Onconews - SPARTAN: apalutamida adia desenvolvimento de metástases no câncer de próstata

Prostata 2017 NET OKResultados do estudo placebo controlado, fase III SPARTAN sugerem que a apalutamida é um tratamento eficaz para homens com câncer de próstata não-metastático resistente à castração (nmCRPC) que estão em alto risco de desenvolver doença metastática e para os quais não existem tratamentos aprovados. Os pacientes que receberam apalutamida apresentaram um risco 72% menor de metástase ou morte em comparação com placebo. Os dados foram apresentados no 2018 Genitourinary Cancers Symposium, que acontece entre os dias 08 e 10 de fevereiro em San Francisco, California.

"Até este estudo, não havia drogas com eficácia comprovada na doença não metastática que progrediu apesar da terapia hormonal padrão. Esses resultados mostram que a apalutamida fez uma diferença significativa ao prolongar o tempo antes do desenvolvimento da metástase", disse o autor principal do estudo, Eric J. Small, professor de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco.

Sobre o estudo

O estudo foi conduzido em 332 instituições em todo o mundo e inscreveu 1.207 homens com nmCRPC que deixaram de responder à terapia de privação androgênica (ADT) e que estavam em alto risco de metástase. Os pacientes com nmCRPC e tempo de duplicação do PSA (PSADT) ≤ 10 meses foram randomizados 2:1 para apalutamida (APA, 240 mg QD) ou placebo (PBO). O endpoint primário foi a sobrevida livre de metástase (MFS), definido como o tempo desde a randomização até a primeira metástase radiográfica distante (por revisão central cega) ou a morte. Os endpoints secundários incluíram tempo para metástases (TTM), sobrevida livre de progressão (SLP), tempo para progressão sintomática (SymProg) e sobrevida global (SG).

Os participantes eram elegíveis para receber acetato de abiraterona mais prednisona após o desenvolvimento de metástases à distância. A segunda sobrevida livre de progressão (PFS2, tempo de randomização para progressão da doença ou morte após o primeiro tratamento para CRPC metastático) também foi avaliada.

Resultados

Foram randomizados 1207 pacientes. O PSADT no baseline foi <5 meses em ambos os grupos. A apalutamida diminuiu o risco de metástase à distância ou morte em 72% (HR = 0,28; 95% IC, 0,23-0,35; p <0,0001), com uma mediana de MFS de 40,5 vs 16,2 meses no grupo placebo. Os endpoints secundários (TTM, PFS e SymProg) foram significativamente melhorados.

Em uma análise interina para sobrevida global, houve uma tendência favorável à apalutamida. Em um seguimento médio de 20,3 meses, 61% dos pacientes de apalutamida e 30% de placebo ainda estavam em tratamento. As taxas de interrupção devido a eventos adversos foram baixas em ambos os grupos (APA 10,7%, PBO 6,3%). Os resultados médios de qualidade de vida relacionados à saúde foram mantidos com o tratamento, sem diferença entre os grupos ao longo do tempo.

Entre aqueles cuja doença progrediu, 80% dos pacientes que receberam placebo e 56% em tratamento com apalutamida receberam terapia para CRPC metastático. PFS2 foi significativamente maior para APA vs PBO.

A apalutamida também aumentou significativamente o tempo para metástases (TTM), sobrevida livre de progressão (SLP), tempo para progressão sintomática (SymProg) e PFS2, e foi associada à sobrevida global melhorada. Estes resultados suportam a adição de apalutamida à terapia de privação androgênica em homens com câncer de próstata não metastático resistete à castração.

"Esses dados demonstram que o uso de apalutamida antes do desenvolvimento de metástases beneficiou claramente os pacientes cujo câncer de próstata não respondeu à terapia hormonal convencional", disse Small.

Os autores esperam identificar os pacientes que mais se beneficiaram com a apalutamida através da análise de marcadores moleculares e circulantes de amostras de sangue, e também irão analisar em maior profundidade os resultados relatados pelos pacientes.

O estudo SPARTAN foi financiado pela Aragon Pharmaceuticals, Inc., uma subsidiária integral da Johnson & Johnson.

Informações do ensaio clínico: NCT01946204

Referência:  Abstract 161 - SPARTAN, a phase 3 double-blind, randomized study of apalutamide (APA) versus placebo (PBO) in patients (pts) with nonmetastatic castration-resistant prostate cancer (nmCRPC). - Citation: J Clin Oncol 36, 2018 (suppl 6S; abstr 161) - Author(s): Eric Jay Small et al

Novos agentes hormonais na evolução terapêutica do câncer de próstata

Por Andrey Soares, chair do LACOG-GU e oncologista clínico do CPO e do Hospital Israelita Albert Einstein

Os estudos PROSPER e SPARTAN estiveram entre os destaques do congresso americano de tumores geniturinários e avaliaram o papel dos novos agentes hormonais na evolução terapêutica do câncer de próstata, quando não existiam opções de tratamento.

O câncer de próstata não metastático resistente a castração (M0CRPC) é uma entidade rara na evolução do câncer de próstata e muitas vezes “fabricado” pelo médico com o uso muito precoce de bloqueio androgênico. Além disso, o emprego crescente de exames com maior sensibilidade, como o PET PSMA, faz com que estes pacientes sem doença mensurável sejam bastante raros. Para completar, os pacientes precisavam apresentar um tempo de duplicação de PSA menor que 10 meses, o que restringe mais ainda os pacientes, que representam uma população que sabidamente tem um prognóstico muito pior.

O uso precoce dos novos agentes hormonais (enzalutamida e apalutamida) demonstrou benefício em um conceito relativamente novo, a sobrevida livre de metástases, que no cenário da doença localizada já demonstrou seu papel preditor de sobrevida global, ainda não demonstrado nos pacientes com M0CRPC.

Como positivo temos o atraso no aparecimento de metástases e de todos os objetivos secundários. Ainda não é possível avaliar a sobrevida global por imaturidade nos dados, apesar da tendência. No entanto, chama a atenção que entre os pacientes do grupo placebo apenas cerca de 80% receberam tratamento para a doença metastática após a progressão da doença, número que deveria ser 100%!

Demograficamente os pacientes tinham elevado risco de progressão, com tempo de duplicação mediano entre 3,5 e 4 meses nos estudos (75% < 6 meses). Analisando as curvas de progressão podemos ver que em torno de 30% dos pacientes não houve progressão aos 30 meses.

Vale considerar que a mediana de idade dos pacientes tratados foi de 74 anos e uma boa fração foi de octagenários e nonagenários, o que levanta o questionamento se todos deveriam ser tratados. Mais uma vez aguardamos biomarcadores para melhor selecionar os pacientes. Como era de se esperar não houve deterioração na qualidade de vida, porém como os pacientes eram assintomáticos também não houve uma melhora.

Em resumo, a chegada de tratamentos ativos para os pacientes com M0CRPC é uma excelente notícia, mas de acordo com algumas peculiaridades do momento da doença e dos dados dos estudos o ideal será discutir com cada paciente os prós e contras do tratamento.