Fernando Conrado Abrão (foto) é primeiro autor de estudo brasileiro apresentado na WCLC 2019 que buscou identificar fatores associados à recorrência do derrame pleural maligno em pacientes sintomáticos que necessitaram de abordagem pleural.
O derrame pleural maligno (PME, do inglês Pleural Malignant Effusion) é responsável por várias internações hospitalares e está associado à baixa sobrevida. Como o PME se repete em um número considerável de pacientes, um prognóstico detalhado pode ajudar a reconhecer pacientes com maior risco de recorrência, com o objetivo de individualizar estratégias de tratamento.
Um banco de dados montado prospectivamente foi analisado para procurar pacientes com PME sintomático. Os dados obtidos incluíram informações demográficas, localização primária do tumor, status de desempenho, razão neutrófilos / linfócitos (RNL) e razão plaquetas / linfócitos. Os sítios metastáticos também foram avaliados, definidos como presença de qualquer número de metástases em cada órgão.
Em relação ao pós-operatório, o estudo analisou a recorrência do derrame pleural, a abordagem paliativa utilizada, além do perfil bioquímico do líquido pleural.
Espessamento pleural e infiltrado pulmonar também foram descritos, assim como o tratamento sistêmico. Os pacientes foram classificados em três grupos no diagnóstico de PME: pacientes sem tratamento sistêmico, pacientes que receberam tratamento sistêmico de primeira linha e pacientes em tratamento sistêmico de segunda linha ou terapia adicional.
As variáveis quantitativas sem pontos de corte definidos foram submetidas à curva ROC (Receiver Operating Characteristic), utilizando uma subamostra de 50% dos casos registrados. Os pontos de corte foram definidos como aqueles com valores de sensibilidade e especificidade > 0,80. Modelos de regressão Cox univariados e múltiplos foram utilizados para avaliar o risco de recorrência (FC) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).
Resultados
Dos 288 pacientes analisados, o procedimento mais frequente foi a pleurodese (43,1%). A recorrência da doença ocorreu em 58 pacientes (20,1%). A sobrevida livre de recorrência foi de 73,3% em 12 meses. Os pacientes submetidos à pleurodese tiveram sobrevida livre de recidiva mais prolongada, de 84,6%, com FC = 0,33 (IC95% = 0,17 - 0,63) quando comparados aos pacientes submetidos à drenagem pleural.
Em relação às linhas de quimioterapia, a análise univariada de Cox mostrou que o risco de recorrência para aqueles submetidos à 1ª linha de TC paliativa foi de FC = 3,19 (IC 95% = 1,32 - 7,70) e para a 2ª linha de TC paliativa de FC = 7,32 (IC95% = 3,34 - 16,07) quando comparados aos pacientes sem tratamento sistêmico.
Os pacientes submetidos à pleurodese apresentaram fator de proteção para recidiva, com FC = 0,34 (IC 95% = 0,15 - 0,74, p = 0,007). Por outro lado, os pacientes submetidos à 1ª e 2ª linha de TC paliativa apresentaram, respectivamente, risco de FC = 2,81 (IC95% = 1,10-7,28, p = 0,034) e FC = 3,23 (IC95% = 1,33 - 7,84, p = 0,010).
“Os pacientes que recebem primeira ou segunda linha de tratamento sistêmico apresentaram maior risco de recorrência de derrame pleural maligno quando comparados aos pacientes que foram tratados de PME antes de iniciar a terapia sistêmica. O tratamento definitivo de PME, como pleurodese, foi associado a um menor risco de recorrência da PME”, concluiu o estudo.
Referência: P1.16-18 - Pleural Malignant Effusion. Is it Possible to Predict Recurrence After Palliative Pleural Procedure? - Presenting Author(s): Fernando Conrado Abrao | Author(s): Igor Abreu, Mariana Oliveira, Geisa Viana, Riad Younes, Elnara Marcia Negri