Onconews - Implicações da classificação da OMS 2017 no tratamento dos tumores neuroendócrinos grau 3

juliana rego semana 2019 bx 2Há implicações da nova classificação da Organização Mundial de Saúde (WHO 2017) no tratamento dos tumores neuroendócrinos grau 3 (TNEs G3)? A questão foi tema da apresentação da oncologista Juliana Florinda Rêgo (foto), diretora do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, durante a II Semana Brasileira da Oncologia.

Por Juliana Florinda Rêgo

De acordo com os dados atualizados pela Organização Mundial de Saúde em 2017, a classificação dos tumores neuroendócrinos (TNE) gastroenteropancreáticos deve ser feita da seguinte forma: tumor neuroendócrino grau 1 (bem diferenciado com Ki-67 < 3% e índice mitótico < 2/ 50 CGA); tumor neuroendócrino grau 2 (bem diferenciado com Ki-67 3 - 20% ou índice mitótico de 2 a 20/ 50 CGA); tumor neuroendócrino grau 3 (bem diferenciado com Ki-67 > 20% ou índice mitótico > 20/ 50 CGA); e carcinoma neuroendócrino grau 3 (pouco diferenciado com Ki-67 > 20% ou índice mitótico > 20/ 50 CGA).1

A subdivisão do grupo G3 em tumor neuroendócrino (TNE) e carcinoma neuroendócrino (CNE) decorre da diferenciação celular e do comportamento clínico observado nos dois grupos. Os TNEs G3 são tumores bem diferenciados, geralmente com captação ao PET com Gálio-68, com alterações moleculares (perda de expressão de ATRX ou DAXX) diferentes daquelas encontradas nos CNE G3 (expressão anômala de p53 e Rb), além de apresentaram uma maior sobrevida global. Já os CNE G3 são pouco diferenciados, apresentam comportamento agressivo e sobrevida global inferior a um ano na maioria dos casos, geralmente sem captação ao PET com Gálio-68 e forte captação ao PET com FDG.2

Esta nova classificação do grupo G3 impacta diretamente na escolha terapêutica. Algumas séries mostram resultados animadores do uso da terapia alvo molecular nos TNE G3, tendo sido observada uma sobrevida global de 28 meses em uma série que fez uso de everolimo3 e resultados semelhantes ao grupo G2 em outra série na qual foi utilizado sunitinibe4. Além disso, estudo retrospectivo analisou o tratamento com Lutécio radioativo nos tumores G3, mostrando sobrevida livre de progressão e sobrevida global de 19 meses e 44 meses nos TNEs G3 e de 8 meses e 19 meses nos CNEs G3.

Desta forma, nos TNEs G3 as melhores opções de tratamento parecem ser aquelas direcionadas para tumores bem diferenciados, como biológicos, radioisótopos e quimioterapia baseada em temozolamida, devendo a escolha ser individualizada de acordo com a necessidade de taxa de resposta do paciente. Já nos CNEs G3 o principal tratamento continua sendo a quimioterapia baseada em platina.           

Referências:

1 - Lioyd RV OR, Klopple G, et al. WHO Classification of Tumours of Endocrine Organs. WHO/ IARC Classification of Tumours, 4th Edition, Vol 10 2017 

2 - Ueda Y, Toyama H, Fukumoto T, Ku Y. Prognosis of patients with neuroendocrine neoplasms of the pancreas according to the World Health Organization 2017 classification. JOP 2017;S(3):216–220. 

3 - Panzuto F, Rinzivillo M, Spada F, et al. Everolimus in Pancreatic Neuroendocrine Carcinomas G3. Pancreas. 2017 Mar;46(3):302-305. 

4 - Mizuno Y, Kudo A, Akashi T, et al. Sunitinib shrinks NET-G3 pancreatic neuroendocrine neoplasms. Journal of Cancer Research and Clinical Oncology [30 Mar 2018, 144(6):1155-1163] 

5 - Skovgaard D, Fazio N, Granberg D, et al. Peptide Receptor Radionuclide Therapy (PRRT) in Gastroenteropancreatic Grade 3 Neuroendocrine Neoplasms: A Retrospective International Multicenter Study. 15th Annual ENETS conference (2018) 

6 - Ivan Kruljac, Ulrich-Frank Pape. The classification of neuroendocrine neoplasms: "Neuroendocrine carcinomas" revisited – a 2017 update and future perspectives. Endocr Oncol Metab 2017; Volume 3, Issue 2