Revisão sistemática e meta-análise liderada pelo oncologista Alexandre Jácome (foto), do Grupo Oncoclínicas, avaliou o efeito da adição de bevacizumabe na resposta patológica à terapia pré-operatória de metástases hepáticas de câncer colorretal (CLM). Os resultados foram selecionados para apresentação no ASCO GI 2020, em San Francisco, em sessão de pôster.
A quimioterapia perioperatória e a ressecção de metástases hepáticas de câncer colorretal são terapias potencialmente curativas no tratamento do câncer colorretal metastático. Estudos retrospectivos sugerem que bevacizumabe no pré-operatório aumenta a resposta patológica, um endpoint substituto para a sobrevida global (SG).
"O tratamento peri-operatório de metástases hepáticas colorretais tem potencial curativo e necessita ser aperfeiçoado e revisitado, já que não apresentou avanços nos últimos anos. Apesar dos estudos randomizados não recomendarem a adição de antiangiogênicos à quimioterapia peri-operatória, instituições de excelência adotam essa prática baseado em dados de estudos retrospectivos que demonstram maior taxa de resposta patológica com o uso de bevacizumabe, e melhor sobrevida para este subgrupo de pacientes”, explica Jácome.
Os autores pesquisaram os repositórios científicos PubMed, Cochrane Library, Embase e LILACS para verificar estudos publicados entre janeiro de 2004 e agosto de 2019 que compararam a resposta patológica à quimioterapia mais bevacizumabe versus quimio isolada como terapia pré-operatória de metástases hepáticas de câncer colorretal potencialmente ressecáveis. O endpoint primário foi a resposta patológica completa (pCR). O endpoint secundário foi a resposta major (MaR; células cancerígenas residuais de 0 a 50% ou grau de regressão tumoral (TRG) 1-3 na amostra de fígado). A probabilidade da terapia pré-operatória estar associada a pCR ou MaR foi expressa pelo odds ratio (OR) e intervalos de confiança de 95% (CI) usando um modelo de efeitos randomizados.
Foram selecionados nove estudos entre os 1.319 estudos encontrados, totalizando 1.202 pacientes (516 quimioterapia mais bevacizumabe versus 686 quimioterapia isoladamente). A adição de bevacizumabe à quimioterapia aumentou a taxa de resposta patológica completa, mas não alcançou significância estatística (OR: 1,24, 95% CI 0,81 - 1,92, p = 0,32). No entanto, a MaR foi significativamente superior no grupo bevacizumabe (OR: 2,20, 95% CI 1,47 - 3,29, p <0,001). Uma porcentagem maior de pacientes foi submetida a regimes à base de oxaliplatina no grupo bevacizumabe em comparação com o grupo de quimioterapia isolada (84% versus 68%, p <0,001), enquanto os regimes baseados em irinotecano foram mais comuns no grupo que recebeu apenas quimioterapia (11% versus 28%, p <0,001).
A adição de bevacizumabe à quimioterapia pré-operatória foi associada a maiores taxas de resposta patológica na ressecção hepática de metástases colorretais. Os antiangiogênicos podem potencialmente melhorar a sobrevida livre de recidiva e a sobrevida global no tratamento de CLM potencialmente ressecáveis e devem ser avaliados como terapia pré-operatória em ensaios clínicos randomizados.
“Essa é a primeira meta-análise sobre este tópico que demonstrou a eficácia superior do anti-angiogênico. Nosso estudo não permite mudança de prática clínica, mas nos estimula a desenhar novos estudos clínicos e buscar melhores estratégias de tratamento peri-operatório", conclui o oncologista.
Referência: Abstract #151: Effect of adding bevacizumab to chemotherapy on pathologic response to preoperative systemic therapy of potentially resectable colorectal cancer liver metastases (CLM): A systematic review and meta-analysis - Alexandre A. Jácome, Fernanda A. Oliveira, Flora De Moraes Lino Silva, João Paulo da Silveira Nogueira Lima – Citation:J Clin Oncol 38, 2020 (suppl 4; abstr 151)