Um teste que identifica células tumorais circulantes (CTCs) presentes na corrente sanguínea pode detectar o câncer colorretal em estágio inicial, com uma precisão que varia de 84% a 88%. O trabalho, um dos primeiros a demonstrar que os CTCs podem ser úteis para detectar a doença em estágios iniciais, foi apresentado no 2018 Gastrointestinal Cancers Symposium (ASCO GI), em San Francisco, Califórnia. A oncologista Rachel Riechelmann (foto), Diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e Diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center, comenta os resultados.
"Ainda há uma resistência entre os pacientes para usar testes baseados em fezes ou um exame invasivo como colonoscopia para detectar câncer colorretal", afirmou o primeiro autor do estudo, Wen-Sy Tsai, professor assistente do Linkou Chang Gung Memorial Hospital, Taipei, Taiwan. "Nossos resultados sugerem uma solução para aquelas pessoas que estão relutantes em realizar uma colonoscopia de triagem inicial ou não são compatíveis com os kits de testes baseados em fezes que eles recebem de seus médicos", acrescentou.
Os CTCs se afastam do tumor primário e viajam para a corrente sanguínea, onde podem então formar novos tumores em locais distantes. Até o momento, a maioria dos estudos que utilizam células tumorais circulantes conseguiram detectar o câncer colorretal apenas em estágios avançados.
"Pesquisas recentes descobriram que mais de 80% dos pacientes que estão relutantes em submeter-se a rastreio de colonoscopia seriam receptivos a um exame de sangue", disse o co-autor Ashish Nimgaonkar, gastroenterologista e Diretor Médico no Centro de Bioengenharia, Inovação e Design na Johns Hopkins University, Baltimore, Maryland. "Além disso, a acessibilidade é considerada a principal razão para não realizar o rastreio. No entanto, esse teste é altamente acessível e pode custar menos de US$ 100”, afirmou. Nimgaonkar também observou que a colonoscopia ainda é o teste de diagnóstico padrão ouro, e seria necessário para a remoção de amostras de tumores ou pólipos.
Sobre o Estudo
Realizado no Chang Gung Memorial Hospital, Taoyuan, Taiwan, o estudo prospectivo, cego, centro único, inscreveu 620 pessoas com mais de 20 anos submetidas à colonoscopia de rotina ou com diagnóstico confirmado de câncer colorretal. Com base na colonoscopia e na biópsia, 438 pessoas encontraram pólipos adenomatosos (pré-cancerosos) ou câncer colorretal em estágios inicial ou avançado. O restante dos participantes (182 pessoas) não apresentou sinais de crescimento pré-cancerígeno ou câncer colorretal (grupo de comparação).
Todos os 620 inscritos tiveram 2 ml de sangue periférico coletado através de um exame de sangue de rotina e foi processado usando a plataforma biomimética CellMax (CMx), um ensaio que captura CTCs raros - como os encontrados no câncer em estágio inicial - em um chip revestido com lipídios que imita o tecido humano. Os resultados desses ensaios foram então comparados em uma análise cega com os resultados da colonoscopia.
Os pesquisadores se concentraram na especificidade do teste de biópsia líquida, que é a proporção de indivíduos saudáveis identificados corretamente como não tendo pólipos ou câncer. Os valores de especificidade foram 97,3%, indicando uma probabilidade muito baixa (menos de 3%) de um resultado falso positivo.
Os resultados mostraram sensibilidade de 77% para a detecção de CTCs em lesões pré-cancerosas e 87% para câncer em estágios I-IV. Os pesquisadores também calcularam a precisão dos resultados, levando em consideração tanto a sensibilidade quanto a especificidade, e constataram que a precisão do teste variou de 84% a 88% entre amostras pré-cancerosas e cancerígenas. A precisão deste teste foi superior à dos testes de sangue oculto nas fezes (FOBT).
“O estudo é interessante porque buscou uma estratégia não invasiva para detecção de tumor e lesões pré-malignas, tecnologia disponível em alguns centros do Brasil. No entanto, não explica porque se detectou CTC em pacientes com tumores benignos (adenomas)”, afirma a oncologista Rachel Riechelmann, Diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e Diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center.
Os pesquisadores planejam validar o uso de testes de CTC na população em geral em Taiwan e realizar estudos nos EUA. De acordo com os autores, a tecnologia utilizada neste estudo potencialmente poderia ser usada com outros tumores sólidos, como mama, pulmão e câncer de próstata.
O estudo foi financiado pelo Ministério da Saúde de Taiwan e Chang Gang Memorial Hospital.