Onconews - Terapia de manutenção no câncer de ovário recidivado BRCA-mutado

angelica nogueira 2020 bxCom participação do oncologista Elias Abdo, chefe do Serviço de Oncoginecologia Clínica do ICESP-HCFMUSP, o estudo randomizado de Fase III SOLO2 (ENGOT ov-21; NCT01874353) demonstrou que o tratamento de manutenção com olaparibe (Lynparza®, Astrazeneca) aumentou a sobrevida global em 12,9 meses em comparação com placebo em pacientes com câncer de ovário recidivado sensível à platina BRCA-mutado. Os resultados apresentados em sessão oral no ASCO 2020 representam os primeiros dados de sobrevida global de um inibidor da PARP nesse grupo de pacientes. A oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG), comenta os resultados.

Análises anteriores do SOLO2 mostraram que a terapia de manutenção com olaparibe em pacientes com câncer de ovário recidivado sensível à platina com mutação BRCA conferiu uma melhora estatisticamente significativa na mediana de sobrevida livre de progressão (SLP) de 19,1 meses versus placebo (hazard ratio [HR] 0,30). O tempo para a segunda progressão ou morte melhorou significativamente (Pujade-Lauraine et al Lancet Oncol 2017) e foi observado um benefício de SLP ajustado à qualidade (Friedlander al Lancet Oncol 2018) com olaparibe de manutenção vs placebo. No ASCO 2020 os autores apresentam a análise final pré-planejada de sobrevida global.

O estudo

No estudo multicêntrico, duplo-cego, pacientes com câncer de ovário recidivado sensível à platina (PSROC) com mutação BRCA (BRCAm) que receberam ≥2 linhas de tratamento e responderam à quimioterapia mais recente à base de platina foram randomizadas 2:1 para olaparibe de manutenção (comprimidos de 300 mg bid; n=196) ou placebo (n=99). As pacientes foram estratificadas por resposta à quimioterapia anterior (completa versus parcial) e duração do intervalo livre de platina (> 6 a 12 meses versus> 12 meses).

No cut-off final dos dados (3 de fevereiro de 2020), o acompanhamento médio foi de 65 meses nos dois grupos de tratamento. As pacientes que receberam olaparibe tiveram um risco de morte reduzido em 26% em comparação com placebo (HR 0,74; 95% CI 0,54-1,00) no subgrupo de análise completa (não ajustado para crossover). 38,4% dos pacientes tratados com placebo fizeram crossover para o inibidor da PARP. O perfil de tolerabilidade a longo prazo do olaparibe foi geralmente consistente com o relatado anteriormente.

“Nesta última década ocorreu uma verdadeira revolução na compreensão da biologia molecular do câncer de ovário e sua aplicação no desenvolvimento terapêutico trouxe significativo progresso no tratamento das pacientes”, explica Angélica, médica na clínica DOM Oncologia e professora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A especialista observa que três inibidores de PARP em manutenção sabidamente aumentam a sobrevida livre de progressão de maneira muito significativa neste contexto clínico, mas a ausência de dados de sobrevida global dos estudos até o momento mantinha ainda a incerteza do impacto deste benefício na sequência terapêutica completa. “Os resultados do estudo SOLO 2 dissipam esta insegurança e consolidam o tratamento de manutenção. Além deste robusto ganho em eficácia, os resultados também significam um intervalo sem quimioterapia citotóxica, usualmente muito bem-vindo pelas pacientes”, conclui.

O estudo foi financiado pela AstraZeneca e Merck Sharp & Dohme Corp, uma subsidiária da Merck & Co, Inc.

 

Olaparib
N=196*

Placebo
N=99

Cumulative exposure of ≥5 years, n (%)

43 (22.1)

9 (9.1)

OS events, n (%)

116 (59.2)

65 (65.7)

Median OS, months

51.7

38.8

HR (95% CI)

0.74 (0.54–1.00)

P value

0.0537

OS events in Myriad germline BRCAm subset, n (%)

111/190 (58.4)

64/96 (66.7)

Median OS, months

52.4

37.4

HR (95% CI)

0.71 (0.52–0.97)

P value

0.0306

*Of 196 pts randomized to olaparib (FAS), 195 received treatment

Referência: Abstract #6002: Final overall survival (OS) results from SOLO2/ENGOT-ov21: A phase III trial assessing maintenance olaparib in patients (pts) with platinum-sensitive, relapsed ovarian cancer and a BRCA mutation. - Andres Poveda, Anne Floquet, Jonathan A. Ledermann, Rebecca Asher, Richard T. Penson, Amit M. Oza, Jacob Korach, Tomasz Huzarski, Sandro Pignata, Michael Friedlander, Alessandra Baldoni, Tjoung-Won Park-Simon, Gabe S. Sonke, Alla S. Lisyanskaya, Jae Hoon Kim, Elias A. Filho, Ignace Vergote, Phil Rowe, Eric Pujade-Lauraine

First Author: Andres Poveda, MD
Meeting: 2020 ASCO Virtual Scientific Program
Session Type: Oral Abstract Session
Session Title: Gynecologic Cancer
Abstract #: 6002