Em apresentação na II Semana Nacional da Oncologia, o mastologista Eduardo Millen (foto), presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional Rio de Janeiro - analisa quando indicar QT Neo e mostra que pacientes podem se beneficiar da conservação da mama e axila, com vantagens em sobrevida global e sobrevida livre de doença.
Por Eduardo Millen, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional Rio de Janeiro
Os diferentes tipos moleculares de tumores de mama apresentam respostas variadas aos diferentes tratamentos. Sabe-se que os tumores Her -2 enriquecidos e os triplos negativos (TN) apresentam maior possibilidade de resposta patológica completa (RpC) à quimioterapia que os tumores luminais.
A primeira questão a ser considerada é se a paciente é indubitavelmente candidata à quimioterapia. Excetuando-se os tumores localmente avançados, inicialmente inoperáveis, tende-se cada vez mais a identificar pacientes com tumores operáveis que possam beneficiar-se da quimioterapia como primeiro tratamento (QT Neoadjuvante).
A decisão sobre a estratégia inicial a ser empregada, entre cirurgia e QT Neo, preferencialmente deve ser realizada sob o cuidado de uma equipe multidisciplinar, que envolva o cirurgião, o radio-oncologista e o oncologista clínico, de forma que todos os cuidados sejam realizados para obter o maior benefício. Estes cuidados envolvem desde a seleção da paciente, avaliação radiológica da mama com mamografia, US mamas e ressonância magnética (RM), além da marcação do tumor com clipe. A ultrassonografia axilar com punção dos linfonodos suspeitos é recomendada para estadiamento pré QT e programação da radioterapia axilar nos casos onde comprovou-se metástase linfonodal, mesmo diante de resposta patológica completa em mama e/ou axila. (ypN+ - ypN0).
Desta forma a QT Neo pode apresentar-se como melhor opção nos tumores TN e Her 2, onde se observam taxas de resposta patológica completa em mais da metade das vezes. Os tumores luminais apresentam taxa de resposta completa em apenas 13% dos casos.
A Segurança da QT Neo já foi demonstrada em estudos anteriores, conforme detalha a meta-análise do Early Breast Cancer Trialist Collaborative Group (EBCTG). De forma geral, mostrou-se tão eficaz quanto a estratégia adjuvante. Os estudos incluídos nesta meta-análise com 4756 pacientes não incluíram pacientes tratados com AC monoclonais (Traztuzumabe e pertuzumab) para tumores Her 2, assim como regimes de QT não ideais do ponto de vista atual. A mesma meta-análise demonstrou aumento de 16% da indicação de cirurgia conservadora no grupo submetido a QT Neo, comparado a QT adjuvante, porém com aumento de recorrências de 4,5% no grupo QT Neo. Atribuiu-se o aumento de recorrência neste grupo à inclusão de pacientes com resposta completa que não foram operadas, ausência de marcação do leito tumoral e uso de estratégias antigas de quimioterapia.
O estudo Create X demonstrou aumento de sobrevida global de 8% nas pacientes com tumores triplo negativo que não obtiveram RpC e receberam capecitabina, quando comparadas àquelas que receberam placebo. De forma semelhante, o estudo Katherin demonstrou aumento de 11% em 3 anos de “invasive disease free survival”em pacientes Her 2 que receberam T-DM1 comparadas àquelas que receberam apenas traztuzumabe adjuvante.
Desta forma, prioriza-se a indicação de QT Neo nestes grupos, onde além da maior possibilidade de conservação da mama e axila pode-se obter vantagens em sobrevida global (TN) e sobrevida livre de doença.