Onconews - Atraso na quimioterapia adjuvante associado a piores desfechos no câncer de mama triplo-negativo

Zaida Morante SABCS18 NET OKPacientes com câncer de mama triplo-negativo que adiaram o início da quimioterapia adjuvante por mais de 30 dias após a cirurgia apresentaram risco significativamente maior de recidiva da doença e morte em comparação àqueles que iniciaram o tratamento nos primeiros 30 dias após a cirurgia. Os resultados do estudo retrospectivo foram apresentados no 2018 San Antonio Breast Cancer Symposium por Zaida Morante (foto), oncologista do Instituto Nacional de Enfermedeiras Neoplásicas, em Lima, Peru.

Foto: © SABCS/Scott Morgan 2018

A quimioterapia adjuvante diminui o risco de recidiva e melhora as taxas de sobrevida, mas não está claro se um início tardio está associado a resultados adversos. A informação disponível é especialmente escassa para o câncer de mama triplo negativo (TNBC), que representa um grupo de alto risco.

“A maioria das diretrizes recomenda iniciar essa quimioterapia adjuvante dentro de quatro a seis semanas após a cirurgia para qualquer tipo de câncer de mama. Outros recomendam começar logo que clinicamente possível no prazo de 31 dias da cirurgia. No entanto, o tempo ideal para iniciar a quimioterapia é desconhecida”, disse Zaida Morante.

Agora, esse trabalho buscou avaliar a influência do tempo para quimioterapia (TTC) nos resultados de sobrevida das pacientes com câncer de mama triplo-negativo. Os pesquisadores analisaram retrospectivamente os dados de prontuários de pacientes com TNBC que receberam quimioterapia adjuvante no Instituto Nacional de Enfermedades Neoplasicas entre 2000-2014. O tempo para quimioterapia foi definido como o número de dias entre a cirurgia e a primeira dose de quimioterapia. Os pacientes foram categorizados em 4 grupos de acordo com o TTC: 30, 31-60, 61-90, ≥91 dias, e foram avaliadas a sobrevida livre de recorrência (RFS) e sobrevida global (SG).

Resultados 

Morante e colegas analisaram retrospectivamente os dados obtidos nos prontuários médicos de 687 pacientes com câncer de mama triplo negativo, com mediana de idade ao diagnóstico de 49,15 anos (variação de 21 a 89). A maioria das pacientes tinha doença estádio II (60,1%) ou III (29,45%), e receberam antraciclinas ou antraciclinas + quimioterapia baseada em taxano (96,1%). A mediana do tempo para quimioterapia foi de 41 dias. 189 pacientes (27,5%) receberam quimioterapia em 30 dias ou menos; 329 (47,9%), entre 31 e 60 dias; 115 (16,7%), entre 61 e 90 dias e; 54 (7,9%) além de 90 dias. O follow-up mediano foi de 101 meses.

Com o aumento do tempo de início da quimioterapia adjuvante, a taxa de sobrevida livre de doença em 10 anos diminuiu; foi de 81,4%, 68,6%, 70,8% e 68,1% entre os pacientes que iniciaram o tratamento 30 dias ou menos após a cirurgia, 31 a 60 dias após a cirurgia, 61 a 90 dias após a cirurgia e mais de 90 dias após a cirurgia, respectivamente (p = 0,005). A taxa de sobrevida global em 10 anos também diminuiu com o aumento do tempo para iniciar a quimioterapia adjuvante; foi de 82%, 67,4%, 67,1% e 65,1% para os quatro grupos de pacientes, respectivamente (p = 0,003).

Na análise multivariada, o TTC foi um fator prognóstico independente para sobrevida livre de recorrência e sobrevida global.

Os pesquisadores então avaliaram como a extensão do atraso no início da quimioterapia estava associada a um risco aumentado de recorrência da doença e morte, e descobriram que, em comparação com as pacientes que iniciaram quimioterapia adjuvante nos primeiros 30 dias após a cirurgia, o risco de recorrência da doença aumentou em 92% para aquelas que atrasaram o tratamento por 31 a 60 dias após a cirurgia, em 138% para as pacientes que atrasaram o início o tratamento por 61 a 90 dias após a cirurgia; e por 147% para as pacientes que atrasaram o início do tratamento por mais de 90 dias após a cirurgia.

"Nossos dados mostram que deve ser uma prioridade para os pacientes com câncer de mama triplo-negativo começar a quimioterapia adjuvante em até 30 dias após a cirurgia. Após este período de tempo, o benefício da quimioterapia é significativamente diminuído", disse Zaida. “Como isso representa uma oportunidade viável para melhoria, todas as tentativas devem ser feitas para evitar o início tardio da quimioterapia adjuvante neste grupo de pacientes de alto risco”, concluiu.

Referência: GS2-05 - Impact of the delayed initiation of adjuvant chemotherapy in the outcomes of triple negative breast câncer - Zaida Morante et al