Estudo apresentado na ESMO 2019 por Marcos Camandaroba (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, buscou comparar o tempo para alcançar resposta completa entre pacientes com carcinoma espinocelular de canal anal HIV-positivo e HIV-negativo, bem como os resultados de acordo com o regime de quimioterapia (Nigro vs ACT2).
O tratamento definitivo para pacientes com carcinoma espinocelular de canal anal (SCCAC) localizado é a quimiorradioterapia (ChRT) em combinação com 5-FU infusional. “Em 2018 publicamos uma meta-análise que evidenciou uma pior sobrevida livre de doença em 3 anos e uma maior toxicidade do tratamento nos pacientes HIV-positivo com câncer anal em comparação com pacientes HIV-negativo. No entanto, o baixo número de pacientes HIV-positivo nesses trabalhos e tempos curtos de acompanhamento podem ter subestimado a verdadeira taxa de resposta desses pacientes”, explicou Camandaroba.
Nesse estudo, os pesquisadores avaliaram a taxa de resposta de completa e o tempo para resposta completa de acordo com o regime de quimioterapia através de um estudo retrospectivo e multicêntrico (AC Camargo Cancer e o Hospital Bonorino Udaondo- Argentina). As características e os resultados de pacientes foram comparados de acordo com o status de HIV. O endpoint primário foi a taxa de resposta completa definida pela ausência de evidência clínica e radiológica da doença.
Resultados
Foram incluídos 179 pacientes com SCCA: 43 (24%) eram HIV-positivos e 136 (76%) HIV-negativos. Os pacientes HIV-positivos eram mais comumente homens: 28 (65%) vs 24 (17,6%) (p <0,001) e tinham estágio clínico III: 22 (51%) vs 60 (44%). A taxa de resposta completa não foi diferente entre os grupos 74,4% HIV-positivo vs 83,1% HIV-negativo, independente da utilização do esquema de tratamento mitomicina vs cisplatina (P=0,206).
Entre os pacientes que atingiram resposta completa (N = 145), as taxas de resposta completa para pacientes HIV-positivos versus negativos foram, respectivamente: 32,5% vs 67% na avaliação de 6 meses e 41,8% vs 16,1% após 6 meses (6 a 18 meses) pós ChRT (p <0,001). Mais pacientes HIV-positivos foram submetidos a cirurgia de resgate: 14 (35,2%) vs 21 (15,4%) (p <0,01). As taxas gerais de resposta completa de pacientes HIV-positivos foram 71,4% (10 em 14) com ACT2 e 63% (14 em 22) com Nigro. Para pacientes HIV-negativo, as taxas de resposta completa foram 90,3% (28 em 31) para o ACT2 e 80,2% (73 em 91) para Nigro.
“Estes dados evidenciam um maior atraso para resposta completa em pacientes HIV-positivo com câncer anal. Por isso, um acompanhamento clínico radiológico mais prolongado desses pacientes pode prevenir amputações anorretais desnecessárias”, concluíram os autores.
Referência: 537P Timing to achieve complete response (CR) after definitive chemoradiotherapy (ChRT) in patients with squamous cell carcinoma of the anal (SCCAC) with and without HIV infection: A multicenter retrospective study - M.P.G. Camandaroba et al