Análise dos dados do registro de câncer de um hospital da Califórnia revelou que mulheres com câncer de cabeça e pescoço receberam menos quimioterapia intensiva (35% vs. 46%) e menos radioterapia (60% vs. 70%) na comparação com pacientes homens. Os dados serão apresentados na ASCO 2018 e devem ter impacto no modelo de cuidados. “Nós não estávamos procurando por diferenças de gênero, então os resultados foram realmente surpreendentes”, explicou Jed A. Katzel, autor senior do estudo (LBA 6002)1.
Os pesquisadores avaliaram desfechos de saúde em pacientes com câncer de cabeça e pescoço tratados no Kaiser Permanente Northern, California, sendo 223 mulheres e 661 homens, todos com estágio clínico II-IVB pela 7ª edição do AJCC.
Para estimar a probabilidade de receber tratamento intensivo, incluindo quimioterapia à base de platina e radioterapia, os pesquisadores usaram modelos de regressão logística, ajustando fatores como idade, sexo, estágio do tumor, índice de comorbidade de Charlson e histórico de tabagismo e uso de álcool. Uma ferramenta matemática chamada de modelo de evento competitivo generalizado (GCE, do inglês generalized competing event) foi usada para comparar o risco de morte por câncer ao risco de morte por outras causas.
Resultados
Após acompanhamento mediano de 2,9 anos, 271 pacientes morreram de câncer e 93 de causas não oncológicas. Em comparação com o sexo masculino, as mulheres tiveram menor probabilidade de receber quimioterapia intensiva (35% vs. 46%, p = 0,006) e radioterapia (60% vs. 70%, p = 0,008). A análise do modelo GCE revela que pacientes do sexo feminino tiveram aumento do hazard ratio relativo (RHR) para morte por câncer de cabeça e pescoço versus morte por outras causas (RHR 1,92 ajustado; IC 95% 1,07-3,43).
Os resultados mostram que o modelo GCE foi capaz de identificar a ocorrência de subtratamento na população feminina, como também revelou que a relação entre câncer e mortalidade não oncológica foi duas vezes maior para mulheres.
Outro achado importante diz respeito aos tumores de cabeça e pescoço HPV associados, de melhor prognóstico. Neste estudo, menos mulheres tiveram câncer de orofaringe associado à infecção por papilomavírus humano (38% vs. 55%).
Para os autores, uma investigação prospectiva é necessária para aprofundar esses achados iniciais e ajudar a entender as diferenças nos resultados entre mulheres e homens com câncer de cabeça e pescoço. “Com esse modelo matemático, temos uma ferramenta que pode nos ajudar a identificar os pacientes que provavelmente se beneficiarão de um tratamento mais intensivo, bem como aqueles mais propensos a morrer de outras causas não relacionadas ao câncer. A esperança é de que, integrando esse modelo aos nossos cuidados, possamos melhorar o atendimento de todos os pacientes com câncer de cabeça e pescoço”, projeta.
Hoje, os tumores de cabeça e pescoço são responsáveis por aproximadamente 4% de todos os cânceres nos Estados Unidos, duas vezes mais frequentes entre homens do que entre mulheres2, 3.
Table 1: ω+ ratio and odd ratio for select variables | Adjusted RHR (ω+ ratio) for cancer vs. non-cancer mortality (95% CI) | Intensive chemotherapy OR (95% CI) | Radiation OR (95% CI) | Surgery OR (95% CI) |
Female | 1.92 (1.07-3.43) | 0.68 (0.48, 0.98) | 0.79 (0.56, 1.11) | 1.04 (0.72, 1.53) |
CCI > = 1 | 0.75 (0.46-1.24) | 0.78 (0.68-0.89) | 0.96 (0.86-1.07) | 1.02 (0.91-1.15) |
Age (per 10 years) | 0.78 (0.62-0.99) | 0.88 (0.75-1.02) | 0.90 (0.77-1.05) | 0.70 (0.59-0.82) |
Referências:
1 - Abstract LBA6002: Are women with head and neck cancer undertreated?
ORAL ABSTRACT SESSION - Head and Neck Cancer
Apresentação: Annie Park, Kaiser Permanente
Domingo, 3 de junho
2 - Siegel RL, Miller KD, Jemal A. Cancer Statistics, 2017. CA: A Cancer Journal for Clinicians 2017; 67(1):7-30
3 - Katzel JA, Merchant M, Chaturvedi AK Silverberg MJ, Contribution of demographic and behavioral factors on the changing incidence rates of oropharyngeal and oral cavity cancers in Northern California. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev; 24(6):978-984)