A cirurgia foi associada a maiores taxas de sobrevida para pacientes com câncer de mama HER2-positivo estádio IV em comparação com aqueles que não foram submetidos ao procedimento. Os dados são de estudo apresentado na AACR 2019.
Entre 20 e 30% de todos os casos diagnosticados com câncer de mama estádio 4 são HER2+, explicou o principal autor do estudo, Ross Mudgway, estudante de medicina da Universidade da Califórnia, Riverside School of Medicine. “Nos últimos anos, a maioria dos pacientes com câncer de mama HER2+ foi tratada com terapia sistêmica, que pode incluir quimioterapia, terapia-alvo ou terapia hormonal. Às vezes, a cirurgia é oferecida a esses pacientes, mas pesquisas anteriores sobre o impacto da cirurgia na melhora da sobrevida produziram resultados mistos”, disse Mudgway.
Mudgway e o autor sênior do trabalho, Sharon Lum, professor do Departamento de Cirurgia-Divisão de Oncologia Cirúrgica e diretor médico do Centro de Saúde da Mama, Loma Linda University Health, observaram que o status HER2 foi relatado em grandes conjuntos de registro de dados desde o início dos anos 2000 , mas o impacto da cirurgia nesse tipo de câncer de mama não foi bem documentado.
Para investigar o impacto da ressecção do tumor primário na sobrevida em pacientes com câncer de mama HER2 + estádio IV na era da terapia-alvo anti-HER2, eles realizaram um estudo de coorte retrospectivo de 3.231 mulheres com a doença, usando registros do National Cancer Database de 2010 (quando começou o relato obrigatório de HER2) a 2012.
Entre as 3.231 pacientes, 71,3% eram brancas não-hispânicas; 18,4%, negras não-hispânicas; e 5,8% hispânicas. Metástase óssea foi observada em 25% dos casos. O tratamento incluiu quimio/terapia-alvo em 89,4%; terapia endócrina, em 37,7%; e radioterapia em 31,8%. No total, 1.130 (35%) foram submetidas à cirurgia primária e 2.101 (65%) não foram operadas.
O Hazard ratio para mortalidade global foi significativamente associada ao seguro (Medicare/outro governo vs nenhum / Medicaid, HR 0,36, p <0,0001), recebimento de quimioterapia/imunoterapia (HR 0,76, p = 0,008), terapia endócrina (HR 0,70, p = 0,0006), e radioterapia (HR 1,33, p = 0,0009), etnia não hispânica negra vs branca (HR 1,39, p = 0,002), metástase visceral vs apenas óssea (HR 1,44, p = 0,0003), e maior ou menor renda (HR 1,36, p = 0,01).
Comorbidades, tamanho do tumor e status nodal não foram associados à sobrevida. A análise do escore de propensão mostrou que a cirurgia foi associada à melhora da sobrevida versus ausência de cirurgia (HR 0,56, IC 95% 0,40-0,77).
"Os resultados sugerem que, além dos terapias-alvo padrão direcionadas ao HER2 e outras terapias adjuvantes, se uma mulher tem câncer de mama HER2+ estádio IV, a cirurgia para remover o tumor primário da mama deve ser considerada", disse Lum.
Para os autores, vários fatores podem contribuir para a decisão de um médico em recomendar cirurgia, incluindo comorbidades, resposta a outras formas de tratamento e expectativa de vida global. Eles disseram que essas descobertas devem ser consideradas no contexto de todos os outros fatores. "Para as pacientes, a decisão de passar por uma cirurgia de mama, especialmente uma mastectomia, pode muitas vezes ser uma mudança de vida, pois afeta a saúde física e emocional. Os sentimentos da paciente, se ela deseja ou não ser operada, devem ser considerados", ressaltaram.
Lum observou que este é um estudo retrospectivo e pode não ser totalmente representativo das mulheres que enfrentam a decisão de fazer uma cirurgia. Por exemplo, ela observou que os médicos podem estar mais dispostos a operar mulheres que são saudáveis no geral e, portanto, mais propensas a ter um resultado positivo. Mais pesquisas seriam necessárias para confirmar o benefício de sobrevida sugerido por este estudo.
O estudo foi financiado pelo Departamento de Cirurgia da Loma Linda University.
Referência: The impact of primary tumor surgery on survival in HER2 positive stage IV breast cancer patients in the current era of targeted therapy - Ross Mudgway