Resultados de seis anos do estudo APHINITY demonstram que a adição de pertuzumabe ao esquema de trastuzumabe mais quimioterapia adjuvante continua a reduzir o risco de recorrência e morte em pacientes com câncer de mama inicial HER2+. A atualização foi apresentada no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019 por Martine Piccart (foto), co-fundadora do Breast International Group (BIG) e diretora científica do Institut Jules Bordet, em Bruxelas.
Em agosto de 2013, o estudo APHINITY randomizou 2.400 pacientes para receber pertuzumabe e 2.405 pacientes para o grupo placebo-controle. A data do corte de dados, em 19 de junho de 2019, correspondeu a um tempo médio de 74,1 meses. Com os dados atualizados após esse período de acompanhamento, Piccart e colegas mostram que a adição de pertuzumabe reduziu em 24% o risco relativo de recorrência do câncer de mama ou morte na comparação com placebo.
Resultados já reportados após seguimento médio de 45, 4 meses mostraram ganho na sobrevida livre de doença invasiva (IDFS, na sigla em inglês). Na população com intenção de tratar (ITT), as estimativas de IDFS em três anos foram de 94,1% no grupo pertuzumabe e de 93,2% no grupo placebo ([HR]= 0,81; intervalo de confiança de 95% [IC], 0,66 a 1,00; P = 0,045), com redução relativa de 19% no risco de recorrência. O benefício foi mais acentuado em pacientes com doença nodal, com HR de 0,77 (IC 95% 0,62-0,96) e naqueles com doença receptor hormonal negativa, onde a taxa de risco foi de 0,76 (IC 95% 0,56-1,04). Com base nesses resultados, pertuzumabe em combinação com trastuzumabe foi aprovado na adjuvância para pacientes com câncer de mama inicial HER2+ de alto risco.
Agora, os dados atualizados apresentados no SABCS 2019 mostram que 125 mortes (5,2%) foram registradas no braço pertuzumabe versus 147 no braço controle (6,1%), mas não foi alcançada significância estatística para sobrevida global (SG) nesta análise interina, com HR= 0.85 [95% CI 0.67-1.07 (p=0.17)]. A SG em 6 anos foi de 94,8% no braço pertuzumabe vs 93,9% no braço controle.
Os resultados de IDFS com base em 508 eventos na população ITT confirmam o benefício da adição de pertuzumabe, com HR= 0,76 [IC 95% 0,64-0,91]. Em 6 anos, a taxa de IDFS foi de 90,6% vs 87,8% (diferença de 2,8%). “A diferença se deve principalmente à redução nas recaídas distantes (5,9% vs 7,7%) e loco-regionais (1,2% vs 2,0%)”, descrevem os autores.
A coorte com status nodal positivo continua a obter benefícios mais pronunciados da adição de pertuzumabe (P: 0,72 (IC 95% 0,59-0,87). Em 6 anos, o benefício de IDFS foi de 4,5% [87,9% vs 83,4%]. Na coorte com status nodal negativo, a taxa de risco de IDFS foi de 1,02 (IC 95%; 0,69-1,53). Com acompanhamento mais prolongado também foi observado benefício do tratamento com pertuzumabe na coorte de pacientes com status positivo de receptores hormonais (RH+). Nessa população, a taxa de risco de IDFS foi de 0,73 (IC 95% 0,59 -0,92), enquanto a taxa de risco de IDFS para pacientes com status negativo do receptor hormonal foi de 0,83 (IC 95% 0,63 -1,10).
Em relação ao perfil de segurança, a incidência de eventos cardíacos primários permaneceu inferior a 1% em ambos os braços (0,8% no braço do pertuzumabe versus 0,3% no braço controle).
“Os resultados dessa análise interina reforçam as evidências de que a adição de pertuzumabe ao esquema de trastuzumabe e quimioterapia adjuvante reduz o risco de recorrência da doença em pacientes com câncer de mama HER2+ ", disse Piccart. No entanto, dados de sobrevida global não mostraram benefícios. “Uma das principais limitações do ensaio APHINITY é que, embora tenhamos visto menos mortes entre os pacientes que receberam pertuzumabe, nossos dados ainda são imaturos e não mostraram melhora definitiva na sobrevida global. É necessário acompanhamento mais prolongado para obter algum benefício significativo de sobrevida ”, acrescentou a especialista.
A próxima análise interina está agendada para 2022 (Abstract GS1-04).
O estudo é financiado pela Roche e está registrado na plataforma Clinical Trials (ClinicalTrials.gov Identifier: NCT0135887).
Referência: Updated APHINITY Trial Data Show Addition of Pertuzumab to Trastuzumab Plus Chemotherapy Continues to Yield Clinical Benefit in Patients With Operable HER2-positive Early Breast Cancer - Martine Piccart et al