O radio-oncologista Daniel Moore F. Palhares (foto), do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, é primeiro autor de estudo que buscou avaliar o benefício da radioterapia estereotáxica (SRT) em pacientes com câncer colorretal oligometastático não candidatos à cirurgia. Os resultados foram apresentados no ASCO GI 2020, em sessão de pôster.
“O câncer colorretal metastático é tratado principalmente com quimioterapia sistêmica, com ou sem terapia-alvo. Pacientes selecionados, com doença oligometastática, podem se beneficiar de abordagens locais, como cirurgia ou radioterapia. Como grande parte dos pacientes são irressecáveis ou inoperáveis, a radioterapia estereotáxica tem ganhado espaço e se mostrado eficaz no tratamento de pacientes com câncer colorretal oligometastático”, explica Daniel.
O estudo retrospectivo avaliou pacientes com câncer colorretal de uma única instituição submetidos à radioterapia estereotáxica para doença oligometastática. O objetivo primário do trabalho foi avaliar se a SRT pode adiar o início da próxima linha de quimioterapia ou aumentar o tempo do paciente em férias de tratamento sistêmico. Esse endpoint tem sido descrito para neoplasias de pulmão, próstata e do trato gastrointestinal com objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente e fazer melhor uso das terapias sistêmicas. O objetivo secundário foi avaliar a sobrevida livre de progressão (PFS), a sobrevida global (OS) e a toxicidade G≥3.
A SRT foi realizada com planejamento 3D (22%) ou IMRT/VMAT (78%). Foram entregues 1-10 frações com o objetivo de manter o BED > 100Gy10. A dose foi diminuída conforme necessário para respeitar o limite de dose dos órgãos em risco e minimizar a toxicidade. A radioterapia foi guiada por imagem em todas as frações.
Resultados
Foram incluídos 32 pacientes que realizaram 46 tratamentos de radioterapia estereotáxica entre setembro de 2014 e julho de 2019. A idade média foi de 56 ± 13 anos, 60% eram mulheres e 65% tinham câncer de cólon.
63% dos pacientes estavam em férias de quimioterapia e 37% estavam em tratamento sistêmico na época da radioterapia. O tratamento de SRT foi realizado em metástases pulmonares (28%), hepáticas (28%), ósseas (13%), linfonodais (13%) e encefálicas (11%). 72% dos pacientes tiveram apenas uma lesão tratada e 70% fizeram um único curso de SRT. Os fracionamentos mais utilizados foram 3 x 10-18Gy (35%), 4 x 10-12Gy (15%) e 5 x 7-10Gy (22%). 37% dos tratamentos tinham BED ≥ 100Gy10 e 17% BED 70-100Gy10.
Com um acompanhamento mediano de 16,1 meses (IQR 8,2-32,7), a mediana de sobrevida livre de início ou troca de tratamento sistêmico foi de 12,7 meses (95% CI 0,8-24,5). Pacientes que realizaram múltiplos cursos de radioterapia estereotáxica tiveram maior intervalo maior entre a progressão da doença e o início da próxima linha de terapia sistêmica (mediana 2,2 vs 12,4 meses). Os pacientes que estavam em férias de quimioterapia antes da SRT apresentaram maior sobrevida livre de início ou troca de terapia sistêmica (HR = 0,24 95% CI 0,1-0,6, p = 0,001), provavelmente devido ao viés de seleção (menor volume de doença). A sobrevida livre de progressão mediana foi de 5,4 meses (95% CI 4,1-11,0). A sobrevida global em três anos foi de 71%, e a mediana não foi alcançada. Não foi registrada nenhuma toxicidade G≥3.
“O tratamento local com radioterapia estereotáxica para câncer colorretal oligometastático mostrou-se viável e seguro, com sobrevida livre de progressão e sobrevida global promissoras, e merece investigação mais aprofundada. A mediana de sobrevida livre de terapia sistêmica superior a um ano sugere que a radioterapia estereotáxica pode influenciar positivamente o tratamento do câncer colorretal oligometastático, com possível impacto na qualidade de vida e até nos custos do tratamento”, concluíram os autores.
Referência: Abstract #154 - Stereotactic radiotherapy (SRT) in oligometastatic (OM) colorectal cancer (CRC): Can we improve systemic therapy (ST) free interval? - Daniel Moore Freitas Palhares, Renata Reis Figueiredo, Katia Regina Marchetti, Allan Andresson Lima Pereira, Marcela Alves Teixeira, Luiza Faria, Brenda Pires Gumz, Rafael Gadia, Gustavo Dos Santos Fernandes - J Clin Oncol 38, 2020 (suppl 4; abstr 154)