Estudo apresentado pela mastologista Sandra Gioia (foto) na sessão de pôster do SABCS 2018 buscou avaliar o Programa de Navegação de Pacientes no Rio de Janeiro (PNP Rio), cujo objetivo principal é promover a adesão à "Lei dos 60 Dias". O estudo teve colaboração do Global Cancer Institute, liderado por Paul Goss, oncologista clínico do Harvard Medical School, e foi citado na sessão de pacientes do Simpósio como um dos três trabalhos que merecem highlights.
A Lei dos 60 dias afirma que todos os pacientes com câncer dentro do sistema público devem iniciar o tratamento dentro de 60 dias após o diagnóstico de câncer. O Programa de Navegação de Pacientes (PNP) com câncer de mama no Rio de Janeiro busca identificar barreiras à conformidade com a Lei de 60 dias, e garantir que pelo menos 70% dos pacientes recrutados de câncer de mama iniciem o tratamento dentro do período de 60 dias obrigatório.
No período de agosto de 2017 a maio de 2018, 105 pacientes com idade entre 33-80 anos (média de 59 anos) foram recrutadas para navegação no Rio Imagem - um centro avançado de diagnóstico de câncer de mama administrado pela secretaria estadual de saúde, atendendo pacientes do sistema público dos 92 municípios do estado. No Navegador de Pacientes (NP), um assistente social inicia a navegação a partir do diagnóstico, aplicando questionários para coletar datas clínicas, informações clínicas, demográficas, psicossociais e nível de satisfação das pacientes. Estas pacientes foram acompanhadas por telefone, e-mail ou mensagem de texto para identificar e superar barreiras ao início do tratamento.
As pacientes apresentavam estadiamento 0-I (17%), II-III (78%) e IV (5%). Houveram duas mortes relacionadas ao câncer de mama nesse grupo. Todas as pacientes tiveram entre duas e doze barreiras (em média 5). As principais barreiras para o cumprimento da "Lei dos 60 dias" foram: Medo e pensamentos fatalistas (99%), problemas financeiros (79%), cuidados de saúde descoordenados (76%), profissionais de saúde ignoram a Lei dos 60 dias (75%) , necessidade de refazer exames de estadiamento (52%), preocupação com a comunicação com a equipe médica (52%), transporte (42%), dificuldade de obter consulta de risco cirúrgico (12%), filas para tratamento cirúrgico (12%) e dificuldade de inserção no sistema de regulação na atenção básica (11%). O PNP teve 100% de satisfação das pacientes e em 52% dos casos ajudou as pacientes a iniciar o tratamento dentro do prazo estabelecido por lei.
“O PNP no Rio de Janeiro gerou uma experiência positiva para os pacientes no sistema público de saúde, porque é um processo intencional e proativo de auxilio individual através do sistema de saúde, acessando serviços e superando ativamente as barreiras para um atendimento de qualidade”, observou Sandra.
O PNP Rio não alcançou a taxa de sucesso de 70% de cumprimento da Lei como pretendida (atingido 52%). No entanto, as barreiras que a PN não consegue superar, como a falta de recursos humanos e suprimentos médicos, foram informadas às autoridades de saúde e aos administradores hospitalares. “Esta é uma oportunidade para a discussão da realocação de fundos, concentrando-se no uso de recursos escassos na prevenção e no tratamento precoce, em vez de doenças em estágio avançado. No contexto brasileiro, o PNP pode representar uma oportunidade para implementar adequadamente a legislação existente e, como tal, teria um grande potencial de integração nos sistemas de saúde federais, estaduais e locais”, concluiu.
Referência: The value of patient navigation in breast cancer being tested in Rio de Janeiro, Brazil - Gioia S, Torres C, Cavalcanti J, Brigagao L, Proencio T, Krush L, Goss P Brazilian National Cancer Institute, Rio de Janeiro, Brazil; Rio Imagem, Rio de Janeiro, Brazil; Global Cancer Institute, Boston, MA