Onconews - HIPEC não mostra benefício de sobrevida no câncer colorretal

ademar lopes 2018 NET OKPRODIGE-7 é um estudo randomizado de fase III multicêntrico, desenhado para avaliar o papel da HIPEC após cirurgia citorredutora no tratamento do câncer colorretal. Os resultados foram destaque na ASCO, em apresentação oral na sessão GI de terça-feira, 5 de junho, e mostram que HIPEC não traz benefício de sobrevida (LBA3503). O trabalho confirma a crença de que a HIPEC não é promissora no tratamento de implantes peritoneais de origem colorretal. No entanto, o estudo demonstrou que a citorredução isolada pode ter algum valor”, afirma o cirurgião oncológico Ademar Lopes (foto), do A.C.Camargo Cancer Center.

O estudo considerou elegíveis pacientes com câncer colorretal estádio IV, com índice de câncer peritoneal ≤25. Os pacientes foram randomizados (1: 1), estratificados por centro, ressecção macroscópica completa (R0/1 vs R2) e quimioterapia sistêmica neoadjuvante. Os pacientes foram tratados com citorredução (CRS) mais HIPEC com oxaliplatina ou apenas CRS, em associação com quimioterapia sistêmica. O endpoint primário foi sobrevida global (SG). Os endpoints secundários foram sobrevida livre de recidiva (SLR) e toxicidade.

Resultados

265 pacientes de 17 centros foram incluídos entre fevereiro de 2008 e janeiro de 2014, sendo 132 no braço sem HIPEC e 133 no braço com HIPEC, idade média de 60 anos (variação: 30-74). A taxa de mortalidade geral pós-operatória foi de 1,5% e não diferiu entre os dois braços.

Em 30 dias também não foram observadas diferenças estatísticas nas taxas de morbidade. No entanto, aos 60 dias, a morbidade grau 3-5 foi significativamente maior com HIPEC (24,1% vs. 13,6%, p = 0,030). Após acompanhamento médio de 63,8 meses, a mediana de SG foi 41,2 meses (IC95% 35,1-49,7) no grupo não-HIPEC e de 41,7 meses (IC 95%: 36,2-52,8) no braço HIPEC (HR = 1,00 (IC 95%: 0,73-1,37) p = 0,995.

A mediana de sobrevida livre de recidiva foi de 11,1 meses no braço não HIPEC e 13,1 meses no braço HIPEC, HR = 0,90 (IC 95%: 0,69-1,90) = 0,486), enquanto as taxas de SLR em 1 ano foram de 46,1% no braço não-HIPEC e de 59% no braço HIPEC.

Conclusões

Em conclusão, os dados desta análise mostram que a adição de HIPEC com oxaliplatina não influencia a sobrevida global. “Quando esta abordagem foi introduzida há mais de 15 anos, foi o primeiro tratamento eficaz para tumores metastáticos no abdômen e não sabíamos se a quimioterapia aquecida, ofertada durante a cirurgia, era um componente importante ou não", disse Francois Quenet, principal autor do estudo, médico chefe da unidade hepato-biliar do Instituto Regional de Câncer em Montpelier,França. "Este é o primeiro estudo randomizado a avaliar o papel deste tipo especial de quimioterapia no câncer colorretal avançado e mostra que a HIPEC não fornece benefícios adicionais sobre a cirurgia", observa.

“Apesar de termos iniciado a citorredução mais HIPEC em 2001, inicialmente para implantes peritoneais oriundos de neoplasias mucinosas apendiculares e mesotelioma, e posteriormente estendida para outros tumores, como ovário e colorretal, acredito que a grande quebra de paradigma tenha sido a intervenção cirúrgica em pacientes que anteriormente eram tratados somente com quimioterapia”, avalia o cirurgião Ademar Lopes. “Na realidade, mesmo em tumores mucinosos de baixo grau de origem apendicular, o que de fato mudou significativamente as taxas de cura e sobrevida destes pacientes foi a citorredução completa ou CC1”, conclui.

Informação do estudo clínico: NCT00769405.

Referência: A UNICANCER phase III trial of hyperthermic intra-peritoneal chemotherapy (HIPEC) for colorectal peritoneal carcinomatosis (PC): PRODIGE 7.
J Clin Oncol 36, 2018 (suppl; abstr LBA3503)