Quimioterapia intraperitoneal hipertermia (HIPEC) adjuvante com oxaliplatina parece não melhorar a sobrevivência livre de metástases peritoneais, segundo dados preliminares do estudo multicêntrico holandês COLOPEC1, apresentados em sessão oral sábado, 19 de janeiro, durante o ASCO GI 2019. “Estes resultados negativos se alinham aos inesperados achados dos estudos franceses PROPHYLOCHIP2 (NTC01226394) e PRODIGE 73 (NCT00769405) apresentados na ASCO 2018, que em conjunto têm servido para desfavorecer a utilização de HIPEC no cenário do câncer colorretal”, observou Thales P. Batista (foto), cirurgião oncológico do Real Instituto de Cirurgia Oncológica (RICO/RHP) e membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
Como apontado pelos autores, pacientes com câncer de cólon T4 ou tumores perfurados têm alto risco (~ 25%) para o desenvolvimento de metástases peritoneais (PM). Além disto, a sensibilidade dos exames de imagem para detecção de PM é limitada e a maioria dos pacientes acabam diagnosticados em um cenário paliativo, o que fornece uma justificativa para a utilização de HIPEC.
Neste estudo, os pesquisadores buscaram determinar a eficácia da HIPEC adjuvante na redução do risco de metástases peritoneais. Em seu desenho, pacientes com câncer de cólon T4 (seja cT4 ou pT4, N0-2, M0) ou perfurado que haviam sido submetidos à ressecção curativa foram randomizados (1:1) para tratamento com ou sem HIPEC adjuvante junto aos regimes de quimioterapia sistêmica adjuvante habituais.
A HIPEC adjuvante com oxaliplatina foi realizada simultaneamente (9%) ou dentro de cinco a oito semanas (91%) após a ressecção do tumor primário. Pacientes sem evidência de doença recorrente aos 18 meses com base na tomografia computadorizada foram submetidos à laparoscopia diagnóstica em ambos os braços. O desfecho primário foi a sobrevida livre de metástases peritoneais (PMFS) aos 18 meses, utilizando a análise de Kaplan Meier.
Entre abril de 2015 e janeiro de 2017, 204 pacientes foram randomizados: 102 no braço controle (0 desistências), 102 no braço experimental (dois desistentes). A exploração cirúrgica no início dos procedimentos de HIPEC não-simultâneos revelaram metástases em 11 pacientes (PM em 9/11) no braço experimental, e a HIPEC adjuvante não foi aplicada.
No braço controle, a quimioterapia sistêmica adjuvante foi administrada em 89/100 pacientes elegíveis após mediana de 6 semanas (IQR 5-7), e em 84/89 após 10 semanas (IQR 9-12) no braço experimental. Após 18 meses de follow-up, a frequência de PM foi de 22/102 e 18/100, respectivamente. Na análise ITT não foi observada diferença estatisticamente significante na PMFS em 18 meses, com taxas de 77% (controle) versus 81% (experimental), HR 0,836 (0,489-1,428). Além disso, nenhuma diferença foi observada em termos de sobrevida livre de doença (HR 1.016 (0.646-1.598)) ou sobrevida global (HR 1.139 (0.532-2.439)) aos 18 meses. Um dos pacientes, ainda, desenvolveu esclerose peritoneal encapsulaste após a realização de HIPEC.
"A HIPEC adjuvante com oxaliplatina para pacientes com câncer de cólon T4 ou perfurado não resultou em melhora da sobrevida livre de metástases peritoneais em 18 meses", mas "resultados de longo prazo ainda precisam ser aguardados para que se defina o papel da HIPEC no cenário adjuvante", concluíram os autores.
Informação do ensaio clínico: NCT02231086
Referências:
1 - Adjuvant HIPEC in patients with colon cancer at high risk of peritoneal metastases: Primary outcome of the COLOPEC multicenter randomized trial - J Clin Oncol 37, 2019 (suppl 4; abstr 482) - Charlotte Emma Louise Klaver,
2 - Results of a randomized phase 3 study evaluating the potential benefit of a second-look surgery plus HIPEC in patients at high risk of developing colorectal peritoneal metastases (PROPHYLOCHIP- NTC01226394) - J Clin Oncol 36, 2018 (suppl; abstr 3531) - Diane Goeri
3 - A UNICANCER phase III trial of hyperthermic intra-peritoneal chemotherapy (HIPEC) for colorectal peritoneal carcinomatosis (PC): PRODIGE 7 - J Clin Oncol 36, 2018 (suppl; abstr LBA3503) - François Quenet