Onconews - Eficácia do transplante autólogo em idosos com mieloma múltiplo

IDOSO PACIENTE NET OKEmbora o transplante autólogo de células hematopoiéticas (TCTH) seja um tratamento eficaz para o mieloma múltiplo, apenas quatro em cada 10 pacientes recebem essa terapia. Um novo estudo apresentado na ASH 2019, em Orlando, mostra que o TCTH é seguro e eficaz em pacientes mais idosos e sugere que mais pessoas poderiam se beneficiar da terapia.

As pessoas idosas são frequentemente excluídas dos ensaios clínicos que estudam o transplante porque tendem a ter um número maior de comorbidades. Sem ensaios comprovando que tratamentos mais recentes e agressivos são seguros para pacientes mais velhos, os médicos geralmente evitam assumir o risco. Além de mostrar que o TCTH é seguro e eficaz em pacientes com mais de 70 anos, os pesquisadores também descobriram que os pacientes tiveram melhores resultados com a quimioterapia condicionante melfalan na dose normal de 200 mg/m2, em vez da dose reduzida de 140 mg/m2, frequentemente administrada a pacientes mais velhos.

"Este estudo mostra que você pode realizar esses transplantes com segurança em pacientes mais velhos, e que esses pacientes obtêm os mesmos benefícios desses tratamentos que os mais jovens", disse a principal autora do estudo, Anita D´Souza, da Faculdade de Medicina de Wisconsin. "Além disso, se não houver contraindicações além da idade, vale a pena tentar a dose mais alta de melfalano. Só a idade não deve ser uma razão para reduzir automaticamente a dose”, acrescenta.

O estudo também reforça o argumento de que as pessoas não devem ser excluídas dos ensaios clínicos com base apenas na idade, observa Anita. O mieloma múltiplo é o segundo câncer de sangue mais comum e ocorre com mais frequência em adultos mais velhos. Metade dos pacientes tem 70 anos ou mais no momento do diagnóstico.

Usando o banco de dados do Center for International Blood and Marrow Transplant Research, os pesquisadores examinaram os registros de saúde de aproximadamente 16 mil pacientes que receberam TCTH com melfalano nos Estados Unidos entre 2013-2017. Após o ajuste para fatores como status funcional, comorbidades e estágio da doença, eles descobriram que os pacientes que receberam seus tratamentos aos 70 anos ou mais apresentaram taxas semelhantes de recidiva ou progressão da doença, sobrevida livre de progressão e morte não causada por uma recidiva do câncer em comparação com pacientes entre 60 e 69 anos de idade.

Dos pacientes com 70 anos ou mais, cerca de 40% receberam a dose completa de melfalano e 60% receberam uma dose reduzida. Aqueles que receberam a dose reduzida tiveram resultados significativamente piores e menores taxas de sobrevida. No entanto, Anita observou que é impossível determinar se esses pacientes também eram mais frágeis, condição em que seus piores resultados não estariam necessariamente relacionados à redução da dose.

Embora os especialistas frequentemente apoiem ​​o uso de TCTH em pacientes idosos saudáveis, Anita disse que oncologistas em hospitais comunitários onde muitos pacientes são tratados pela primeira vez geralmente não conseguem encaminhar pacientes mais velhos para centros de transplante. Os pesquisadores observaram um aumento significativo na proporção de pacientes idosos que receberam TCTH em 2017 em comparação a 2013, sugerindo que os encaminhamentos aumentaram ao longo do tempo.

Além das disparidades etárias, o estudo também revela importantes disparidades raciais no tratamento do mieloma. O mieloma é duas vezes mais comum em afro-americanos do que em brancos, mas as taxas de TCTH são significativamente mais baixas entre os pacientes negros. “A idade provavelmente é mais uma barreira para esses pacientes”, observa Anita.

Referência: #782 Breaking the Glass Ceiling of Age in Transplant in Multiple Myeloma