os cânceres renais no mundo”, disse o primeiro autor, o urologista Arnaud Mejean, do Hospital Européen Georges-Pompidou, da Universidade Paris-Descartes, França. "Nosso estudo é o primeiro a questionar a necessidade de cirurgia na era das terapias-alvo e mostra claramente que a cirurgia para certos pacientes com câncer renal não deve mais ser o padrão de tratamento" .
Arm A | Arm B | HR [CI95%] | |
OS Median (mo) [CI95%] | 13.9 [12-18] | 18.4 [15-23] | 0.89 [0.71-1.10] |
MSKCC Intermediate | 19.0 [12-28] | 23.4 [17-32] | 0.92 [0.68-1.24] |
MSKCC Poor | 10.2 [9-14] | 13.3 [9-17] | 0.85 [0.62-1.17] |
ORR | 35.9 % | 35.9 % | |
PFS Median (mo) [CI95%] | 7.2 [6.2-8.5] | 8.3 [6.2-9.9] |
Referências:
Abstract LBA3: CARMENA: Cytoreductive nephrectomy followed by sunitinib versus sunitinib alone in metastatic renal cell carcinoma—Results of a phase III noninferiority trial.
Plenary Session Including the Science of Oncology Award and Lecture
Apresentação: Arnaud Mejean, Department of Urology, Hôpital Européen Georges-Pompidou - Paris Descartes University
Domingo, 3 de junho