Pesquisadores desenvolveram um modelo para prever a sobrevida global de pacientes com câncer urotelial avançado tratados com o inibidor de checkpoint imune atezolizumab. Baseado em seis fatores clínicos, o modelo pode ajudar a informar as decisões de tratamento para o uso da imunoterapia nesses pacientes. Os resultados foram apresentados no próximo 2018 Genitourinary Cancers Symposium. O oncologista André Fay (foto), chefe do Serviço de Oncologia do HSL-PUCRS e membro do LACOG-GU, comenta o trabalho.
"O tratamento com inibidores de checkpoint imunológico tem revolucionado o tratamento dos carcinomas uroteliais avançados. Entretanto, o benefício clínico proporcionado por estas terapias ocorre em uma minoria dos pacientes. Desta forma, a identificação de biomarcadores preditivos de resposta, ou mesmo de prognóstico, são de fundamental importância na tomada de decisão clínica e no desenho de estudos clínicos neste cenário", afirma o oncologista André Fay.
Métodos
Para desenvolver o modelo, os pesquisadores analisaram os dados de dois ensaios clínicos de resgate que avaliaram o inibidor de PD-L1 atezolizumab em pacientes com câncer urotelial avançado que progrediram à quimioterapia com cisplatina, o tratamento padrão para a doença. O modelo foi desenvolvido com base em dados de 310 pessoas inscritas no estudo de fase II IMvigor210 e, em seguida, validado com base em dados de um teste de fase I de 95 pessoas com câncer de bexiga (PCD4989g).
Foram realizadas análises de regressão Cox multivariáveis e univariáveis para avaliar a associação dos fatores prognósticos reconhecidos no contexto da quimioterapia (performance status ECOG [ECOG-PS], metástase hepática (LM), anemia, intervalo livre de tratamento, albumina), razão linfócitos-neutrófilos (NLR), contagem de eosinófilos, contagem de plaquetas (PLT), local do tumor primário /metástases, estádio ao diagnóstico, tabagismo, LDH, terapias anteriores e status de PD-L1 de células imunes por IHC com sobrevida global.
Resultados
Os fatores incluídos no modelo prognóstico ótimo para sobrevida global foram: ECOG-PS 1 vs. 0 (HR 1,64 [95% IC: 1,20, 2,24], p = 0,002), LM (1,45 [1,08, 1,94], p = 0,014), PLT (1,73 [1,14, 2,61], p = 0,010), NLR (1,84 [1,45, 2,34], p <0,001), LDH (1,54 [1,19, 1,99], p = <0,001) e anemia (HR = 1,60 [1,17, 2,21] p = 0,004). A estatística c foi 0,690 (95% IC = 0,649-0,715) e 0,759 (0,694-0,795) nos conjuntos de dados de treinamento e validação, respectivamente.
Os pesquisadores descobriram que a sobrevida do paciente estava associada ao número de fatores prognósticos que um paciente possuía. No teste Imvigor210, a média de sobrevida global foi de 19,6 meses para aqueles com 0-1 fatores, 5,9 meses para aqueles com 2-3 fatores e 2,6 meses para aqueles com 4 fatores ou mais.
A sobrevida global em um ano nas coortes de treinamento e validação foram semelhantes. O escore de PD-L1 foi estatisticamente significativo quando ajustado para o modelo ótimo, mas não melhorou a interpretabilidade clínica (c-estatística = 0,698).
"O estudo determina um novo modelo prognóstico para pacientes com carcinoma urotelial avançado tratados com atezolizumab. Tais resultados necessitam de validação para serem utilizados na prática clínica, mas auxiliam na identificação de pacientes com probabilidade de melhor desfecho clínico quando tratados com esta droga", observa Fay.
Os autores também esperam fazer algumas análises de subgrupos para determinar se pessoas com características específicas podem se beneficiar mais com a imunoterapia atezolizumab do que outras. Mais pesquisas também são necessárias para determinar se esse modelo prognóstico pode ser aplicado a outras populações de pacientes ou outras imunoterapias.
Referência: Abstract 413 - New 6-factor prognostic model for patients (pts) with advanced urothelial carcinoma (UC) - Gregory Russell Pond et al - Citation: J Clin Oncol 36, 2018 (suppl 6S; abstr 413)