Onconews - ESMO 2019 debate custo e valor no tratamento do câncer

FARMACOECONOMIA ON6 NET OKDois estudos destacados na ESMO 2019 reacendem o debate sobre custo e valor no tratamento do câncer. A conclusão dos trabalhos indica que muitos dos novos medicamentos anticâncer agregam pouco valor aos pacientes comparados ao padrão de tratamento e raramente valem o custo adicional quando se considera o benefício clínico.

Os estudos procuraram avaliar os custos mensais de medicamentos introduzidos nos últimos 10 a 15 anos para o tratamento de tumores sólidos, correlacionando os valores aos escores de benefício clínico, que inclui critérios como sobrevida e qualidade de vida versus tratamento padrão. "A maioria dos novos medicamentos contra o câncer apresentou baixo valor agregado, o que significa que médicos e pacientes não deveriam assumir que um medicamento novo será melhor”, disse Marc Rodwin, da Faculdade de Direito da Universidade de Suffolk, em Boston, EUA, co-autor de um dos estudos1.

Neste estudo, quase metade dos novos medicamentos aprovados na Europa entre 2004 e 2017 para o tratamento de tumores sólidos apresentou escores de baixo valor agregado na escala de magnitude de benefício clínico da ESMO (ESMO-MCBS), e mais de dois terços apresentaram baixo valor agregado na escala de Classificação de Benefícios Terapêuticos Adicionados (ASMR) usada pelos reguladores franceses de medicamentos. Em média, os custos dos novos medicamentos foram de € 2.525 por mês a mais do que os medicamentos comparadores para o mesmo tipo de câncer. “Este foi o primeiro estudo na França a correlacionar preços com escalas de valor agregado e mostrou uma fraca ligação entre custo e valor”, afirmou Rodwin.

No segundo estudo, que considerou medicamentos aprovados para tumores sólidos nos Estados Unidos e em quatro países europeus entre 2009 e 2017, não houve ligação entre o custo dos medicamentos e o benefício clínico medido pela ESMO-MCBS e pela escala da ASCO2. No geral, os preços médios dos medicamentos contra o câncer na Europa foram inferiores à metade dos preços nos EUA. O custo médio mensal dos medicamentos com baixa pontuação de benefício na escala ESMO-MCBS variou de US $ 4.361-5.273 nos países europeus em comparação com US $ 12.436 nos EUA.

“Os custos dos medicamentos não foram associados à pontuação de benefício clínico em nenhum dos países que analisamos. Alguns dos medicamentos mais caros para câncer de próstata e pulmão na Suíça tiveram escores mais baixos na escala ESMO-MCBS, enquanto os mais baratos tiveram pontuações mais altas”, disse o co-autor do estudo, Kerstin Vokinger, da Universidade de Zurique, Suíça. “É importante que os preços dos medicamentos estejam alinhados com o valor clínico e que nossos recursos limitados sejam gastos em medicamentos inovadores que realmente oferecem melhores resultados", acrescentou.

As novas pesquisas destacam a crescente importância da escala ESMO-MCBS na prática clínica, como ferramenta para auxiliar médicos e pacientes em discussões e decisões sobre tratamento. “A escala ESMO-MCBS é muito fácil de usar e qualquer pessoa pode entrar on-line para verificar a pontuação de medicamentos contra o câncer e entender os critérios usados ​​para avaliar o benefício clínico. É muito importante ter essa pontuação validada não apenas para a tomada de decisões clínicas, mas também para influenciar as decisões de reembolso e reduzir as disparidades de tratamento”, disse Barbara Kiesewetter, da Universidade de Viena, Áustria, e membro do ESMO-MCBS Working Group. Podemos usar a escala ESMO-MCBS para demonstrar claramente quais medicamentos oferecem maior benefício. Assim, esperamos melhorar o acesso aos medicamentos de maior valor agregado”, concluiu.

Referências:

1 - Abstract 1629O_PR ‘The price of added value for new anti-cancer drugs in France 2004-17’ - P. Marino et al, Annals of Oncology, Volume 30, Supplement 5, October 2019. P. Marino et al

2 - Abstract 1631PD_PR ‘Clinical benefit and prices of cancer drugs in the US and Europe’ Annals of Oncology, Volume 30, Supplement 5, October 2019